João Almeida abandonou o Tour por lesão, mas até considera que a preparação para a Volta a França foi bem feita e que isso poderá ditar dividendos em Espanha. Em entrevista ao DN, o ciclista da UAE Emirates assume a ambição para a Vuelta que arranca sábado e diz querer repetir o que fez no Giro de 2023, ou seja, figurar no pódio de mais uma Grande Volta. Aos 27 anos, vinca acreditar poder ganhar uma das três provas de três semanas.Saiu lesionado da Volta a França com uma fratura na costela. Até que ponto isso prejudicou a preparação para a Vuelta?Foi boa a recuperação, dentro dos possíveis, bastante rápida até. Mais rápida do que estávamos à espera. Não foi necessária qualquer cirurgia. Quando voltei à bicicleta e decidi ainda alinhar na etapa seguinte do Tour senti as dores e sabia que era uma lesão que demoraria a sarar, que seriam quatro a cinco semanas até estar completamente bem. Senti cada buraco na estrada. Competir numa Volta a França passou a ser impossível. Já tenho imensos dias de competição. Acho que não afeta não ter feito qualquer corrida de preparação antes da Vuelta. É uma corrida muito longa e os treinos, por si, já foram muito intensos. Não é a preparação ideal, mas é difícil fazer uma boa preparação para esta corrida. Saiu do Tour com a sensação de que podia fazer pódio? Até pelos problemas físicos de Evenepoel e Roglic?Sim, sem dúvida que sim. Mas só íamos descobrir se, de facto, lá estivesse, não é?! É assim, o ciclismo tem destas coisas e resta focar-me no próximo objetivo.Vive atualmente em Andorra. Também a altitude faz diferença para, mais rapidamente, estar em ótima condição? Era impreterível sair de Portugal para a sua carreira?Vivo em maior altitude e nota-se a diferença no meu rendimento. E aqui tenho montanhas, subidas intermináveis, consigo fazer um treino de subida com muita qualidade. Não o conseguiria fazer da mesma forma em Portugal. Posso fazer subidas de uma hora, com séries mais controladas, aos ritmos que preciso. Conheço algumas subidas da Vuelta como a palma da minha mão por viver em Andorra.A Volta a Espanha tem um perfil muito similar em quase todas as épocas. A existência de tantos finais em alto beneficia a estratégia da UAE Emirates?Se tiver pernas, sem dúvida que sim. Podem ser mais oportunidades para ganhar tempo aos rivais. Se não estiver tão bem acaba por ser mau, porque é uma bola de neve, vais perdendo condição física. Habitualmente, bastam-me alguns dias para saber como me sinto e onde posso chegar.Vingegaard venceu duas Voltas a França e foi segundo classificado noutras três. É o maior rival?Sim, sinceramente só aponto ao que ele pode fazer. Nem olho para os restantes. Tento focar-me em mim. Noutros anos estive doente, tive problemas físicos e não me senti tão bem na Vuelta como noutras corridas.Mencionou Vingegaard, da Visma, como o atleta a marcar, digamos assim. O que o deixaria satisfeito depois de três semanas em Espanha?Depois de dez dias parado, de ter abandonado o Tour, tenho de afirmar que um pódio na Vuelta me deixaria satisfeito. Obviamente, quero lutar pela vitória, mas, à partida, penso que é um objetivo um pouco irrealista. Se o Vingegaard não estivesse, eu poderia ter mais hipóteses de ganhar. Estamos a falar do segundo melhor voltista da atualidade. Mas o pódio acredito que seja um objetivo realista.Já fez pódio no Giro em 2023, foi 4.º no Tour, em prol de Pogacar em 2024, e 4.º classificado na Vuelta. É a corrida que lhe está mais atravessada na garganta?Não diria isso. É a quarta vez que faço a Vuelta. Gosto de corrê-la, mas nunca é a corrida mais importante da minha época, por ser difícil de preparar e estar já no final do ano. Não vivo com a sensação de que falhei na Vuelta. Nunca estive em condições de poder ganhá-la ainda.Com um top-5 em todas as Grandes Voltas, onde se posiciona a nível mundial?Tenho 27 anos, ganhei experiência e confiança, percebo o que funciona e o que não funciona para mim ao longo dos anos. Neste momento, sei exatamente o que tenho de fazer para estar ao melhor nível e o que posso alcançar. Acho que é realista pensar que consigo ganhar uma Grande Volta e sei que consigo fazê-lo. Sinto-me no top-4 entre voltistas. Atrás do Pogacar e Vingegaard. Depois existe o Evenepoel, que ganhou uma Vuelta e fez pódio no Tour, e o Roglic, que já ganhou o Giro e não sei quantas Vueltas [4]. Tenho o pódio no Giro e... mais nada, mas acredito em mim e no meu valor. Sou um dos corredores mais fortes desta geração.No Tour, correu em prol do líder e de um dos melhores ciclistas de sempre, Tadej Pogacar. Sente a pressão de agora, para a Vuelta, ser o líder da UAE?Tenho de estar sempre bem fisicamente. Não faz muita diferença,mas diria que é uma pressão positiva, é uma situação onde gosto de estar.Juan Ayuso é seu colega e quer liderar a equipa também. Já no passado foram visíveis alguns problemas coletivos. Como vão trabalhar juntos?Vamos ambos como líderes. O público gosta sempre de exagerar as discussões sobre estas coisas. Estamos bem, discutimos o assunto e ficou resolvido. Damo-nos bem e, contra Vingegaard, é sempre bom podermos usar duas cartas.Independentemente do resultado da Vuelta, tendo em conta que conseguiu a proeza de ganhar País Basco, Romandia e Volta à Suíça no mesmo ano, já se pode dizer que 2025 foi um grande ano?Sem dúvida. Foram vitórias de excelência. Vamos dar o nosso melhor para colocar a cereja em cima do bolo, mas já considero que foi uma época extraordinária. Claro que são provas de World Tour, mas de uma semana. Agora, o que quero mesmo na carreira é ganhar uma Grande Volta. .João Almeida vence a Volta à Suíça de forma espetacular. É a terceira corrida que ganha esta época.João Almeida desiste durante nona etapa da Volta a França. "Dei tudo, mas temos de ouvir o nosso corpo”