"O João Almeida é um nome relevante no ciclismo e um dos favoritos a vencer o Giro"

A 105.ª edição da Volta à Itália em bicicleta arranca já amanhã. O ex-ciclista espanhol lança a prova no DN, colocando o português da UAE Emirates no lote dos principais candidatos à vitória ao lado de Carapaz e Van der Poel.
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Alberto Contador, 39 anos, um dos maiores ciclistas de sempre, vencedor de duas Voltas à França, duas Voltas à Itália e três Voltas à Espanha, vê o português João Almeida (chefe de fila da UAE-Emirates na ausência de Pogacar) como um dos favoritos a vencer o Giro, que arranca esta sexta-feira em Budapeste (Hungria) e termina a 29 de maio em Verona. Já retirado da modalidade, e agora na pele de comentador da Eurosport, fala ainda, nesta entrevista, do ciclismo atual e recorda alguns dos seus maiores feitos.

O que espera desta edição da Volta à Itália que arranca amanhã?
Espero ver muitas surpresas na edição deste ano. Pela minha experiência, o mais importante é ser um competidor regular. Não é necessário ser o melhor, mas sim não falhar e ser regular, sobretudo nas etapas de montanha. Se conseguires isso já tens assegurado um bom lugar na geral. Se cometes um erro no Giro perdes minutos e não décimas ou segundos na classificação. Por isso digo que o mais importante é que o grupo de favoritos esteja concentrado e não cometa erros. Carapaz e Nibali são dois especialistas, tal como Simon Yates, Mikel Landa ou o João Almeida. Vão estar de certeza a um grande nível e será uma concorrência muito boa para a audiência.

Em Portugal há grandes esperanças numa boa prova do João Almeida. Que possibilidades tem ele neste Giro?
O João Almeida é um nome relevante no ciclismo da atualidade. Não só por tudo aquilo que está a conseguir, mas pela sua forma de competir, que tanto o caracteriza. O João Almeida está a crescer muito e se fizer as coisas bem feitas, é um dos meus favoritos para fazer algo de grande nesta Volta à Itália.

E qual é a sua aposta para o pódio final?
Creio que o João Almeida, o Richard Carapaz e o Van der Poel vão disputar os três primeiros lugares da classificação. Mas não sei se por esta ordem. Acredito que estes três têm um pouco mais de possibilidades de vencer do que os restantes.

E relativamente a Tadej Pogacar, que não vai estar no Giro, como o classifica?
É uma verdadeira referência. Tem um talento incrível e ainda por cima está num grande momento de forma. Poucos ou praticamente nenhuns conseguem competir contra ele no um contra um. Ele faz muito bem a gestão da pressão e, se tem alguma falha, normalmente é pela sua capacidade de arriscar. É o grande favorito para vencer este ano a Volta à França.

O futuro do ciclismo está nas mãos de Pogacar, Bernal e Sagan?
Podemos estar tranquilos, porque esta geração ainda tem muitos anos pela frente. Além disso, temos vários jovens que estão a começar a competir em provas importantes e que mostram que a próxima geração também será boa. Sagan é dos mais veteranos, mas ainda nos vai proporcionar grandes momentos. Depois temos o Evenepoel, Van der Poel, Pogacar, que ainda têm uma longa vida pela frente.

Que etapas destaca mais na Volta à Itália?
O Giro deste ano vai ser muito exigente desde o primeiro dia, mas existem duas etapas que estão acima das outras. A primeira é a que será corrida em torno de Mortirolo e a outra é a 20.ª, em Passo Fedaia, porque é muito dura, perto do final da prova, e que não permite que ninguém esteja relaxado. Depois, ao quarto dia, já temos a Etna. O percurso deste ano é muito interessante.

Qual é a principal diferença do Giro em relação à Volta à França e de Espanha?
O mais especial no Giro é que se trata de uma prova onde se vive mais o dia a dia e onde os ciclistas têm de competir mais no um contra um, ao contrário do que acontece em França ou em Espanha. Há menos bloqueios no Giro. Outro pormenor importante é que a Volta à Itália exige ao ciclista a máxima adaptação às condições climatéricas, que praticamente se tornam numa questão de sobrevivência.

Que opinião tem do ciclismo atual e o que é diferente em relação ao seu tempo?
Não creio que existam assim tantas diferenças, apenas detalhes relacionados com os treinos e a preparação. Talvez também tenham mudado algumas especificações técnicas e mecânicas, mas sinceramente não vejo grandes diferenças. O que me parece importante realçar é a parte da nutrição e da recuperação dos ciclistas. Mas isto é aplicável a todos os desportos.

Qual o momento que mais recorda de toda a sua carreira?
Se tiver de eleger um só momento de entre os melhores seria justo escolher o final. Aquela etapa na Volta à Espanha em El Angliru, em 2017, e o dia seguinte que vivi em Madrid foi uma autêntico sonho tornado realidade. Tanto a nível desportivo como humano foi o momento mais bonito que vivi.

E no Giro?
A volta de 2008, evidentemente. Cheguei a essa prova sem qualquer tipo de obrigações e quase sem pressão. Decidi participar e acabei por vencer. Por isso foi um triunfo muito especial.

Foi difícil deixar o ciclismo?
São decisões que nunca são fáceis de tomar, porque eu não tinha bem claro se me queria retirar a um bom nível. Ainda tinha motivação para continuar e até um pré-acordo com a Trek para continuar. Mas achei que era o momento ideal para parar e dar início a um novo capítulo da minha vida. A minha vida continua a ser uma loucura, pois desdobro-me entre a minha faceta empresarial e os comentários na Eurosport. Isto além de ser pai.

O que é necessário para se ganhar uma grande Volta?
O básico e imprescindível é a regularidade durante as três semanas que dura a prova. A partir daí entra o fator psicológico de não poderes relaxar nem um só dia. É um grande desgaste que todos têm de enfrentar. Quem for mais duro nesse sentido é quem tem mais possibilidades de vencer. Uma percentagem de qualidade e de sorte também são bem-vindas, mas o mais importante é a regularidade.

Nota: Perguntas enviadas por e-mail com a colaboração da Eurosport.

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