"Primeiro entre os primeiros". Os Águias de Alpiarça fazem por honrar o lema cravado na escultura do artista da terra, Armando Ferreira, que embeleza a praça em frente à sede do centenário clube ribatejano. Depois de ontem ter festejado 100 anos, mais do que olhar para os troféus que espelham um passado glorioso a nível local, há que olhar para o futuro. A presidente Luísa Gargalo é a imagem do progresso do clube de Alpiarça, que ganhou expressão nacional nos anos de 19 60 e 1970 à boleia do ciclismo e de nomes como Marco Chagas..Reza a lenda popular - João Florêncio, presidente da Mesa da Assembleia Geral, conta-a como sendo uma verdade absoluta e inquestionável - que foi a necessidade que fez o engenho. Neste caso, a paixão pelo ciclismo enraizada nos alpiarcenses. Lá para os anos de 1920 a bicicleta tornou-se um meio de transporte muito sedutor para quem tinha de ir trabalhar para o campo. Podia não haver pressa para ir trabalhar, mas no regresso a casa, depois de um duro dia de trabalho na lavoura, era um ver-se-te-avias para chegar a casa. Assim começaram os duelos nas estradas planas da Lezíria, região onde ainda hoje o melão, o tomate e o milho são a principal fonte de rendimento de um concelho com pouco mais de sete mil habitantes, sendo que um em cada sete tem coração de águia rubro-negra..Segundo o livro de José João Marques Pais, "A História do Ciclismo em Alpiarça", em 1927, cinco anos depois da fundação (1 de outubro de 1922), Manuel Simões de Oliveira, de 18 apenas anos, padeiro de profissão, inscreveu-se na 1ª Volta a Portugal em bicicleta e terminou em 6.º lugar na sua categoria. "Foi o primeiro ídolo do ciclismo em Alpiarça." Outros se seguiram, como João Bento, António Pires, Agostinho Correia e Lima Fernandes, além de Marco Chagas. As fotografias numa parede da sala de sócios não deixa dúvidas quanto ao orgulho de eles terem sido atletas do clube. A camisola amarela que Marco Chagas vestiu na Volta a Portugal e o troféu por equipas ganho em 1977 destacam-se na sala-museu, onde até cabe uma escultura de Nossa Senhora de Fátima oferecida ao triatlo, uma das modalidades que mais projetaram o clube e que já teve um atleta nos Jogos Olímpicos: Miguel Arraiolos, filho da presidente, que esteve no Rio de Janeiro em 2016..Com as contas em dia - uma raridade nos tempos que correm e que muito orgulha Luís do Vale, o diretor financeiro -, um pavilhão renovado e um orçamento que varia entre os 150 e os 180 mil euros por ano, o clube tem 18 modalidades e vive muito do voluntariado e da boa vontade dos dirigentes, incluindo da presidente Luísa Gargalo, eleita pela primeira vez em 2015. Trata-se de uma antiga ginasta do clube, licenciada em Desporto e técnica de Desporto na Câmara Municipal de Alpiarça, que vira o centenário na liderança de uma direção onde sete dos dez elementos são mulheres..O seu nome foi lançado por João Florêncio. "Não foi por ser mulher, mas pela competência. Foi a solução ideal para a crise desportiva e financeira vivida na altura. O clube deixou de ter défice e vive agora com algum desafogo. Tem provado que não há homens a fazer melhor, se bem que isto não é uma competição de género. Ela teve vontade na altura certa e o clube não seria hoje aquilo que é se não tem avançado em 2015", realçou o presidente da Mesa da Assembleia Geral. Luísa Gargalo sorri e admite que "o início não foi fácil"..Segundo a presidente o género não lhe trouxe complicações ao contrário da falta de tempo. "A dinâmica do clube cresceu imenso e liderar um clube nas horas livres é curto. Já são precisas pessoas que trabalhem a 100% para acompanhar tudo. São muitas horas e muita gente a exigir de nós algo que temos damos forma benévola e não é fácil responder a tantas solicitações. Eu gosto, sou uma apaixonada pelo desporto e isto é um desafio", disse ao DN, admitindo que a missão exige mais gestão que paixão..Luísa Gargalo sabe que é uma das poucas mulheres a presidir um clube em Portugal, um país onde "o dirigismo ainda é um mundo de homens" e onde apenas três federações olímpicas são lideradas por mulheres. Ainda assim garante que no caso dela "não houve barreiras machistas a ultrapassar". Nem mesmo no futebol, onde a paixão é mais exacerbada e ela até é tratada por "senhora presidente". A mesma que um dia pediu desculpa, em nome do plantel, pelas ofensas ao presidente do conselho de arbitragem regional, proferidos durante os festejos de subida de à I Divisão da Associação de Futebol de Santarém. Um raspanete público pelo comportamento "deplorável", que "em nada dignificaram os valores do clube", que tem cerca de 1000 sócios e outros tantos praticantes..Ter dimensão nacional e abraçar o profissionalismo são "sonhos" que passam para segundo plano para Os Águias de Alpiarça face ao desejo de formar "heróis locais" e "criar hábitos desportivos de formação nos atletas do amanhã"..isaura.almeida@dn.pt
