Pandemia roubou 595 milhões e levou 3100 clubes e 16 mil empregos
Uma quebra estimada de 595 milhões de euros de valor acrescentado bruto e perda de cerca de 16 mil postos de trabalho em 2020. É este o valor do impacto da pandemia no desporto, segundo um estudo dos comités olímpico e paralímpico de Portugal e a Confederação do Desporto, feito pela consultora PwC e esta segunda-feira apresentado no Jamor.
Em 2019, o setor do desporto em Portugal terá gerado um Valor Acrescentado Bruto (VAB) de €4 210 milhões e 133 mil empregos (impactos diretos, indiretos e induzidos), traduzindo-se num peso de 2.3% no VAB e 2.8% nos postos de trabalho nacionais. Em 2020, o VAB desceu 595 milhões e acabou com quase 16 mil postos de trabalho.
Como? A covid-19 levou a limitações impostas à prática desportiva, cancelamento e adiamento de eventos, redução do número de praticantes, e consequente perda de receita, redução de postos de trabalho e de remuneração. Assim como à extinção de 3100 clubes.
Em 2020, contrariando a tendência crescente dos últimos 10-15 anos, o número de praticantes inscritos nas federações registou uma quebra acentuada devido à pandemia "na casa dos 100 mil (110 mil), sendo que apenas nos Açores se verificou um aumento", segundo o estudo.
A maioria dos abandonos deu-se no futebol, modalidade que tem agora 195,7 mil praticantes, quase quatro vezes mais do que o voleibol, a segunda modalidade mais representativa (53,3). Quanto ao número de atletas inscritos, registou-se uma queda de 55% - na formação foi de 65%.
Para José Manuel Lourenço, o estudo "simboliza a discriminação que o desporto foi alvo". Segundo o presidente do Comité Paralímpico de Portugal, "faltaram apoios do Governo" e foram as autarquias que permitiram que os contratos programa fossem rigorosamente cumpridos. "O problema atingiu quem não tem voz, os clubes e movimento associativo mais pequenos, e não o alto rendimento. Os custos e o impacto não foram sobre a alta competição, embora vá ter reflexos nos próximos anos", alertou José Manuel Lourenço.
Uma opinião partilhada pelo presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino, para quem a "participação financeira das autarquias junto do movimento associativo é, nos países europeus, sempre superior à dos governos". No caso de Portugal, é "significativamente inferior em cerca de 40% daquilo que é a média de apoio europeu". O papel das autarquias "tem sido muito relevante" face à falta de políticas centrais do governo.
Já Carlos Paula Cardoso, da Confederação do Desporto de Portugal, lembrou que além dos cortes, o desporto sofreu um aumento de custos: "Com os testes, as vacinas, o que é um acréscimo muito grande, nomeadamente em modalidades de combate, o acréscimo é estrondoso."
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