O ex-jogador e o sócio opositor vão a votos. Jesus une o que a herança de Vieira separa
Francisco Benitez é o rosto mais visível de um movimento de adeptos e desafiou o favorito Rui Costa nas eleições antecipadas do Benfica, três meses depois de o ex-jogador ter assumido a presidência de clube e SAD, face à renúncia de Luís Filipe Vieira, envolvido num processo judicial que o levou a renunciar ao cargo.
Hoje, das 8.00 às 22.00, no Pavilhão n.º 2 do Estádio da Luz, em Lisboa, e em 24 casas do Benfica de norte a sul do país, mais de 200 mil sócios benfiquistas poderão escolher o presidente para os próximos quatro anos (até 2025). Os sócios residentes nos Açores, na Madeira ou no estrangeiro irão votar via online. O presidente da mesa da AG espera uma eleição concorrida e talvez até bater o recorde dos 38 mil votantes do ano passado.
Rui Costa (lista A) concorre pela primeira vez à liderança do clube que representou como jogador (1991-1994 e 2006-2008) e dirigente da SAD (2008 a 2021).O maestro tenta romper com a ideia instituída de ser o delfim de Vieira e apresentou uma lista com apenas cinco elementos da direção que herdou do ex-presidente.
Sob o lema "Por Todos. Com Todos. Benfica", pretende plantéis competitivos, orçamentos sustentáveis e tetos salariais. Quer mais aposta no futebol feminino, a construção de uma Cidade Desportiva para as modalidades, a criação da Casa do Sócio na Luz, uma auditoria às contas da SAD e a expansão do centro de estágios do Seixal.
Com José Eduardo Moniz e João Varandas Fernandes de saída, entram Luís Mendes, José Gandarez e Manuel de Brito, filho do ex-líder do Benfica Jorge de Brito, enquanto Fernando Seara, ex-autarca da Câmara de Sintra e deputado parlamentar, presidirá à Mesa da Assembleia Geral e Fernando Fonseca Santos o Conselho Fiscal.
O bom momento da equipa de futebol afastou possíveis adversários, como Noronha Lopes, e ajuda agora a amealhar pontos para Rui Costa (49 anos). A oposição ficou por isso reduzida a Francisco Benitez (lista B), do movimento Servir o Benfica. O empresário (57 anos) considera o agora presidente um "símbolo do vieirismo" a que sempre se opôs, e por isso não podia deixá-lo ir sozinho a votos.
Pedro Casquinha, Carlos Lisboa Nunes, Bernardo Correia, Pedro Brinca, José Miguel da Luz e Victor Conceição serão vice-presidentes, ao passo que João Pinheiro e Nuno Leite são escolhas para a Mesa da Assembleia Geral e Conselho Fiscal, respetivamente.
Benitez pretende remodelar a composição da administração da SAD e da estrutura do futebol, que passará a ter administradores, diretor desportivo, team manager, diretor de prospeção e responsável pela formação. Quer o futebol feminino integrado na SAD e a treinar no Seixal. Promete também o regresso do râguebi e novas equipas de futebol e voleibol de praia e de eSports. Fazer auditorias regulares e ouvir os sócios sobre a questão do naming do Estádio da Luz são outros objetivos do empresário, que desistiu nas últimas eleições para apoiar João Noronha Lopes.
Pontos comuns às duas listas: diminuição do número de jogadores sob contrato, aposta na formação, estudo do regresso do ciclismo, reforço do projeto olímpico, renovação do Estádio da Luz, relançamento da BTV e uma revisão estatutária... para além de ambos darem um voto de confiança ao treinador Jorge Jesus.
Durante quase duas horas, os dois candidatos debateram ideias para o Benfica na televisão do clube na noite de quinta-feira. Há 21 anos que não se via um frente-a-frente eleitoral. Foi o primeiro desde outubro de 2000, quando o então presidente João Vale e Azevedo esgrimiu argumentos com o candidato Manuel Vilarinho, que viria a vencer as eleições de 31 de outubro desse ano. O debate em si foi de altos e baixos, com alguma tensão entre os dois candidatos, e serviu para ambos reafirmarem ideias e convicções. Se Rui Costa disse que conta com o contestado Domingos Soares de Oliveira na SAD, Benitez insistiu em colar o adversário a Luís Filipe Vieira - acusado de vários crimes económico-financeiros, incluindo alguns que terão lesado o Benfica.
Hoje o clube tenta virar a página. Manter o 34.º presidente ou eleger o 35.º líder dos 121 anos da história encarnada, é o que os sócios vão decidir. Voltar aos títulos no futebol, recuperar do descalabro financeiro - contas da SAD apresentaram um prejuízo de 17, 4 milhões de euros no último relatório e contas-, recuperar a mística vencedora nas modalidades e apagar Luís Filipe Vieira da memória dos adeptos serão os primeiros desafios do presidente eleito.