Rafael Quintas. O melhor jogador do Europeu sub-17 a quem os colegas de seleção chamam “presidente”
Rafael Quintas celebrou 17 anos em março e no domingo, dia em que Portugal se sagrou campeão europeu de sub-17, foi eleito o melhor jogador do torneio que se realizou na Albânia. “É sempre bom ter este título, mas sem esta malta toda, jogadores e staff, não conseguia este prémio. Conseguimos ter bola, marcar golos e agora é festejar. Dedico à minha família e amigos. É um sonho meu e do meu avô, que está emocionado e orgulhoso”, disse o capitão da seleção nacional, depois do triunfo sobre a França (3-0), que deu o terceiro título europeu desta categoria a Portugal.
Médio de processo simples, adora Cristiano Ronaldo - ficou sem palavras quando soube que CR7 e a seleção tinham visto a final -, mas confessa-se admirador de João Palhinha, jogador que integra a seleção principal para a final four da Liga das Nações. Começou a jogar com três anos e nos traquinas do Benfica jogou como defesa central, mas a estatura para a função ainda não era um problema. Só quando deixou o futebol de 7 subiu no terreno.
E foi assim que o Benfica e a seleção ganharam um médio centro de "requinte técnico" e uma "visão de jogo", que lhe permitem ser um líder em campo e fora dele, segundo Tiago Pina. O coordenador técnico do futebol de formação do Benfica, treinou-o na época passada e, em conversa com o DN, destacou a capacidade e empenho do jovem médio nos processos de treino e nos jogos. Reconhece-lhe uma caraterística pouco habitual em jovens jogadores: "É muito responsável. Não se distrai. É altruísta, coloca sempre os interesses da equipa acima dos individuais e por isso não é fácil encontrá-lo desconcentrado num jogo. É muito responsável taticamente e equilibrado emocionalmente."
Lisboeta e rapaz de poucas palavras - afinal é apenas um adolescente -, Rafael capitaneou uma seleção de 20 portugueses em Tirana. Na seleção chamam-lhe "o presidente" porque quando entra em modo-treino-jogo é demasiado formal e não gosta nada de brincadeiras. Dizem que é um adulto desde criança, focado e concentrado na missão, seja num simples treino ou numa final de um Europeu.
No Benfica é chamado de “capitão” ou apenas pelo apelido Quintas, segundo Tiago Pina, que o descreve como "um jovem equilibrado", que sabe quando descontrair e brincar e quando mobilizar os colegas para jogar com compromisso: "Não é por acaso que é capitão no Benfica e na seleção."
Rafael só conhece uma camisola: a encarnada. Joga de águia ao peito há 12 épocas. Em 2024, ainda juvenil assinou contrato profissional válido até 2027. Nessa altura atreveu-se a sonhar: “Gostava de chegar à equipa sénior do Benfica e estrear-me no Estádio da Luz.”
Para o coordenador do Benfica, ele tem refletido a "excelência da formação do Benfica", que teve nove atletas no europeu. Esta temporada jogou nos sub-17 e sub-19 e isso diz bem do amadurecimento desportivo do jovem de 17 anos, que é representado por uma agência internacional, a CAA Stellar, que agencia jogadores como Jack Grealish (Manchester City), Eduardo Camavinga (Real Madrid), entre outros, incluindo os também campeões europeus Bernardo Lima, José Neto e Tomás Soares (o melhor marcador de Portugal na prova).
Rafael Quintas começou o Campeonato da Europa de sub-17 com um golo e acabou a levantar o troféu coletivo e a ser eleito o melhor jogador, sucedendo assim a Miguel Veloso (2003) e Zé Gomes (2016) na lista de portugueses que foram MVP na prova.
O título europeu garantiu desde já a presença no Mundial da categoria, que se realiza ainda este ano, entre 3 e 27 de novembro, no Qatar. Roubar o troféu à Alemanha é o objetivo de Portugal, que apenas esteve em quatro das 19 edições mundiais e que tem no 3.º lugar de 1989 (o selecionador Bino fazia parte da equipa) como melhor classificação até agora.
Da baliza ao ataque, há mais quem se destaque na seleção portuguesa
Além de Rafael Quintas, também Romário Cunha, Daniel Benjaqui e Duarte Cunha se destacaram na equipa portuguesa.
Romário Cunha: Nascido em Ribeira de Pena (Vila Real), o guarda-redes do Sporting de Braga foi um dos totalistas do selecionador Bino. Crucial para ajudar Portugal a ser a defesa menos batida da competição (3 golos sofridos). A exibição diante de Itália, nas meias-finais, permitiu à equipa das quinas chegar à final. Romário Cunha defendeu três penáltis, no desempate após os noventa minutos.
Daniel Benjaqui: O lateral-direito do Benfica demonstrou grande capacidade ofensiva e defensiva ao longo do torneio, fruto de uma velocidade uma capacidade física acima do normal para a idade. Nascido em Lisboa, tem dupla nacionalidade portuguesa e guineense, Benjaqui foi o guarda-costas ideal de Duarte Cunha, autor do golo à Alemanha, aos 89 minutos, que colocou Portugal nas meias-finais.
Mateus Mide: Médio com características ofensivas e técnica requintada, também joga a extremo esquerdo. Mide nasceu no Porto e é dono de um futebol irreverente, onde se destacam o drible e o acerto no passe - foi o rei dos passes decisivos no Europeu. Produto do Dragon Force, é filho de Mide, um ex-futsalista brasileiro e treinador do Leixões, joga nos juniores do FC Porto e já assinou contrato profissional.
Duarte Cunha: Vestiu a camisola 7 da seleção e destacou-se pelos golos nos últimos dois jogos do Europeu. Natural de Vila Nova de Cerveira (Viana do Castelo), o extremo-direito do FC Porto começou a carreira no clube local, chegando aos dragões com nove anos. Assinou o primeiro contrato profissional no ano passado.
isaura.almeida@dn.pt