Morreu Chester Williams, lenda do râguebi sul-africano que se inspirou em Mandela
Chester Williams, de 49 anos, morreu nesta sexta-feira na Cidade do Cabo, onde residia e trabalhava como treinador de râguebi na Western Cape University, vítima de uma crise cardíaca. Foi o primeiro jogador negro dos Springboks a conquistar o Mundial de Râguebi, em 1995, façanha que foi usada como mote para Nelson Mandela unificar o país e símbolo do final do apartheid.
Chester Williams conheceu Nelson Mandela em 1993, dois anos antes do Mundial de Râguebi na África do Sul. "A sua assistente pessoal, ZeldaLaGrange, telefonou-me. Eu, ao princípio, pensei que era brincadeira. Depois vi que era verdade e ele convidou-me para jantar em sua casa. Gostei muito de estar com ele, eu falei das minhas experiências, ele falou das suas e de como tencionava unir o país", contou ao DN em junho Chester Williams, quando esteve em Portugal para participar no Mandela Legends Cup.
Na sua biografia, em 2002, o Chester Williams dá, porém, uma versão sobre o Mundial de Râguebi de 1995 que não é assim tão romântica. No fim de contas, o que foi genuíno, o que foi puro marketing? "O jogo, em si, foi genuíno, porque nós tínhamos que ganhar para fazer com que o país se tornasse no que é hoje. Não podemos dizer que nada foi genuíno, porque tudo foi tão perfeito para nós sul-africanos: Nelson Mandela a entrar no campo, motivando-nos ao dizer que o país tinha orgulho em nós, a cumprimentar e a agradecer às pessoas, isso foi genuíno. Ele queria fazer isso, unir o país, para que todos vivessem em paz e harmonia na África do Sul. Quando ganhámos o Mundial, celebrámos com ele, agradecemos-lhe por nos ter feito ganhar o campeonato pelo país", disse o sul-africano em entrevista ao DN.
O título foi usado pelo recém-eleito presidente Nelson Mandela justamente para unir um país marcado pela segregação e deu origem ao livro Conquistando o Inimigo, de John Carlin, que por sua vez inspirou o filme Invictus, de Clint Eastwood.
Chester foi o primeiro negro campeão do mundo, mas não foi o primeiro negro a representar a África do Sul. Conhecido como "pérola negra", estreou-se pelos Springboks em 1993, 12 anos depois de o pioneiro, Errol Tobias, o ter feito. Além disso, Avril Williams, precisamente tio de Chester, também representou antes a África do Sul, em 1984. No entanto, nenhum foi tão marcante como Chester Williams, que se inspirava na luta de Madiba no pós apartheid.
Williams estreou-se pela África do Sul em 1993, contra a Argentina, marcando um try. No início, chegou a sofrer preconceito, incluindo dos próprios colegas, mas o talento encarregou-se de suprimir as diferenças para os colegas brancos.
Esteve para não jogar mundial de 1995 por lesão. Falhou as primeiras partidas e foi substituído por Pieter Hendriks, que acabou suspenso após confusão no jogo com o Canadá. Recuperado, Williams voltou e estreou-se na competição contra Samoa, marcando quatro tries e sendo mantido entre os titulares e festejando o título mundial. Despediu-se da seleção em 2000.
No fim da carreira posicionou-se contra o racismo criticando o sistema racial de cotas empregado no râguebi sul-africano.