Brasil quer quebrar o jejum, numa final em que o Peru tenta fazer história
Brasil e Peru decidem este domingo que é o novo rei das Américas, colocando um ponto final no domínio do Chile, que venceu as duas últimas edições da Copa América. O Estádio Maracanã, no Rio de Janeiro, será o palco da grande final cujo apito inicial está marcado para as 21.00 horas em Portugal continental.
As duas equipas enfrentaram-se na fase de grupos, com os brasileiros a golearem por 5-0. Contudo, agora reencontram-se numa final inédita entre seleções que atravessam um longo jejum. É que há 12 anos que a seleção brasileira não se sagra campeão continental, depois de em 2007 ter vencido a Argentina, em Maracaibo na Venezuela, por 3-0. Aliás, os canarinhos vão tentar conquistar a 9.ª Copa América do seu historial, mantendo-se ainda assim a uma considerável distância de Uruguai (15 títulos) e Argentina (14).
Já o Peru, que conquistou esta prova por duas vezes, não vence qualquer troféu desde que em 1975 levou a melhor sobre a Colômbia, num torneio que ainda era em sistema de eliminatória a duas mãos. Na altura, os peruanos, que contavam com a sua estrela Teófilo Cubillas (ex-FC Porto), perderam o primeiro jogo na Colômbia (1-0), venceram depois em casa (2-0), tendo-se então disputado um jogo de desempate em Caracas (Venezuela), onde acabariam por vencer por 1-0, com um golo de Hugo Sotil.
Os peruanos chegam a esta final com a certeza de que nas duas em que participaram venceram sempre, sendo que a primeira das quais foi em 1939, em casa, quando a prova se disputava em sistema de pontos, tipo campeonato a uma só volta.
A jogar em casa, o Brasil é amplamente favorito a vencer a final e a quebrar um jejum de títulos que dura desde 2013, ano em que conquistou a Taça das Confederações. Além de ter o público a seu favor, os canarinhos sabem que têm um enorme domínio nos jogos com o Peru, pois em 44 partidas venceu 31, empatou nove e apenas perdeu quatro.
Curiosamente, a última vez que os peruanos surpreenderam os brasileiros foi há dois anos na Copa América do Centenário, nos Estados Unidos, ainda na fase de grupos, com Raúl Ruidíaz a marcar o único golo da partida aos 75 minutos. Este resultado acabou por eliminar os canarinhos treinados por Dunga logo na primeira fase.
Os peruanos vão assim tentar silenciar o Maracanã e criar um novo trauma no futebol brasileiro, depois de em 1950 terem perdido a final do Mundial de 1950, também no mítico recinto do Rio de Janeiro, frente ao Uruguai por 2-1, o que deixou cerca de 200 mil brasileiros em silêncio e em lágrimas no final da partida. Um jogo que ficou conhecido como o Maracanazo.
Mais recentemente, no Mundial 2014, também organizado pelo Brasil, nova desilusão. Desta vez, no Estádio Mineirão, em Minas Gerais, quando a seleção então orientada por Luiz Felipe Scolari foi humilhada pela Alemanha, por 7-1, nas meias-finais da prova. A este trauma deram então o nome de Mineirazo...
A final da Copa América 2019 está, no entanto, a criar alguma polémica. Isto porque a imprensa peruana, mais concretamente o jornal Líbero, acusou a organização do torneio de estar a sabotar a preparação da equipa treinada por Ricardo Gareca, sobretudo devido às condições oferecidas pelo centro de treinos do Fluminense, onde na sexta-feira o Peru foi treinar.
A seleção peruana foi obrigada a dividir o balneário com uma equipa das camadas jovens do clube carioca, além de que não terem sido disponibilizadas a sala de reuniões para a equipa técnica, a sala de imprensa, as salas para visualização de vídeo, nem de água suficiente para os processos de recuperação física dos jogadores.
A confederação sul-americana de futebol (CONMEBOL) admitiu ter existido este problema tendo lamentado estes incidentes, comprometendo-se a resolvê-los. Ainda assim, o selecionador Ricardo Gareca optou por mudar as instalações de treino e este sábado a sessão foi realizada no estádio Nilton Santos, do Botafogo.
Outra questão que abalou a seleção do Peru foi a notícia de que a AFA (federação argentina) iria contactar Ricardo Gareca para que assumisse o comando técnico da equipa de Messi após a Copa América. Esta notícia mereceu desde logo o comentário de Juan Carlos Oblitas, diretor desportivo da federação peruana, que lembrou ter o técnico contrato até ao Mundial 2022. O treinador, que é argentino, não quis abordar o tema na véspera da final da Copa América: "Só vou falar da final. Esse assunto é passado e faz parte do passado."
O selecionador do Peru assumiu entretanto que "este é o momento ideal para defrontar um grande rival como o Brasil". Gareca explicou esta sua ideia com o facto de a sua equipa ter eliminado "duas seleções fortes" - Uruguai e Chile - para chegar à final, razão pela qual garante que esses dois jogos "fortaleceram a equipa". "Se tivesse de escolher um momento para enfrentar o Brasil, seria este", frisou.
Ricardo Gareca admitiu que esta final representa "um momento importante para o país", razão pela qual deixou a garantia de que a seleção do Peru vai "tentar garantir uma vitória, dando o máximo em campo".
Uma boa notícia para o técnico é o facto de André Carrillo e Edison Flores estarem praticamente recuperados de alguns problemas físicos, tendo ambos realizado ressonâncias magnéticas para avaliar com maior precisão a gravidade dessas mazelas, que mostraram que estarão disponíveis para a grande final.
Calma e confiança. É esse o ambiente que se regista na seleção brasileira, que vai tentar confirmar o seu favoritismo perante o seu público para vencer o Peru e levantar a Copa América pela nona vez.
E nem as notícias que apontavam para uma proposta para Tite, selecionador brasileiro, fosse treinar uma equipa chinesa abalou a confiança dos brasileiros. "O meu contrato é até 2022, depois do Mundial", esclareceu o técnico.
O Brasil reencontra o Peru nesta competição, depois de na fase de grupos ter goleado por 5-0, um resultado que Tite procurou desvalorizar. "Esse resultado foi excessivamente amplo e não traduz aquilo que foi o jogo. Considero que as duas equipas chegam fortes à final e quem merecer mais é quem vai ganhar", explicou
Sem revelar o onze que irá apresentar no Maracanã, o selecionador brasileiro jogou à defesa, apesar de no último treino ter mostrado que deverá repetir o onze que venceu a Argentina nas meias-finais, mantendo Alex Sandro como defesa-esquerdo, apesar da recuperação de Feilipe Luís. "Uma hora antes do jogo direi quem vai jogar e vão saber quem será o lateral-esquerdo".
Questionado sobre o facto de esta final poder representar a reconciliação entre o povo brasileiro com a sua seleção, Tite foi pragmático: "Temos de entender o pensamento do adepto. Vivemos num país muito apaixonado. Vai de um extremo ao outro muito rápido. Mas o nosso trabalho não pode ser assim. 7- 1, 2-0, Maracanazo, campeão em 2002 da Alemanha, perder com a Bélgica, é tudo história. Podemos é escolher qual a parte da história que queremos contar."
O selecionador brasileiro admitiu ser "normal e natural" haver nervosismo entre os jogadores canarinhos antes de uma final da Copa América.