A segurança do Qatar 2022 é comandada por um português (o superintendente-chefe da PSP Jorge Maurício) e a dos adeptos portugueses em Doha durante o Mundial de futebol passa por um dispositivo de seis elementos da PSP e dois da GNR, numa força policial conjunta liderada pelo superintendente Ribeiro..A boa notícia é que o jogo de estreia de Portugal no Mundial - triunfo sobre o Gana, por 3-2 - "correu extremamente bem" no que aos adeptos portugueses diz respeito. "Não houve qualquer incidente à entrada, durante o jogo ou na noite pós-jogo, quer com os adeptos portugueses, quer com os afetos à nossa seleção, que pela interação que tivemos soubemos que são do Paquistão, Índia, Bangladesh, Goa, África do Sul e alguns países dos PALOP", disse João Carlos Ribeiro ao DN..O também diretor do Departamento de Informações Policiais da PSP reconhece que a falange de apoio à seleção de adeptos não portugueses "surpreendeu" as forças policiais. "Tem sido um caso curioso. Não estávamos à espera. Na interação com essas pessoas, a maior parte pareceu genuinamente adepta a outra parte não dá para perceber. Tivemos alguma dificuldade em falar com eles porque não falam português e só sabem dizer Cristiano Ronaldo", disse, garantindo que "não há evidência de que estejam a ser pagos para apoiar"..Certo é que estes adeptos "emprestados" idolatram o capitão da seleção nacional. Quando foi substituído no jogo com o Gana, muitos abandonaram o estádio e não ficaram para o fim do jogo. Por isso, segundo João Carlos Ribeiro "é inegável que a loucura por CR7 traz preocupações de segurança acrescidas"..O trabalho dos agentes e guardas em Doha tem duas vertentes: "A de cooperação internacional pura e dura, em que colaboramos ativamente com as autoridades do Qatar em termos de riscos e ameaças, e a ligação dos adeptos portugueses com as autoridades do Qatar como da Federação Portuguesa de Futebol e as entidades consulares, nomeadamente a Embaixada Portuguesa.".E a exigência tende a aumentar. Se com o Gana vieram cerca de mil adeptos portugueses - muitos deles a viver no Dubai -, para o jogo com o Uruguai (segunda-feira) são esperados 1700 fãs e para o duelo com a Coreia do Sul de Paulo Bento cerca de 1300 (dia 2). Segundo o superintendente, até agora os portugueses revelaram algumas preocupações ao nível da comunicação, com receio de algum mal entendido que os possa colocar em problemas. Também por isso a força policial portuguesa anda no terreno acompanhada por um oficial local, que fala fluentemente inglês e árabe, e assim conseguem interagir com outras forças menos poliglotas..E a segurança da seleção? "A proteção imediata da seleção tem um dispositivo próprio. Portugal tem todos os passos vigiados, seja no hotel, no centro de estágio ou no caminho para os estádios. A nossa missão é partilhar com eles a informação sensível ou relevante que possa vir a afetar ou condicionar a normal vivência da seleção. Até hoje ainda não foi necessário. Estamos sempre em ligação com eles, mas é um capítulo à parte", respondeu João Carlos Ribeiro, explicando que também é assim com as visitas esporádicas de figuras de Estado, como Marcelo Rebelo de Sousa (na última quinta-feira) ou António Costa (na próxima segunda-feira)..As autoridades do Qatar criaram um pacote de segurança para cada país presente no evento, que contempla a comitiva no geral e a seleção mais em particular: "O dispositivo português que está com a seleção articula diretamente com as autoridades locais. Cada um depende do nível de potencial ameaça de cada equipa ou dos jogadores envolvidos, e, nesse aspeto, tendo um Cristiano Ronaldo Portugal é das que mais atenção merece.".Segundo o superintendente, o contexto de um Mundial no Médio Oriente "é totalmente diferente" comparativamente a outros eventos de igual dimensão, "devido às questões geopolíticas, que geram diferentes preocupações e níveis de ameaça". No entanto, "daquilo que foi partilhado pelas autoridades locais, os níveis de ameaça e os cenários que possam acontecer foram devidamente planeados em cooperação com os respetivos países que estão no Mundial"..O que não impede que a competição esteja sob "o nível de alerta mais elevado de sempre em eventos desportivos do mesmo nível", apesar do auxílio tecnológico "sem precedentes"..E por terem noção do risco e das ameaças que existem fizeram um plano de segurança minucioso. O que obrigou a muita ajuda externa. Com cerca de três milhões de habitantes, o Qatar não tinha forças de segurança suficientes para um evento deste nível, mas contou com a cooperação internacional: "Portugueses somos oito, mas há países com uma intervenção muito superior. A Turquia tem cerca de 3500 polícias no Qatar e haverá números ainda mais elevados. O número de efetivos internacionais é superior à força policial do Qatar.".Apesar de não ter sido noticiado, o DN sabe que houve carga policial sobre adeptos do Gana, após o jogo com Portugal. E hoje, a organização tem um grande desafio pela frente ao nível da segurança entre adeptos. O duelo entre o México e a Argentina está a gerar grande preocupação. O clima entre aztecas e argentinos é muito tenso - levam dois dias de confrontos - e teme-se um escalar da violência após o jogo de hoje, principalmente se a equipa de Lionel Messi for eliminada..O duelo Estados Unidos-Irão, previsto para o dia 29, também preocupa, mas mais por questões extra-futebol. Além disso, os ciberataques são uma ameaça grave, constante e diária..Os ataques ao site da organização e à aplicação da FIFA têm resultado em inúmeros problemas ao nível da bilhética, com milhares de ingressos falsos a circular. Antes do jogo entre a Inglaterra e o Irão, um adepto inglês ficou desesperado ao saber que os dois bilhetes que tinha comprado a 1500 libras cada eram falsos e não poderia assistir à estreia da seleção no Mundial. Mas também tem havido problemas com bilhetes verdadeiros, que desaparecem da aplicação, por intervenção de terceiros, antes dos jogos, e têm criado um grande imbróglio aos serviços da FIFA..Tudo isto são preocupações para o português Jorge Maurício, o superintendente-chefe da PSP e antigo comandante metropolitano de Lisboa que lidera o Projeto Stadia da Interpol desde 2020. Financiado pelo Qatar, o projeto foi criado em 2012 com um horizonte temporal de 10 anos, para servir como polo de investigação, conceção, planeamento, coordenação e treino de planos de segurança e policiamento do Qatar 2022. .isaura.almeida@dn.pt