Os números que explicam o enorme potencial físico do fenómeno da natação portuguesa Diogo Ribeiro
Diogo Ribeiro entrou na ribalta mediática com os recentes três títulos mundiais júnior (50m e 100m mariposa e 50m livres) e o bronze nos Europeus absolutos. Nunca se viu fenómeno assim na natação portuguesa. E se já há quem lhe chame o "Michael Phelps português", outros acreditam que pode superar Alexandre Yokochi e tornar-se o melhor nadador português de sempre. Yokochi tinha 20 anos quando conquistou a primeira medalha absoluta para Portugal (prata nos Europeus de 1985); Diogo conseguiu esse feito com 17 anos (bronze nos Europeus de agosto). Michael Phelps, a maior referência da história da natação, tinha 16 quando ganhou o ouro nos 200m mariposa, nos Mundiais absolutos de 2001.
"É comparar o incomparável. A natação, na altura do Yokochi, nos anos 1980 e 1990, nada tinha a ver com a atual e comparar um jovem que ainda é júnior com o atleta [Phelps] mais medalhado de sempre nos Jogos Olímpicos [28] também não é uma análise justa. É como comparar um F1 e um carro desportivo", disse ao DN Tiago Barbosa, eleito melhor investigador do mundo em desportos náuticos, pela terceira vez consecutiva, pela Expertcase, organização que identifica e qualifica conteúdos médicos/científicos especializados.
De Yokochi (também finalista nos 200m bruços nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984. terminando a prova em sétimo lugar) não há dados (nem o próprio os tem), mas é indesmentível que há parâmetros em que o jovem Diogo e Phelps, a maior referência mundial da natação, estão muito próximos: "No fundo, e analisando os números, têm características físicas e formologia muito parecidas. Proporcionalmente ambos têm pernas mais pequenas que o corpo e essa é uma grande vantagem para os nadadores em termos aerodinâmicos. Pode mesmo dizer-se que o Diogo é um Phelps mais pequeno."
Mas o que faz do jovem nadador do Benfica tão especial aos 17 anos? Os chamados parâmetros de avaliação antropométrica podem ajudar a explicar (ver gravura). Diogo tem uma envergadura (1,90 metros) superior à estatura (1,83m). Ou seja, a medida que vai do dedo médio da mão direita ao dedo médio esquerdo é superior à altura em sete centímetros (no caso de Phelps era de 10, uma vez que media 1,93m e tinha uma envergadura de 2,03m). Também o índice de massa corporal (divisão do peso pela estatura em metros quadrados) do português (22.1) é idêntica à do nadador norte americano já retirado da competição (22.3).
Quando se avalia um nadador são tidos em conta alguns parâmetros do corpo, como a área da mão (largura e cumprimento), medidas dos membros inferiores e superiores, estatura, envergadura, a largura dos ombros face à largura da anca e o rácio envergadura-estatura, talvez o mais relevante e que, no caso de Diogo Ribeiro, é muito próximo ao de Michael Phelps (1.04 contra 1.05 do norte americano).
A amplitude do movimento do pé é mais importante que o tamanho, por exemplo. No caso do Phelps era de 15 graus, o que é sobrehumano, segundo os especialistas. No caso de Diogo ainda é desconhecido. "Se a área da mão e do pé não é a ideal tem de se encontrar uma forma de compensar isso de alguma forma. E aqui entram as estratégias para minimizar esse ponto fraco anatómico", explicou ao DN o investigador que colabora com a Federação Portuguesa de Natação (FPN), com o Comité Olímpico de Portugal (COI) e a Federação Internacional de Natação (FINA).
O talento, obviamente, e tal como em qualquer desporto, também entra na equação. E no caso de Diogo Ribeiro, que na semana passada conquistou três títulos mundiais júnior (50m e 100m mariposa e 50m livres), depois de um bronze absoluto nos Europeus, esse é mesmo o fator diferenciador: "Ele tem um enorme potencial do ponto de vista físico, mas tem algo muito importante do ponto de vista do alto rendimento, que é a maturidade, misturada com uma grande serenidade e motivação, que só se encontram nos grandes nadadores."
E mais do que pontos francos, nesta altura Diogo tem "enormes potencialidades". Até agora era mais importante a qualidade da técnica e o fator psicológico. E quando passar a sénior (já em outubro quando voltar aos treinos com o treinador Albertinho, no Centro de Alto Rendimento, no Jamor) "vai-se valorizar a questão mais física, a desenvoltura da massa muscular, a velocidade e execução dos movimentos". E aí o índice de massa gorda (8% - o dobro da que Phelps tinha no auge) irá baixar.
Os campeões júnior nem sempre conseguem fazer transitar o talento para a idade sénior. Esse é também "o grande desafio" de Diogo Ribeiro neste momento, segundo Tiago Barbosa, que tem mais de 200 artigos publicados em jornais e revistas ciêntíficas.
O bronze conquistado pelo português nos Europeus absolutos vai ajudá-lo a perceber que é possível manter o nível entre os melhores. Afinal esse foi um momento histórico para Portugal, que só tinha duas medalhas em provas internacionais de piscina longa: Yokochi (prata nos Europeus de 1985) e Alexis Santos (bronze nos Europeus de 2016).
Já Phelps, que se retirou em 2016 após os JO do Rio de Janeiro, aos 31 anos, é de outra galáxia - 28 medalhas olímpicas e 37 recordes mundiais.