Pedro Gonçalves quer ajudar Angola a alcançar a “imortalidade”

Pedro Gonçalves quer ajudar Angola a alcançar a “imortalidade”

Selecionador dos Palancas Negras esteve 16 anos ligado ao Sporting, onde treinou Rafael Leão e outros jogadores a quem José Peseiro deu palco. Ultrapassou críticas, uma impugnação federativa, falta de dinheiro, renúncias e indisciplina para fazer história e conduzir angolanos aos quartos-de-final... hoje.
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O Nigéria-Angola de hoje (17.00, SportTV), em Abidjan, na Costa do Marfim, é também um duelo entre dois treinadores portugueses. José Peseiro, um ribatejano de Coruche que é selecionador nigeriano desde 2022, e Pedro Gonçalves, um lisboeta com raízes em Chaves que orienta os Palancas Negras desde 2018, procuram uma inédita presença nas meias-finais da Taça das Nações Africanas (CAN).

Falar de Pedro Gonçalves é falar da formação do Sporting, pois acompanhou o nascimento da Academia, em Alcochete, e lá esteve durante 16 anos. Entrou como scouting e passou a treinador. Foi campeão nacional 11 vezes , com jogadores como João Mário, Ricardo Pereira, Cédric Soares, Daniel Podence e Eric Dier. Na última geração a seu cargo, antes de rumar a Angola, estiveram Rafael Leão, Thierry Correia, Rúben Vinagre, Miguel Luís e Luís Maximiano, entre outros da chamada geração de 1999, que José Peseiro promoveu quando assumiu o comando do Sporting na fase turbulenta pós-Bruno de Carvalho (2018-19).

O percurso do técnico de 47 anos começou em 2015, no 1.º de Agosto, onde se sagrou campeão nacional antes de entrar nos quadros da Federação Angolana de Futebol em 2018. Primeiro treinou os sub-17, depois os sub-20 e os sub-23, antes de assumir a seleção principal. Falhou o objetivo de levar os Palancas Negras ao Mundial 2022, mas apurou-os para a CAN.

“O regozijo que sinto agora significa anos de muito sacrifício, resiliência e muita capacidade de suportar críticas infundadas, muitas vezes não relacionadas com o trabalho. Foi preciso ser muito persistente e acreditar no trabalho que estávamos a fazer”, contou ao DN, confessando que “o melhor de tudo é ver Angola a identificar-se com a sua seleção, algo que não se via há mais de uma década”. Prova disso é o assédio das maiores empresas do país para os jogadores entrarem em campanhas publicitárias. O Banco Keve, por exemplo, promete oferecer a cada jogador oito milhões de kwanzas (8842 euros). Se é motivador ou desconcertante, o jogo de hoje dirá.

Dos problemas à glória

“Vicissitudes” e “contrariedades” são as duas palavras que mais têm acompanhado Pedro Gonçalves nestes quatro anos e meio: “As dificuldades financeiras limitaram-nos todos os dias e todas as ações, até mesmo na preparação da CAN. Atravessamos uma pandemia e uma impugnação depois de um ato eleitoral no país, que impediu a direção da Federação de tomar decisões durante sete meses.” Nada que os tenha impedido de garantir a presença na CAN na última tentativa. E agora estão prontos para lutar por um lugar numa inédita meia-final. Segundo o selecionador, mais importante do que isso é ver lançados os alicerces para o futuro do futebol angolano, que tem Gelson Dala como estrela maior e Mabululu como grande destaque. 

Em plena competição, o médio angolano Beni Mukendi renunciou à seleção devido à condição de suplente e Loide Augusto foi afastado por indisciplina. Tudo em nome de uma união de grupo que pode ganhar jogos quando as pernas começarem a faltar. Chegar aos quartos-de-final não foi um acaso. Segundo Pedro Gonçalves, na reunião de preparação para a CAN a equipa técnica, a estrutura da federação e a equipa estabeleceram que, caso chegassem aos quartos-de-final - uma das metas -, o objetivo passaria a ser a “imortalidade”. Por outras palavras: “Chegar à final e ganhá-la.” 

Pedro Gonçalves acredita que qualquer um dos oito finalistas pode erguer o troféu, até porque os crónicos favoritos já saíram de cena. Ultrapassar a favorita Nigéria de José Peseiro é a missão de hoje: “Mesmo não tendo uma relação estreita com ele, temos trocado mensagens de incentivo mútuo, mas chegou e a hora de nos defrontar-mos com uma certeza: haverá um treinador português nas meias-finais. A Nigéria é uma seleção muitos consistente, com um bloco defensivo forte, que tem jogadores robustos e muito talentosos como Victor Osimhen e Ademola Lookman, muito bem liderada por José Peseiro.”

O histórico do duelo entre as duas seleções é equilibrado, contabilizando-se sete empates, três vitórias para a Nigéria e duas para Angola, que já não estava numa grande competição desde o Mundial 2006.

Tal como Pedro Gonçalves também José Peseiro enfrentou turbulência interna e críticas, que têm vindo a ser ultrapassadas. O treinador de 63 anos confessou que, desde que assinou contrato com a Nigéria, o objetivo é vencer a CAN. “Angola tem jogado muito bem e se quisermos vencê-los temos de dar o nosso melhor”, elogiou Peseiro, admitindo que é uma pena um dos técnicos portugueses ficar pelo caminho.

isaura.almeida@dn.pt

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