Ronaldo. Jogador único, com um contrato único, que só quer jogar e ser feliz

Cerca de 30 mil adeptos deliraram com CR7 na apresentação. Jogador garantiu ter outras propostas "até de Portugal", mas escolheu ir para a Arábia Saudita.

Foi uma cerimónia perfeita, à medida de um Cristiano Ronaldo à beira da reforma milionária, que continua a negar. A apresentação no Al-Nassr da Arábia Saudita não teve a grandiosidade desportiva que outrora CR7 vivenciou em Madrid ou Turim, mas teve carinho e adoração q.b. capaz de devolver o sorriso perdido ao português, que não se cansou de agradecer a oportunidade para voltar a jogar, ser feliz e desfrutar do futebol saudita.

Numa apresentação a triplicar - para o Mundo na sala de Imprensa, para os colegas no balneário e para os adeptos no relvado - Ronaldo sabia o que dizer em cada momento. Limitou-se a declarações simples e impactantes e sem recados ocultos ou mensagens dúbias.

A chegada ao Estádio Mrsool Park, em Riade, foi digna de um membro da realeza que manda no país e financiou o contrato já apontado como o maior da história do futebol: 500 milhões de euros até junho de 2025! Nada de anormal para os padrões de um extraterrestre do futebol: "Sou um jogador único, bati todos os recordes, é uma boa oportunidade, este contrato é único, mas eu sou um jogador único, por isso é normal."

Musalli al Muammar, presidente do Al-Nassr, reconheceu que o acordo "não se limita ao futebol jogado" e considerou "normal" que CR7 seja o mais bem pago do Mundo: "O acordo é comercialmente benéfico para nós em termos de rentabilidade. Nos próximos dias ficarão a saber muitas coisas." E sem tocar no assunto mais sensível, a possível utilização da imagem do capitão da seleção portuguesa na candidatura da Arábia Saudita ao Mundial 2030 - o mesmo que Portugal quer coorganizar com a Espanha e a Ucrânia -, o líder do emblema de Riade, confidenciou ainda que Ronaldo "pediu durante as negociações para ser tratado de forma igual à dos colegas de equipa, no que respeita a prémios e regulamento do clube".

E como prova disso mesmo é a imagem de CR7 a treinar com a nova equipa, após a apresentação em modo hollywoodesco. Marcou um golo e fez as delícias de cerca de 30 mil adeptos, seis vezes mais da lotação habitual em dia de jogo.

A Europa ficou para trás

O cheque que o convenceu a mudar-se para Riade, depois de ter rescindido contrato com o Manchester United, pode ser gordo, mas o jogador preferiu falar de outros valores. Igual a si próprio, mostrou-se pouco interessado, preocupado ou mesmo incomodado com "opiniões pouco informadas" sobre o futebol e a vida na Arábia Saudita. "Não estou preocupado com o que dizem. Tomei a decisão, tenho uma responsabilidade, mas estou muito feliz por cá estar", disse CR7, sem esquecer as palavras mágicas: "Muitos falam, mas não sabem nada. No Mundial 2022, a única equipa que ganhou aos campeões [Argentina] foi a Arábia Saudita. Para mim não é o fim de carreira, quero mudar."

E para quem o acusa de ceder aos milhões de uma ditadura, Ronaldo respondeu com um convite a revisitar o passado recente e olhar para os 33 troféus coletivos e mais de 40 distinções individuais em 20 anos de carreira. "Na Europa o meu trabalho foi feito. Ganhei tudo, joguei nos principais clubes. Agora é um novo desafio. Feliz por ter esta oportunidade, a ajudar a desenvolver o futebol e as próximas gerações. É um desafio, sinto-me preparado", disse Cristiano Ronaldo, nas primeiras declarações como jogador do Al-Nassr.

