Seleção "é outro capítulo" e há tempo para "capitalizar a revolta" de Ronaldo

Início dos trabalhos para o Mundial 2022 marcado pela entrevista bombástica de CR7 sobre o Manchester United. Jogador recorreu às redes sociais para reforçar que está concentrado em "realizar o sonho de todos os portugueses" no Qatar. João Alves e Hugo Almeida acreditam que a equipa vai acabar por beneficiar com esta polémica.

Bem disposto e de pontaria afinada. Assim se apresentou Cristiano Ronaldo ao serviço da seleção nacional, com vista à presença no Mundial 2022, horas depois da entrevista bombástica onde disse sentir-se "traído" pelo Manchester United e desrespeitado pelo treinador Erik ten Hag. Ontem, o capitão da equipa das quinas foi mesmo o primeiro a subir ao relvado (ver fotolegenda) e no final recorreu ao Instagram para mostrar que só pensa: "Foco total e absoluto nos trabalhos da seleção nacional. Grupo unido, rumo a um só objetivo: realizar o sonho de todos os portugueses."

Algo que João Alves também acredita."De cabeça não posso avaliar. Que não está no auge da forma é do domínio público, mas Fernando Santos é astuto e tem futebol suficiente, além de o conhecer bem, para saber como capitalizar esse espírito de revolta e até raiva pelo momento no clube", disse o antigo internacional ao DN, lembrando que dez dias de treino - até ao primeiro jogo da seleção, dia 24 com o Gana - "dão" para Ronaldo apurar o físico.

O antigo jogador (35 internacionalizações) e agora comentador da RTP é da opinião que "não há timings ideais" para dizer coisas desagradáveis ou para ser escrutinado mundialmente como está a ser. E também não acredita que Ronaldo fosse "ingénuo" ao ponto de não saber que a entrevista na íntegra iria para o ar em plena concentração da seleção (na próxima quinta-feira): "O Ronaldo não é nenhum menino para não saber disso. Sinceramente acho que a seleção nacional é outro capítulo. Ele vai entregar-se de corpo e alma."

Para o antigo luvas pretas, "é claro como a água que Cristiano Ronaldo não quer continuar no Manchester United e está a jogar com o timing do Mundial." João Alves está mesmo convencido que "Ronaldo não volta a jogar no Manchester" e que traçou o caminho da saída com esta entrevista: "Não estou a ver o Ronaldo a ficar mais de metade da época parado para depois sair. Afinal tem 37 anos. Há muitas incógnitas em toda esta história. Ou faz um Mundial do outro mundo e encontra um clube que o preencha ou acaba a carreira após o Campeonato do Mundo. E como ninguém está à espera desta última hipótese, é normal que olhe para a competição como alavanca para um novo projeto."

Hugo Almeida partilhou o balneário da seleção com CR7 durante uma década e não tem dúvidas que este "será o Mundial de Ronaldo". Segundo o antigo avançado, o o capitão "vai transcender-se outra vez no seu quinto Campeonato do Mundo, porque sente que ainda tem muito para dar à seleção e a Portugal".

Para o antigo atleta do FC Porto, "Ronaldo não precisa de mostrar nada a ninguém", apesar de um arranque de temporada atribulado, com três golos em 16 jogos pelo Manchester United, num total de 1050 minutos. "Os portugueses têm de estar muito gratos a Cristiano Ronaldo por tudo o que fez ao longo destes anos pelo nosso país e pela seleção. Por todo o lado onde passa, eleva o nome de Portugal ao mais alto nível no futebol mundial. Os portugueses são um pouco ingratos nisso. Deviam estar a apoiar. Já basta ver as pessoas de fora a criticar", atirou o agora treinador adjunto de José Morais no Sepahan, do Irão.

Na semana passada, quando questionado sobre que Cristiano Ronaldo estava à espera, até pelo momento conturbado que vive o capitão, o selecionador Fernando Santos respondeu que espera-o menos cansado do que nas outras fases finais e "com fome de tornar Portugal campeão do Mundo". Isto antes de CR7 lançar uma bomba sobre Old Trafford e colocar o mundo a falar dele, sabendo que a entrevista completa só irá para o ar na quinta-feira , dia do jogo de preparação com a Nigéria, no estádio José Alvalade, às 18.45 horas, e em véspera da viagem para Doha, no Qatar, onde se jogará o Mundial 2022, a partir de domingo até 18 de dezembro.

Manchester United à espera

O estrondo resultante da entrevista foi tal que o Manchester United foi abrigado a emitir um comunicado a dizer, simplesmente, que "considerará uma resposta depois de todos os factos esclarecidos" e de toda a entrevista ser emitida. Mas já ontem, segundo o jornal The Telegraph, Joel Glazer, dono do clube, o diretor-executivo Richard Arnold e o diretor desportivo John Murtough, além do treinador Erik ten Hag, reuniram-se de emergência para debater o assunto e a multa milionária (divulgada antes de ser decretada) de um milhão de euros aplicada a Ronaldo por falar sem autorização do clube e, alegadamente, por causar danos à imagem dos red devils com a polémica entrevista ao jornalista Piers Morgan e ao jornal The Sun.

Segundo o entrevistador, a conversa ocorreu a pedido de Cristiano Ronaldo, que queria contar a "sua verdade", havendo ainda mais coisas por revelar, nomeadamente o que o português pensa sobre os irmãos Glazer, os americanos donos do Manchester United desde 2005. Para já, a verdade de Ronaldo diz que o clube tentou forçar a sua saída: "Não só o treinador, mas também outras duas ou três pessoas que estão à volta do clube. Senti-me traído e senti que outras pessoas também não me queriam no clube." Um sentimento que, garantiu, vinha da época passada, quando deixou a Juventus para voltar ao clube onde tinha conquistado 10 troféus, incluindo três títulos da Premier League e a Champions.

O jogador acusou ainda a estrutura do United de o transformar na "ovelha negra" da equipa e disse que o clube parou no tempo desde que Alex Ferguson saiu (2013). As revelações vão continuar de forma faseada até quinta-feira, dia em que será emitida na íntegra a conversa de 90 minutos, que os críticos dizem ser os mais suados e importantes de CR7 esta época, aludindo ao facto de não ser opção regular.

isaura.almeida@dn.pt

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