Bruno de Carvalho admite segundo livro revelador e voltar ao Sporting

Ex-presidente do Sporting apresentou esta sexta-feira o livro "Sem Filtro - As Histórias dos Bastidores da Minha Presidência" na Sala de Âmbito Cultural do El Corte Inglés de Lisboa. E emocionou-se durante o discurso.
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A Sala de Âmbito Cultural do El Corte Inglés de Lisboa foi pequena para acolher tantas pessoas que compareceram na apresentação do livro "Sem Filtro - As Histórias dos Bastidores da Minha Presidência", obra em que Bruno de Carvalho fala dos mais de cinco anos em que esteve na presidência do Sporting. Desde alguns dos que o acompanharam nos seus mandatos, como Alexandre Godinho, Trindade Barros, Subtil de Sousa, Fernando Carvalho aos anónimos, passando pela própria família, foram largas dezenas que fizeram a sala rebentar pelas costuras.

"Foi um projeto bem-sucedido e que me traz algumas saudades. Tenho aqui a minha família... Desculpem por estes cinco anos e meio", afirmou Bruno de Carvalho, visivelmente emocionado, antes de uma salva de palmas de grande parte dos presentes, entre os quais muitos apoiantes com adereços do Sporting ou da fação Leais ao Sporting, aos quais distribuiu autógrafos antes e depois da apresentação.

"Este livro é de leitura indispensável para o que os querem conhecer melhor o Sporting e o futebol português. Trabalhámos muito bem. Foi uma aposta conseguida. Fizeram de tudo para que este livro não fosse possível. É polémico, põe muito a nu, mas só assim é que podia ser. Este livro tem 90% de histórias que nunca tinha contado e a data da apresentação foi escolhida em novembro, quando estávamos a praticar grande futebol e a ter excelentes resultados. Não penso voltar a curto prazo ao Sporting, a longo prazo aprendi a dizer nunca. Acho que tem de haver um "Sem Filtro II". É um livro que fala de personagens como Octávio Machado, de um Jesus de que sou totalmente descrente, de Vieira ou de Jorge Mendes, que me fez sair quatro vezes de um jacuzzi. Sempre que entro num jacuzzi lembro-me de Jorge Mendes", acrescentou, antes de deixar um apelo aos sportinguistas: "Temos de apoiar o Sporting a ultrapassar este péssimo momento, é tempo de nos unirmos."

Numa apresentação em que não houve direito a perguntas por parte dos jornalistas, o escritor Luís Aguilar, que saiu do hospital, onde esteve a soro, diretamente para a apresentação, confessou ter gostado de conhecer Bruno de Carvalho, com o qual trocou palavras menos agradáveis quando este era presidente do Sporting. "Nunca me passou pela cabeça fazer um livro dele. Quando me sugeriram, pensei que era brincadeira. Estive reunido com o Bruno, tivemos uma conversa frontal e ultrapassámos algumas diferenças e havia mais a unir-nos do que a desunir-nos. Gostei muito de conhecer a pessoa", contou.

Já Rui Couceiro, da editora Contraponto, congratulou a forma "como Bruno de Carvalho e Luís Aguilar trabalharam juntos. Eram uma dupla mais ou menos improvável".

Um livro com várias revelações

Bruno de Carvalho reiterou no livro publicado esta sexta-feira a concretização do sonho de presidir ao Sporting, avisando que "vem aí a segunda parte", apesar de estar "a ser goleado por 5-0", sem especificar ao que se refere.

Estes excertos constam no último capítulo de "Sem filtro - As histórias dos bastidores da minha presidência", em que avalia a sua passagem pelo clube, entre 2013 e 2018, quando foi destituído do cargo, em Assembleia Geral.

"A pergunta que faço a mim próprio, neste momento, é se valeu a pena ter de passar por tudo isto devido ao meu amor pelo Sporting", lê-se no subcapítulo "ainda não acabou" do livro, em que recordou o seu percurso de vida.

Bruno de Carvalho, que cumpre um ano de suspensão de sócio do Sporting, reiterou o "muito orgulho" de ter liderado o clube, assumindo sentir-se "realizado".

"Também sei que, apesar da destituição e da suspensão de sócio, ainda existem muitos sportinguistas que gostariam que eu tivesse continuado como presidente. (...) Mas depois há o outro lado. O lado do homem. Fiquei com um casamento destruído, sou arguido num processo que pode demorar anos, vi a GNR entrar-me pela casa e levar-me para um posto onde fiquei privado da minha liberdade. E tudo isto depois de ter dado 24 horas por dia ao Sporting durante todo o tempo em que presidi aquele clube. Valeu a pena?", questionou.

E encerrou o livro com um enigma: "Vou utilizar uma linguagem futebolística. Se isto fosse um jogo, eu estaria a ser goleado por 5-0. Mais que não seja pelos cinco dias que passei detido. Mas ainda só estamos no intervalo. Vem aí a segunda parte".

Bruno de Carvalho partilhou as suas memórias de vários episódios no clube, nomeadamente sobre as relações conturbadas com os treinadores Jesualdo Ferreira, Marco Silva -- que ponderou despedir na pré-época de 2014/15 -- e ainda Jorge Jesus.

Relativamente ao atual presidente do Sporting, Frederico Varandas, que liderava o departamento médico do clube, admitiu que este pensasse numa candidatura desde 2016 "quando pagou as quotas em atraso para recuperar o seu número de sócio antigo", numa altura em que aborda o ataque à Academia do clube, em Alcochete.

Neste caso, que designa "o ataque dos lacraus", deixou algumas acusações a Bruno Jacinto, antigo Oficial de Ligação aos Adeptos, e a André Geraldes, antigo 'team manager' do Sporting, assinalando que foram Jorge Jesus e Frederico Varandas a "potenciar os efeitos negativos" do caso ocorrido em 15 de maio de 2018, sobre a sua direção.

Bruno de Carvalho diz ter-se arrependido de não ter despedido Jesus, antes da final da Taça de Portugal, e que o técnico "deu a possibilidade a Varandas de se armar em salvador da pátria". Segundo o mesmo, terá confrontado o treinador e este respondeu: "Mas a máquina já está em movimento".

"(...) Com o que foi espoletado pelos ataques à Academia, eu e a minha administração passámos a viver num clima de terror. Tudo protagonizado por José Maria Ricciardi, com a forte colaboração de Álvaro Sobrinho, Jaime Marta Soares, Artur Torres Pereira, Sousa Cintra, Frederico Varandas e daquele que tinha sido o nosso treinador. O Jorge tinha razão: a máquina estava mesmo em movimento", detalhou.

Além da suspensão de sócio, Bruno de Carvalho está ainda acusado pelo Ministério Público da autoria moral do ataque à Academia do clube, de 40 crimes de ameaça agravada, 19 de ofensa à integridade física qualificada, 38 de sequestro, um de detenção de arma proibida e crimes classificados como terrorismo, não quantificados.

Em 15 de maio, a equipa de futebol do Sporting foi atacada na academia do clube, em Alcochete, por um grupo de cerca de 40 adeptos encapuzados, que agrediram alguns jogadores, membros da equipa técnica e outros funcionários.

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