"Primeiro entre os primeiros". Os Águias de Alpiarça fazem por honrar o lema cravado na escultura do artista da terra, Armando Ferreira, que embeleza a praça em frente à sede do centenário clube ribatejano. Depois de ontem ter festejado 100 anos, mais do que olhar para os troféus que espelham um passado glorioso a nível local, há que olhar para o futuro. A presidente Luísa Gargalo é a imagem do progresso do clube de Alpiarça, que ganhou expressão nacional nos anos de 19 60 e 1970 à boleia do ciclismo e de nomes como Marco Chagas..Reza a lenda popular - João Florêncio, presidente da Mesa da Assembleia Geral, conta-a como sendo uma verdade absoluta e inquestionável - que foi a necessidade que fez o engenho. Neste caso, a paixão pelo ciclismo enraizada nos alpiarcenses. Lá para os anos de 1920 a bicicleta tornou-se um meio de transporte muito sedutor para quem tinha de ir trabalhar para o campo. Podia não haver pressa para ir trabalhar, mas no regresso a casa, depois de um duro dia de trabalho na lavoura, era um ver-se-te-avias para chegar a casa. Assim começaram os duelos nas estradas planas da Lezíria, região onde ainda hoje o melão, o tomate e o milho são a principal fonte de rendimento de um concelho com pouco mais de sete mil habitantes, sendo que um em cada sete tem coração de águia rubro-negra..Segundo o livro de José João Marques Pais, "A História do Ciclismo em Alpiarça", em 1927, cinco anos depois da fundação (1 de outubro de 1922), Manuel Simões de Oliveira, de 18 apenas anos, padeiro de profissão, inscreveu-se na 1ª Volta a Portugal em bicicleta e terminou em 6.º lugar na sua categoria. "Foi o primeiro ídolo do ciclismo em Alpiarça." Outros se seguiram, como João Bento, António Pires, Agostinho Correia e Lima Fernandes, além de Marco Chagas. As fotografias numa parede da sala de sócios não deixa dúvidas quanto ao orgulho de eles terem sido atletas do clube. A camisola amarela que Marco Chagas vestiu na Volta a Portugal e o troféu por equipas ganho em 1977 destacam-se na sala-museu, onde até cabe uma escultura de Nossa Senhora de Fátima oferecida ao triatlo, uma das modalidades que mais projetaram o clube e que já teve um atleta nos Jogos Olímpicos: Miguel Arraiolos, filho da presidente, que esteve no Rio de Janeiro em 2016..Com as contas em dia - uma raridade nos tempos que correm e que muito orgulha Luís do Vale, o diretor financeiro -, um pavilhão renovado e um orçamento que varia entre os 150 e os 180 mil euros por ano, o clube tem 18 modalidades e vive muito do voluntariado e da boa vontade dos dirigentes, incluindo da presidente Luísa Gargalo, eleita pela primeira vez em 2015. Trata-se de uma antiga ginasta do clube, licenciada em Desporto e técnica de Desporto na Câmara Municipal de Alpiarça, que vira o centenário na liderança de uma direção onde sete dos dez elementos são mulheres..O seu nome foi lançado por João Florêncio. "Não foi por ser mulher, mas pela competência. Foi a solução ideal para a crise desportiva e financeira vivida na altura. O clube deixou de ter défice e vive agora com algum desafogo. Tem provado que não há homens a fazer melhor, se bem que isto não é uma competição de género. Ela teve vontade na altura certa e o clube não seria hoje aquilo que é se não tem avançado em 2015", realçou o presidente da Mesa da Assembleia Geral. Luísa Gargalo sorri e admite que "o início não foi fácil"..Segundo a presidente o género não lhe trouxe complicações ao contrário da falta de tempo. "A dinâmica do clube cresceu imenso e liderar um clube nas horas livres é curto. Já são precisas pessoas que trabalhem a 100% para acompanhar tudo. São muitas horas e muita gente a exigir de nós algo que temos damos forma benévola e não é fácil responder a tantas solicitações. Eu gosto, sou uma apaixonada pelo desporto e isto é um desafio", disse ao DN, admitindo que a missão exige mais gestão que paixão..Luísa Gargalo sabe que é uma das poucas mulheres a presidir um clube em Portugal, um país onde "o dirigismo ainda é um mundo de homens" e onde apenas três federações olímpicas são lideradas por mulheres. Ainda assim garante que no caso dela "não houve barreiras machistas a ultrapassar". Nem mesmo no futebol, onde a paixão é mais exacerbada e ela até é tratada por "senhora presidente". A mesma que um dia pediu desculpa, em nome do plantel, pelas ofensas ao presidente do conselho de arbitragem regional, proferidos durante os festejos de subida de à I Divisão da Associação de Futebol de Santarém. Um raspanete público pelo comportamento "deplorável", que "em nada dignificaram os valores do clube", que tem cerca de 1000 sócios e outros tantos praticantes..Ter dimensão nacional e abraçar o profissionalismo são "sonhos" que passam para segundo plano para Os Águias de Alpiarça face ao desejo de formar "heróis locais" e "criar hábitos desportivos de formação nos atletas do amanhã"..isaura.almeida@dn.pt