Ronaldo e Al Nassr. A ligação que pode enfraquecer a candidatura portuguesa

Capitão da seleção perto de assinar por clube da Arábia Saudita, país que pretende apresentar candidatura à organização do Mundial... que Portugal quer coorganizar.

Cristiano Ronaldo está a um passo de assinar um contrato milionário com o Al Nassr, da Arábia Saudita, que lhe vai render cerca de 500 milhões de euros em duas épocas e meia - já estará em Riade em negociações. Mas caso o casamento aconteça, esta união pode vir a criar um grande imbróglio com a Federação Portuguesa de Futebol (FPF), uma vez que as notícias difundidas ontem em Espanha indicam que o acordo com os sauditas implica que se torne embaixador da candidatura árabe ao Mundial 2030... a mesma prova para a qual Portugal já apresentou um projeto em conjunto com Espanha e Ucrânia. Ou seja, pode vir a existir um verdadeiro conflito de interesses.

As várias fontes ouvidas pelo DN não acreditam que este cenário (de se tornar embaixador de uma candidatura saudita contra Portugal) venha a acontecer, até porque esta transferência para o Al Nassr surge num altura em que Ronaldo é mais questionado do que nunca - inclusive na imagem de bom profissional que sempre teve e cativou -, está de costas voltadas para Jorge Mendes - empresário e amigo desde sempre nada tem a ver com este negócio, segundo soube o DN - e depois da saída de Fernando Santos do comando da seleção em claro conflito com o capitão.

Não só a imagem de CR7 a jogar na liga saudita poderá ser um forte aliado da candidatura dos árabes (ainda não avançou oficialmente), como a verificar-se que o capitão português daria a cara, isso iria abrir feridas no seio da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), uma vez que irá contra o desejo de Portugal organizar o Campeonato do Mundo de Futebol pela primeira vez.

Mesmo que o jogador aceite ir jogar para a liga saudita sem ser a imagem da possível candidatura à organização do Mundial, a decisão da FIFA sobre o vencedor da organização na edição de 2030 será conhecida em 2024, ano em que Ronaldo ainda jogará com as cores do Al Nassr se cumprir o contrato. O acordo, válido até 2025, contempla um bolo de 200 milhões de euros por época e metade (100 milhões) é para pagar publicidade e ações de marketing.

Os árabes queriam avançar para a organização do Mundial em conjunto a Grécia e o Egito, mas os regulamentos da FIFA não permitem propostas conjuntas de confederações diferentes, e por isso a Arábia Saudita avalia avançar com outro parceiro ou sozinha. Daí terem garantido Lionel Messi como embaixador do Turismo da Arábia Saudita - curiosamente a Argentina (campeã do Mundo) também apresentou uma candidatura à organização do Mundial de 2030, juntamente com Chile, Paraguai e Uruguai. Os sauditas contariam ainda com o bónus de já terem infraestruturas, uma vez que ganharam a organização da Taça das Nações Asiáticas de 2027.

A verificar-se este cenário, resta saber como a notícia será recebida pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e pelo presidente Fernando Gomes em particular. Para já a FPF não comenta o assunto. Mas a simples possibilidade de isso poder acontecer já provocou danos na imagem da proposta portuguesa, espanhola e ucraniana. E como ficará a situação de Ronaldo no balneário da seleção, ele que na Gala das Quinas de Ouro da FPF, no dia 21 de setembro, disse querer jogar o Euro 2024?

No dia 6 de novembro, o DN tinha já avançado que a ida de Ronaldo para o Al Nassr era real e colocaria CR7 perante um dilema por causa deste imbróglio. Mas, nessa altura, Ronaldo ainda ambicionava fazer um grande Mundial e esperava por uma oferta melhor do ponto que vista desportivo (o que não aconteceu), uma vez que financeiramente a oferta do clube saudita é imbatível e seria o maior contrato da história do futebol: 500 milhões de euros por dois anos e meio de contrato.

O Mundial 2022 não correu bem ao jogador de 37 anos. Portugal foi eliminado nos quartos de final e Ronaldo teve problemas com Fernando Santos, que o selecionador revelou, numa espécie de raspanete público. Situação que terá mudado a forma como Ronaldo e quem o aconselha olhava para a proposta árabe, a única que recebeu até agora. E se no verão disse não a essa mesma oferta, agora está muito perto de a aceitar, seduzido com a possibilidade de começar a jogar de imediato.

O valor do cheque que receberá, caso aceite, também ajuda. A imprensa espanhola garantiu ontem que o acordo estava fechado, que o jogador já tinha viajado até Riade para assinar e que o anúncio seria feito antes do fim do ano para permitir a estreia de CR7 no dia 5 de janeiro, frente ao Al-Tai na 12.ª jornada da liga saudita. A bem da verdade o clube já negociou a saída de Jaloliddin Masharipov para libertar a camisola 7 para Ronaldo. Ou será apenas uma mera coincidência?

isaura.almeida@dn.pt

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