Exclusivo DN/NYT: Fan ID é a nova moda do Mundial. Mas será seguro?
O crachá, chamado Fan ID, é uma inovação introduzida no Campeonato do Mundo pela primeira vez e é quase tão valioso quanto um bilhete. Nenhum adepto pode entrar num estádio do Mundial sem ele. Também dá acesso a vantagens como a entrada sem visto na Rússia, transporte gratuito dentro das cidades que acolhem o evento e, ocasionalmente, entre elas, e descontos em certas lojas e restaurantes.
Parte cartão de identificação e parte desencadeador de conversa, está pendurado numa fita da FIFA ao pescoço de quase todos os adeptos no Campeonato do Mundo - uma credencial laminada para o que poderia passar pela mais divertida conferência de negócios do mundo.
No entanto, também suscitou preocupações sobre a privacidade num país que tem sido uma base para hackers internacionais e com uma longa história de vigilância apertada dos seus cidadãos. As autoridades russas disseram que o único objetivo dos crachás é melhorar a segurança e o conforto dos adeptos. No entanto, os crachás dão aos organizadores do Campeonato do Mundo e às autoridades de segurança a capacidade de rastear a localização dos adeptos durante a competição e fornecem-lhes as informações pessoais desses adeptos.
Muitos espectadores gostam deles simplesmente como recordações.
"Eu vou guardar isto para o resto da vida", disse o adepto brasileiro Arnaldo Ylem de 50 anos, olhando orgulhosamente para o seu Fan ID. O crachá exibia uma pequena foto da sua cara, assim como o seu nome em inglês e em russo.
As autoridades russas criaram o programa Fan ID como parte de uma ampla operação de segurança para um dos maiores grupos de turistas estrangeiros que já recebeu.
Cada Fan ID é registado pelo Ministério das Comunicações da Rússia sob um conjunto de acordos com a FIFA, o órgão que rege o futebol mundial. Os organizadores disseram na sexta-feira que o governo russo concordou que todas as informações obtidas, que incluem nomes, datas de nascimento, números de passaporte, números de telefone, e-mails e moradas, seriam "estritamente confidenciais".
No total, mais de 1,6 milhões de crachás foram distribuídos aos visitantes da competição, incluindo VIPs e celebridades. Até o ex-presidente da FIFA, Sepp Blatter, que assiste ao torneio como convidado do presidente Vladimir Putin, e a lenda do futebol argentino Diego Maradona foram obrigados a requerê-los e a usá-los.
As autoridades russas têm a capacidade de controlar a entrada de cada pessoa em todos os jogos. Isso poderá ter permitido às autoridades localizar Rodrigo Vicentini, um adepto procurado há dois anos pelas autoridades brasileiras sob a acusação de roubo de uma agência dos correios.
Vicentini, um brasileiro de 31 anos que vestia a camisola da sua seleção, tinha acabado de ver a sua equipa marcar dois golos no final da partida, numa vitória tensa contra a Costa Rica a 22 de junho, quando os agentes da segurança russa caíram sobre ele. Eles cruzaram a lista de procurados da Interpol com a informação do Fan ID e prenderam-no à saída do estádio. Aguarda agora a extradição para o Brasil.
As autoridades russas disseram que verificaram os antecedentes de todos os destinatários do crachá de identificação, através do contacto com os seus pares em todo o mundo, no que disseram ser um esforço para impedir que terroristas ou hooligans conhecidos entrassem no país ou em qualquer um dos estádios do Campeonato do Mundo.
"A identificação do adepto existe para proporcionar segurança e conforto totais no estádio para aqueles que estão lá pelo futebol, não por quaisquer outras razões", disse Alexey Sorokin, diretor executivo da comissão organizadora local.
Sorokin afirmou que as autoridades russas estavam vinculadas ao que ele chamou regras rígidas relativas aos dados, que estão incorporadas nos contratos do governo com a FIFA.
Verificação de antecedentes e crachás para os adeptos que chegam à Rússia são "perfeitamente compreensíveis", disse Chris Eaton, responsável pelo plano de segurança da FIFA no Campeonato do Mundo de 2010 na África do Sul. "Ninguém nega a ameaça que a Rússia enfrenta de grupos terroristas domésticos ou internacionais".
Ainda assim, os defensores da privacidade têm dúvidas sobre a recolha de tantos dados pessoais.
"Faz parte de uma economia de vigilância onde é oferecido algo que soa atrativo, como ir a um evento desportivo sem complicações e com alguns brindes, em troca de informações pessoais valiosas", disse Timothy Edgar, especialista em cibersegurança que leciona na Universidade de Brown.
"A Rússia deve destruir a informação assim que a competição terminar", disse Edgar. "Uma vez desaparecida a necessidade dos dados, eles devem fazê-lo, porque esses dados estão potencialmente sujeitos a fugas ou perda."
Os crachás de identificação de adeptos podem ter vindo para ficar. As autoridades do Qatar, que receberá o Campeonato do Mundo de 2022, estudaram o programa este mês como parte dos seus preparativos, segundo disse Colin Smith, diretor de competições da FIFA. Os organizadores do Campeonato do Mundo de 2026 na América do Norte, que exigirá a circulação de adeptos entre os Estados Unidos, México e Canadá, confirmaram que estão a considerar a utilização de um programa similar.