Destemida, resiliente, reservada, sensível, vaidosa, discreta e… poupada, são algumas das características que definem a mais recente medalhada olímpica de Portugal: Patrícia Sampaio, a judoca que hoje conquistou a medalha de bronze na categoria -78 Kg. É a primeira de Portugal em Paris2024 e a 29.ª da história do desporto nacional..Passados quase quatro anos após ser eleita estrela em ascensão pela Federação Internacional de Judo (IJF), a atleta nascida em Tomar a 30 de junho de 1999 chegou ao pódio olímpico, tornando-se na 6.ª mulher portuguesa de sempre com uma medalha olímpica. Foi em Paris que a futura jornalista arrecadou um bronze que a coloca no lote de judocas portugueses medalhados, a par de Nuno Delgado (Sydney, -81 kg), Telma Monteiro (Rio2016, -57 kg) e Jorge Fonseca (Tóquio2020, -100 kg). Todos de bronze..A felicidade que irradiava no pódio é algo que ela ainda não tinha palavras para classificar muitas horas depois. “Isto parece tudo um sonho, e era um sonho”, disse a judoca da Sociedade Filarmónica Gualdim Pais. “É muito especial. Em Tóquio, foi muito especial ter sido a primeira atleta olímpica a representar um clube de Tomar. Só aí já foi história para a minha cidade. Agora, para além de ser história para a cidade, é história para o país”, enalteceu a atleta, que tem em Jigoro Kano, o fundador do judo mundial, a grande referência..O desporto é uma coisa de família. Filha de uma professora e de um ex-jogador de futebol que jogou no Estrela da Amadora e no União de Tomar, Sampaio loves judo (em português - Sampaio ama o judo), como se auto intitula nas redes sociais. É treinada pelo irmão mais velho, Igor Sampaio, o grande responsável por ter ido para o judo aos sete anos. Isso gerou um duelo de irmão no tatami durante anos e, segundo ele já confidenciou, “era raro o treino em que ela não saía de lá a chorar”, mas voltava sempre para mais uma “discussão de meia-noite”..Patrícia adorava praticar desporto, mas “só era boa no judo” e foi continuando até começar a competir e ganhar medalhas... treinada pelo irmão Igor depois dele ser convidado para ser instrutor da Sociedade Filarmónica Gualdim Pais (Tomar). “Gosto da resiliência que adquirimos ao superar obstáculos e a sensação que advém disso. Para mim é uma modalidade muito técnica e muito bonita de assistir”, confessou a judoca..Como qualquer atleta de alta competição, o caminho até ao topo teve obstáculos que ela foi ultrapassando com mais ou menos dificuldade. Os anos de 2020 e 2021 ficaram marcados pelas lesões. Em outubro de 2020, sofreu uma fratura na perna direita no Grand Slam de Budapeste e teve vários meses parada. Ganhou peso e perdeu confiança, mas teve o colinho da avó Alcina, a sua fã número um. “Era acordar, ir para o sofá com a minha avó e passar lá o dia. Ela é que ficou contente!”, disse numa entrevista ao site da Universidade Nova, onde estuda Ciências da Comunicação..Em abril de 2021 voltou a lesionar-se, em pleno europeu de Lisboa, e recorreu à “ajuda de uma psicóloga para lidar com a gestão de expectativas e a parte emocional”, acabando por conseguir qualificar-se para os Jogos de Tóquio, onde terminou em 9.º lugar. Em Paris foi mais feliz. .Dia (quase) perfeito.Sem surpresa, entrou a vencer a queniana Zeddy Cherotich, mas provocou um imenso silêncio na Arena Champ-de-Mars ao eliminar a francesa e vice-campeã em título Madeleine Malonga e, depois, a também favorita Zhenzhao Ma, da China. Foram três combates decididos por ippon. .Mas o alinhamento das meias finais colocava no caminho da portugesa a líder mundial - e agora nova campeã olímpica - Alice Bellandi, que já lhe tinha ganho sete vezes. Bellandi pontuou primeiro, chegou ao waza-ari e, com a inteligência que lhe é característica, soube gerir o combate. Relegada para a luta pelo bronze com a japonesa Rika Takayama, Patrícia Sampaio selou o dia perfeiro com um duplo waza-ari e garantiu a medalha de bronze, que é também a quarta na história olímpica do judo nacional..“Mesmo quando perdi a meia-final, não deixei que isso me afetasse. Saí do combate, limpei a cabeça, vamos para um combate novo e acho que isso foi muito importante. Sabia bem a estratégia que tinha de fazer”, disse no final, antes mesmo de subir ao pódio e correr a abraçar o selecionador Marco Morais e o irmão/treinador Igor, além da amiga Maria Siderot, Taís Pina, Catarina Costa, João Fernando e Telma Monteiro, que está em Paris a convite do Comité Olímpico de Portugal. .Para Patrícia Sampaio, o judo português pode alcançar mais medalhas e “tornar isso uma constante nas participações nos Jogos Olímpicos”. O bronze dela contrastou com a queda de Jorge Fonseca (-100 kg) na estreia, perante aquele que era o campeão olímpico, o japonês Aaron Wolf. O medalhado em Tóquio acabou derrotado por ippon..A competição de judo individual em Paris2024 termina amanhã com a entrada em cena da judoca Rochele Nunes (+78 kg)..isaura.almeida@dn.pt