Questionado sobre a decisão de ir jogar para a Arábia Saudita, o português explicou a decisão: "É uma grande oportunidade para mudar a mentalidade das novas gerações. Posso dizer que tinha muitas oportunidades na Europa, muitos clubes: no Brasil, na Austrália, EUA... até em Portugal! Vários clubes tentaram, mas dei a palavra ao clube, não só para desenvolver o clube e o país. Sei o que quero e o que não quero. É uma boa oportunidade para ajudar a melhorar tantas coisas. Até do ponto de vista das mulheres. Muitas pessoas não sabem, mas o Al-Nassr tem uma equipa feminina."

O jogador de 37 anos elogiou ainda a competitividade da liga saudita. O Al-Nassr é primeiro classificado à 11.ª jornada (ver caixa): "Vim para cá ganhar, para jogar, desfrutar, ser parte do sucesso do país e da cultura do país. Estou cá com todas as pessoas do clube, o que quero é desfrutar, sorrir e jogar", disse CR7.

O efeito Ronaldo...

O treinador Rudi García esteve na apresentação e lembrou que "Cristiano é um dos melhores da história, uma lenda" e mostrou-se "muito feliz" por o ter na equipa, embora reconheça que não tem nada que lhe ensinar. O francês brincou ainda com o facto da sala de Imprensa estar lotada em vez dos "dois ou três" jornalistas habituais: "Por favor, estão todos convidados a vir cá depois dos jogos."

A apresentação acabou com a sala de Imprensa, num misto de convidados e alguns jornalistas, a imitar o grito de Cristiano Ronaldo, o famoso "siiiuuu", antes dele ser convidado a conhecer os colegas no balneário. Os jogadores da equipa saudita não esconderam entusiasmo com a presença do português. Coube ao guarda-redes Waleed Abdullah dar as boas vindas: "Bem-vindo. Estamos muito contentes por ter-te. Esperamos conseguir muitas coisas contigo. Estamos muito felizes." CR7 retribuiu a gentileza em inglês: "Estou feliz por cá. Um grande desafio vir para a Ásia. Estou cá para vencer. Vi alguns jogos, vi a ligação entre jogadores, gostei muito. Estou cá para ajudar a equipa a ganhar coisas, desfrutar e dar o meu melhor como sempre."

E depois de se equipar naquela que será a sua nova casa até 2025 (se cumprir contrato) subiu ao relvado para o banho de carinho esperado entre gritos de "Siiiuuu" e "Ronaldo, Ronaldo". E pela terceira vez Ronaldo falou no "prazer" e na "honra" de ser jogador do Al-Nassr e da forma como os adeptos o receberam, prometendo "dar tudo pelo clube" e fazê-los "pessoas felizes" ao desfrutar de jogar na liga saudita e "ajudar o país a ser melhor, não só no futebol, mas também na questão das mulheres"...

Ao de leve o jogador tocou num dos pontos sensíveis. E mais não disse. Cristiano fechou a apresentação a assinar umas bolas antes de as pontapear para as bancadas... sempre acompanhado de perto por um segurança e o seu personal manager Ricardo Regufe (a quem atribuem a intermediação do negócio, com uma comissão de 30 milhões de euros). E finalizou a apresentação usando a expressão al alamy - alcunha pelo qual é conhecido o clube de Riade e que significa global.

Estreia na quinta-feira frente a Pepa?

O técnico português do Al Taee, que defrontará o Al-Nassr quinta-feira, na 12.ª jornada da liga saudita, quer ter Cristiano Ronaldo do outro lado. "É um orgulho tremendo acrescentar um jogador com o Cristiano no relatório. Para mim, sendo a primeira experiência fora, é um motivo de orgulho tremendo o que está a acontecer. Gostava muito que jogasse. Aqui fala-se num possível castigo, mas eu gostava que ele estivesse na ficha de jogo. Era um momento histórico", assumiu Pepa, à Sport TV, sem clarificar o porquê do castigo.

Orientado por Rudi Garcia, e com Talisca (ex-Benfica) e Aboubakar (ex-FC Porto) como grandes estrelas até agora, o Al Nassr subiu ao primeiro lugar do campeonato, na última ronda, já depois da contratação de CR7. Ao fim de 11 jornadas, tem 26 pontos, mais um do que o Al Shabab (tem menos um jogo), procurando o 9.º título.

isaura.almeida@dn.pt

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