Vitória moral para Semenya. Comité Olímpico integra transgéneros e intersexuais

Sul-africana lutA para competir sem ser obrigada a tomar medicação para reduzir níveis de testosterona. Federações têm liberdade para legislar.
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É uma vitória moral para Caster Semeyna, a sul-africana campeã mundial e olímpica dos 800 metros, que há anos luta para competir com outras mulheres sem ser obrigada a reduzir os níveis de testosterona. O Comité Olímpico Internacional (COI) definiu regras para a inclusão de atletas transgénero e intersexuais, mas deu liberdade de decisão às modalidades. Ou seja, pode ficar tudo na mesma...

A verificação de género era uma medida obrigatória e polémica nos Jogos Olímpicos até há bem pouco tempo. Na dúvida os atletas eram obrigados a despirem-se para verificar seus atributos mais íntimos antes mesmo da análise cromossómica e da medição do nível de testosterona. Método que passou a ser questionado em 2009, quando Caster Semenya venceu os 800 metros nos Mundiais e deixou o Mundo a discutir se era homem ou mulher e se devia competir com outras atletas.

Semenya foi mesmo proibida de competir em Tóquio 2020 pela federação internacional de atletismo (World Atletics) por concluir que o corpo da sul-africana produz mais testosterona do que é considerado normal para ser mulher e que por isso tinha uma vantagem injusta na pista... frente a outras mulheres. Para competir a campeã mundial e olímpica dos 800 metros tinha de reduzir o nível de testosterona com recurso a medicação. Algo que recusou por uma questão de ideologia e de saúde. Recorreu sem sucesso ao Tribunal Arbitral do Desporto e a um tribunal federal suíço e em fevereiro apelou para o Tribunal Europeu de Direitos Humanos.

O COI tentou elevar os padrões morais e legais para a inclusão dos atletas transgénero (que se identificam com um género diferente daquele que lhes é atribuído no nascimento) e intersexuais (que têm traços internos ou externos diferentes das características tradicionalmente atribuídas ao género feminino) criado uma comissão de especialistas para traçar novos critérios para a competição.

Uma das premissas da autoridade olímpica é que "não há consenso científico sobre como a testosterona influencia o desempenho", por isso recomenda-se que a testosterona não seja o único critério na hora de legislar. E para Sebastian Coe, presidente do World Atletics, a testosterona tem sido, justamente, o único elemento levado em consideração.

O problema é que o documento não é obrigatório e as federações podem seguir as próprias regras, como fez o rugby internacional, que proíbe terminantemente a participação de jogadores transgénero. Por isso nada garante que a federação internacional de atletismo permita que Semeyna compita sem ser obrigada pelo tribunal. E o mesmo pode acontecer com outros atletas como Francis Niyonsaba do Burundi oua namibiana Christine Mboma.

isaura.almeida@dn.pt

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