A época desportiva 2023-24 teve mais 2780 incidentes em espetáculos desportivos face à temporada anterior, embora os episódios de violência física e verbal tenham descido consideravelmente. Segundo o Relatório de Análise da Violência Associada ao Desporto (RAViD), o Ponto Nacional de Informações sobre Desporto (PNID) registou um total de 8879 incidentes na época passada, a maioria no futebol (8213) e em jogos da I Liga (4031).De acordo com o relatório a que o DN teve acesso, a posse/uso de artefactos pirotécnicos teve “uma forte subida”, passando de 3033 para 5673, representando 64% do total dos incidentes da época passada.Só na I Liga de futebol foram registados 3443 casos de uso/posse de foguetes e tochas, o que representa 85% dos incidentes reportados em todos os campeonatos de futebol (4031). Ainda neste campo, a maioria das ocorrências foram registadas em eventos com Benfica, Sporting e FC Porto, incluindo jogos de futsal, a segunda modalidade com mais casos reportados (432).“Este fenómeno [pirotecnia], cuja perigosidade é subestimada e normalizada, acompanha a tendência europeia do pós-pandemia de covid-19”, segundo escreve no relatório Rodrigo Cavaleiro, presidente da Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto (APCVD).O uso de artefactos pirotécnicos esteve na origem da grande maioria das interdições de acesso a recintos desportivos. Ao longo da época passada entraram em vigor 583 interdições, o que constitui um aumento de 21,1% comparativamente às 473 da época 2022-23. “Trata-se do número mais elevado de sempre de medidas de interdição que entraram em vigor numa só época desportiva em Portugal”, segundo o relatório, que destaca a tendência crescente de aplicação destas medidas como resultado da premente intervenção das forças de segurança e da celeridade e eficiência da intervenção das autoridades administrativas e judiciárias. Das 583 medidas de interdição entradas em vigor na época passada, 483 resultam de decisão da APCVD e as restantes 90 por autoridades judiciárias.Menos violênciaNa época passada verificou-se ainda uma quase duplicação das injúrias (de 468 para 717), mas, depois do aumento da pirotecnia, o destaque é a descida dos casos de “incitamento à violência, ao racismo, à xenofobia e à intolerância”, com 114 episódios, menos 67 do que os registados na época 2022-23 (181), bem como as “agressões”, que baixaram de 343 para 302 (menos 41 incidentes).A diminuição de ofensas à integridade física, participação em rixa, injúrias e ameaças são destacadas no documento por Luís Carrilho, o diretor nacional da PSP, que promete manter “como prioritário o combate à violência, racismo, xenofobia e intolerância associadas ao desporto e a preservação dos valores e da ética”.Para isso, Luís Carrilho defende a “abordagem multi-institucional, integrada e equilibrada com as diversas entidades, nomeadamente com a APCVD, autoridades judiciárias e as forças de segurança para que o desporto se constitua como um espaço seguro, protegido e acolhedor”.Em jeito de aviso, o RAViD diz que “não será de excluir que a tendência europeia” das invasões de campo, que em Portugal passaram de 140 em 2022-23, para 168 na última época, “tenha impacto mais notório nos números relativos à época em curso”.isaura.almeida@dn.pt