"Os marroquinos têm uma verdadeira paixão pelo futebol"

Embaixador do Reino de Marrocos em Portugal há já quatro anos, Othmane Bahnini analisa jogo de hoje, que prevê muito disputado, e diz que para a equipa que ganhar todas as aspirações são legítimas. No seu país, como cá, será todo um povo a apoiar a seleção nacional.

Quais são os trunfos de Marrocos para este jogo dos quartos-de-final frente a Portugal?
A seleção de Marrocos possui várias qualidades técnicas e físicas como tem demonstrado ao longo da sua carreira durante o Mundial do Qatar. Se tivesse de citar uma mais valia, diria que a grande força da seleção marroquina reside na determinação dos jogadores, do treinador e da equipa técnica em garantir a melhor representação possível de Marrocos e do futebol marroquino, atentos às expectativas e aspirações de 35 milhões de marroquinos. Este sentido de dever e responsabilidade leva os jogadores a dar o melhor de si e a sacrificar-se para fazer o povo marroquino feliz e honrar o futebol marroquino.

Ficou impressionado com o resultado do jogo entre Portugal e Suíça e com a atuação de Gonçalo Ramos, que substituiu Cristiano Ronaldo no ataque?
Em primeiro lugar, gostaria de dar os parabéns aos portugueses pelo apuramento para os quartos-de-final do Mundial, graças a esta grande vitória de Portugal, conquistada com arte e jeito como o prova o resultado final de 6-1. Uma nação futebolística por excelência, Portugal tem uma equipa muito boa, com uma mistura inteligente de jogadores experientes como Pepe ou Cristiano Ronaldo e jovens jogadores brilhantes como Gonçalo Ramos. A seleção de Portugal é sempre muito difícil de enfrentar e será necessário abordar esta partida com a mesma disciplina e rigor tático demonstrado pela seleção marroquina durante este Mundial.

A equipa que vencer o jogo de hoje pode aspirar a vencer o Campeonato do Mundo ou pelo menos chegar à final?
Todos os sonhos são obviamente permitidos e até legítimos. Da minha parte, e como o técnico marroquino Walid Regragui, prefiro encarar cada partida como uma final. Estamos agora focados no jogo com Portugal que vemos como uma grande oportunidade para celebrar, mais uma vez, a amizade e as relações seculares entre o Reino e Portugal a todos os níveis incluindo o futebol. Vale a pena lembrar que este é o terceiro encontro entre os nossos dois países no Campeonato do Mundo depois dos de 1986 no México e 2018 na Rússia. Marrocos venceu em 1986 e Portugal em 2018.

A vitória contra a Espanha gerou comemorações em todo o Marrocos e até o rei Mohammed VI saiu para comemorar a vitória. O futebol é uma verdadeira paixão para os marroquinos?
Com efeito, assim que terminou o jogo com a Espanha, os marroquinos deslocaram-se espontaneamente a todas as cidades do Reino, de Rabat a Laayoune ou de Marraquexe a Oujda, para festejar em uníssono esta histórica qualificação para os quartos-de-final do mundial. Sua Majestade o Rei partiu para Rabat para compartilhar a felicidade, a alegria e o júbilo com o povo marroquino. Uma nação futebolística por excelência, Marrocos e os marroquinos têm um amor e uma verdadeira paixão pelo futebol. Marrocos sempre deu grandes nomes ao futebol, a começar pelo saudoso Larbi Benbarek, apelidado de pérola negra, antes do nascimento do Rei Pelé, a quem desejo rápidas melhoras. Marrocos foi o primeiro país árabe e africano a classificar-se para os oitavos de final do Campeonato do Mundo de 1986, no México, ao ficar em primeiro lugar num grupo formado por Inglaterra, Polónia e Portugal. Com a classificação para os quartos de final, Marrocos também se torna o primeiro país árabe a chegar a esta fase da competição. Esta longa e rica história dá ao futebol em Marrocos um lugar único e excecional. No passado, o futebol era considerado um desporto masculino e seguido principalmente por homens. Desde então, ocorreu uma verdadeira mudança social no sentido de que o futebol feminino também está a progredir em Marrocos, que além disso organizou a última Taça Africana de Futebol Feminino e também conseguiu classificar-se para a Taça do Mundo Feminina de futebol que acontecerá na Austrália e Nova Zelândia em 2023. Nas ruas de Marrocos como no Qatar, homens e mulheres de todas as idades torcem e incentivam a seleção nacional.

Após a eliminação dos qataris, dos sauditas e dos tunisinos, os marroquinos começaram a ser apoiados nos estádios do Qatar como a equipa de todos os árabes. Será isto uma surpresa?
Deixe-me discordar de si sobre este ponto. Desde a primeira partida contra a Croácia, o público árabe apoiou a equipa marroquina sem esperar pela eliminação dos outros países árabes participantes no Campeonato do Mundo (Qatar, Arábia Saudita e Tunísia). Este apoio do público árabe não é de todo uma surpresa para nós, porque faz parte da normalidade das coisas. Não devemos esquecer que esta é a primeira vez que um país árabe acolheu o Campeonato do Mundo e é bastante normal que em solo árabe, o público árabe apoie uma seleção nacional árabe. Marrocos também beneficia do apoio do público africano que vê a equipa marroquina como o último representante do futebol africano. Esta dupla filiação árabe e africana certamente dá a Marrocos o apoio de adeptos árabes e africanos, mas também lhe confere a pesada responsabilidade de representar o futebol árabe e africano com homenagem e honra. Gostaria de aproveitar esta oportunidade para felicitar fortemente o Qatar pela organização perfeita deste Campeonato do Mundo. O Qatar honrou todos os árabes pela qualidade da organização deste Campeonato do Mundo, facilitando assim o caminho para a equipa marroquina continuar a sua marcha para defender automaticamente o futebol marroquino, árabe e africano nos estádios do Qatar como seleção de todos os árabes.

leonidio.ferreira@dn.pt

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