Números do sucesso de Abel Ferreira no Palmeiras piscam o olho à canarinha

Português foi campeão, bateu recordes de assistências e valorizou o plantel em quase 60 milhões de euros. Tem contrato até 2024, mas clube admite libertá-lo para a seleção do Brasil.
Publicado a
Atualizado a

Nunca se viu um sucesso tão grande e supersónico em 108 anos de Palmeiras! Dois anos, nove finais - falhou a Supertaça do Brasil e o Mundial de Clubes - e cinco troféus - duas Libertadores seguidas (2020 e 2021), uma Copa do Brasil (2020), um Campeonato Paulista e uma Recopa Sul-Americana (2022) - após ser apresentado como treinador do Verdão, o "portuga de Penafiel" conquistou o título que lhe faltava: o Brasileirão.

Ser campeão brasileiro (recebeu telefonemas de felicitações de Marcelo Rebelo de Sousa e Fernando Gomes, presidente da FPF) é a cereja no topo do bolo para o técnico de 43 anos, numa altura em que é apontado como futuro selecionador do Brasil: "Tenho contrato [até 2024] e a minha intenção é cumpri-lo. Como disse, sinto-me muito bem aqui". Abel já mostrou que é um homem de palavra e os adeptos acreditam que vai ficar. E se, horas antes do jogo do título, a presidente Leila Pereira prometeu "fazer o possível e o impossível" para manter o português, durante os festejos já admitiu libertá-lo a custo zero para a canarinha: "É claro que libertaria. Seria uma honra!"

Contratado a 30 de outubro de 2020 para o lugar deixado vago por Vanderlei Luxemburgo, o português enfrentou muita desconfiança e despertou a curiosidade nos adeptos, pela quase ausência de currículo e as curtas passagens pela equipa B do Sporting, Sp. Braga e PAOK (Grécia). E não esqueceu isso durante os festejos do 11.º título do emblema paulista, o último fora conquistado em 2018 por Scolari. "Tive que trabalhar muito, porque toda gente desconfiava e perguntava quem era este tuga que vinha do PAOK. Agora já sabem quem sou e isso é que importa."

Abel foi a quarta opção, depois de o Palmeiras ter sondado Miguel Ángel Ramirez, Jorge Sampaoli e Gabriel Heinze, mas acabou por ser um casamento tão perfeito quanto pode ser uma ligação por conveniência. Chegou ao Brasil em plena pandemia de covid-19 e com pouquíssimo tempo para se preparar e com um desafio gigantesco de comandar uma equipa em reconstrução. E que reconstrução!

Os seis troféus conquistados até agora fazem de Abel o quarto mais titulado de sempre do Palmeiras, sendo que foi o único técnico a ganhar a Libertadores, o Brasileirão, a Copa do Brasil, o Campeonato Paulista e a Recopa (Supertaça) e com esse bónus de ser o único com duas Libertadores (a Champions sul-americana). Além disso, é apenas o terceiro estrangeiro campeão no Brasil, depois do argentino Carlos Volante (em 1959, com o Bahia) e do português Jorge Jesus (em 2019, com o Flamengo).

Líder desde a 10.ª jornada, depois de se libertar da perseguição inicial do Corinthians e do Internacional, o Palmeiras está invicto há 19 jogos e sem perder como visitante até ao momento. Em mais uma temporada marcada pela força do sistema defensivo - uma das imagens de marca de Abel -, a equipa sofreu apenas 22 golos no campeonato e não sofreu em 19 das 35 partidas da época até agora (22 vitórias, 11 empates e duas derrotas). A importância da defesa também se viu no ataque. O defesa central, e capitão, Gustavo Gómez é o segundo melhor marcador da equipa, com nove golos (só atrás de Rony, 12).

A estrutura do Palmeiras permitiu ao técnico manter a base da equipa. Dez dos 32 jogadores do plantel têm mais de 150 partidas pelo clube, incluindo o capitão Gustavo Gómez, Marcos Rocha, Zé Rafael e Dudu. Além disso fez contratações pontuais e lançou novos talentos, como Endrick (cinco jogos, três golos e uma assistência). O jovem fez história aos 16 anos, 3 meses e 4 dias de idade e é já apontado como o futuro melhor jogador do Brasil, ele que foi um dos nove campeões da Copinha lançados.

O Brasileirão é o primeiro título de campeão de Abel e também o primeiro troféu numa competição por pontos e não em jogos a eliminar. E pode ainda conseguir o feito de ser campeão em todos os requisitos estatísticos, algo que, em 19 edições, apenas aconteceu com o Corinthians em 2015.

Até agora, o Palmeiras tem o melhor ataque (63 golos) e a melhor defesa (22 golos sofridos). É ainda a melhor equipa visitante (recorde do Brasileirão, com 17 jogos sem perder, podendo acabar sem derrotas foras se não perder em Cuiabá e Porto Alegre), campeão da primeira volta e da segunda volta (até agora). Só lhe falta ser o melhor nos desempenhos em casa...

Além de ser o campeão mais folgado de sempre, pode bater também o recorde de 80 pontos (tem 77 e ainda faltam jogar três jornadas). Certo é que até ao final da competição, o Verdão irá completar 29 rondas como líder, mais um recorde na história do clube. Resumindo, em dois anos sob comando de Abel, o clube conquistou tantos troféus como os três rivais juntos - Santos, São Paulo e Corinthians - nas últimas sete temporadas.

No balneário, o português adotou o lema "Todos somos um" e fez do "Avanti, Palestra!" um mantra, pedindo para os jogadores terem "a cabeça fria", sem perder o "coração quente". E também por isso Abel não é um mero ativo desportivo, mas um ativo muito rentável a vários níveis.

O prémio atribuído pela Confederação Brasileira de Futebol ao clube campeão é de 45 milhões de reais (8,8 milhões de euros). O título também fez crescer o contrato de patrocínio com a Crefisa em 1,9 milhões de euros. Antes, o Palmeiras já tinha recebido prémios monetários pela Recopa (1,5 milhões), Paulistão (1 milhão), vice-campeão do Mundial de Clubes (4,1 milhões) e pelas campanhas na Libertadores (7,7 milhões) e na Copa do Brasil (860 mil euros)... num total de 25,8 milhões de euros.

E tudo isto aliado a uma capacidade de chegar ao coração dos adeptos e fazê-los estar nas bancadas do Allianz Parque, que tem tido as maiores assistência desde a inauguração em 2014. Em 33 jogos, o Verdão teve em média 34 500 pessoas no estádio. Para o jogo do título, a capacidade foi reduzida por causa do palco montado para acolher a festa do 11.º título do maior campeão do Brasil, que teve um plantel valorizado em 57, 3 milhões de euros desde a chegada do "portuga de Penafiel", como o tratam no Brasil.

Agora, é esperar pelo final do Mundial e perceber se a escolha da CBF para suceder a Tite como selecionador irá ou não recair em Abel. O que a acontecer seria histórico.

isaura.almeida@dn.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt