Ronaldo abdicou de milhões para rescindir antes da estreia da seleção

Jogador e Manchester United anunciaram rescisão por "mútuo acordo", depois da polémica entrevista de CR7 a Piers Morgan. Capitão quis resolver tudo antes do Portugal-Gana.
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A rescisão "por mútuo acordo" com o Manchester United anunciada ontem ao final da tarde deixou Cristiano Ronaldo sem clube a dois dias da estreia de Portugal no Mundial 2022 - amanhã, com o Gana. O que para muitos é mais um episódio de uma novela, para Ronaldo é o fim de uma era. "Amo o Manchester United e os seus adeptos, isso nunca vai mudar. Porém, sinto que este é o momento certo para procurar um novo desafio. Desejo à equipa todo o sucesso para o que resta da época e para o futuro", reagiu CR7, um jogador livre no Qatar 2022.

A saída pela porta pequena acontece depois de uma polémica entrevista ao jornalista inglês Piers Morgan, em que o jogador português colocou tudo e todos em causa no clube de Old Trafford, desde o treinador Erik ten Hag à família Glazer, dona do clube desde 2005.

Segundo apurou o DN, assim que foi notificado da abertura do processo disciplinar - que já esperava -, o capitão da seleção informou o clube, através do empresário Jorge Mendes, que queria o assunto resolvido antes da estreia de Portugal no Mundial, abdicando de qualquer verba para acelerar uma rescisão amigável e tentar não prolongar a novela que tem dominado os dias da seleção. E tendo em conta que Ronaldo tinha contrato até julho de 2023, e até lá iria auferir cerca de 18 milhões de euros, pode dizer-se que o português abdicou de uma fortuna

E se o United não paga pela sua saída, Ronaldo também evitou um processo e uma possível indemnização por danos causados à imagem do clube. E ficou livre. De acordo com o que DN apurou, sem qualquer restrição ou impedimento na escolha do futuro clube. Agora pode assinar por quem quiser e assim animar o mercado mundial.

Demorou menos de uma hora até serem avançado alguns potenciais destinos (embora pouco atrativos) para o cinco vezes Bola de Ouro/The Best. O Al-Nassr da Arába Saudita e o Newcastle da Premier League... ambos propriedade de Mohammed Bin Salman, herdeiro do trono saudita.

Apesar de Ronaldo ter sido bastante cáustico com o United na hora da saída, os red devils agradeceram-lhe "a imensa contribuição nas duas passagens por Old Trafford em que marcou 145 golos em 346 jogos" e desejaram-lhe "a ele e à família o melhor para o futuro". Num curto comunicado, lembraram ainda que todos "continuam focados em continuar a evolução da equipa sob o comando de Erik ten Hag e a trabalhar juntos para obter sucesso em campo".

No dia em que ficou livre, Ronaldo lançou nas redes sociais uma parceria com a marca de relógios de luxo Jacob & Co e não evitou nova polémica. Tudo porque o relógio, avaliado em 130 mil euros, tem uma imagem do icónico golo que ele marcou pelo Real Madrid contra... o Manchester United, em fevereiro de 2013, na Champions.

A rescisão, mesmo que amigável, acaba de alguma forma por manchar uma carreira de sucesso. Não seria isso que o jogador tinha em mente quando em 2021 aceitou voltar a Old Trafford, onde tinha sido feliz de 2003 a 2009. Mas num ano tudo mudou. Na época passada, a equipa não o ajudou a destacar-se, com um desempenho abaixo do esperado - acabou em 6.º lugar na Premier League e falhou a entrada na Champions. Mas os 18 golos na Premier League (e 24 em todas as competições) diziam que o brilhantismo individual de CR7 ainda era capaz de resolver alguns problemas coletivos... mas não foi isso que aconteceu.

Tanto Solskjaer como Rangnick e Erik ten Hag, que o reduziu à condição de suplente, contribuíram para o annus horribilis do português, que nunca viveu nada parecido em 20 anos de carreira. Nesta segunda passagem pelo Manchester United, Ronaldo cumpriu 54 jogos oficiais, tendo marcado 27 golos. Em 2022-23 participou em 16 jogos e foi titular em dez, tendo sido alvo de muitas críticas depois de recusar fazer a pré-época com a equipa - algo que ele justificou com a doença da filha hospitalizada.

As exibições no regresso não ajudaram. Como também não ajudou ter recusado entrar frente ao Tottenham, quando faltavam jogar apenas dois minutos. Polémicas alimentadas até o próprio prometer esclarecer tudo numa entrevista, o que aconteceu na semana passada. Na conversa com Piers Morgan, disse que o clube parou na pré-história e admitiu que não tinha respeito por Ten Hag porque ele também não o respeitou. CR7 acusou ainda os donos do clube de só pensarem no dinheiro do marketing.

Declarações fortes que, para muitos, foram o caminho que escolheu para rescindir, mas que ele justificou com a necessidade de abanar o universo red devil. O que está para acontecer em breve. Segundo a Sky News, a família Glazers está a ponderar a venda do Manchester United. Farto das críticas dos adeptos e agastados com os maus resultados da equipa - última conquista foi em 2016-17, quando com José Mourinho ergueram a Taça da Liga Inglesa e a Liga Europa -, os norte-americanos estão a procurar aconselhamento sobre o processo de venda do clube, que poderá ser total, parcial ou resultar numa parceria estratégica.

Piers Morgan, jornalista que entrevistou Ronaldo e deu início à operação rescisão, reagiu à saída dando uma pista sobre aquele que gostava que fosse o destino de CR7. "Chegou a hora da Fase 2", escreveu, numa imagem em que surge a oferecer ao português uma camisola do Arsenal com o número 7. Uma brincadeira que não é alheia ao facto do jornalista ser adepto dos gunners, que lideram a Premier League.

Mais a sério, revelou que tem falado diariamente com CR7: "Ele agora está no Mundial, no maior palco do desporto, está habituado a lidar com o drama. Se os adeptos do Manchester United estão felizes pela sua saída, deveriam procurar saber se estão bem mentalmente porque ele continua a ser um dos melhores avançados do Mundo."

Para Wayne Rooney (um dos visados na entrevista), "é triste ver um jogador como Ronaldo, um dos melhores de todos os tempos, terminar assim com o Manchester". Mas, pela "forma como atacou o clube, não havia outra solução ou desfecho". Agora, com a saída oficializada, "Ten Hag poderá focar-se nos jogadores que tem ao seu dispor e Ronaldo focar-se no Mundial por Portugal", segundo Rooney.

Já o amigo e ex-colega no United, Rio Ferdinand, assumiu que a rescisão foi "o melhor para ambas as partes", mas deixou uma alfinetada ao técnico: "Ten Hag conseguiu o que queria."

isaura.almeida@dn.pt

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