Jesus não sai, diz que não é responsável pela crise do Benfica e pede "buzinão de carinho"

O clube da Luz joga esta quinta-feira com o Arsenal nos 16-avos-de-final. História está contra os portugueses nos duelos com os ingleses, mas as águias querem a repetir época 1991-92, quando eliminaram os <em>gunners </em>com dois golos de Isaías. Treinador culpa pandemia, iliba a estrutura e puxa pelo currículo.
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Sair pelo próprio pé? Não vou sair por pé algum, não me sinto responsável por esta crise do Benfica, nem eu nem os jogadores. Esta crise do Benfica não tem nada a ver comigo, eu não treinava os jogadores, eles estavam doentes, vinham de uma doença que ninguém controla [covid-19]." Foi assim, num tom exaltado, na antevisão do jogo com o Arsenal (hoje, às 17.55, SIC), que Jorge Jesus se ilibou de responsabilidades pela falta de resultados da equipa que o deixam "triste".

"Vim para ser campeão e poder trabalhar normalmente. Fui travado por alguém? Não. Fui travado por uma pandemia. Portanto, não me sinto feliz. Todos os dias a levar com isto nas televisões e nos jornais... Posso-me sentir feliz? Ninguém vê a verdade?",questionou o treinador, que há umas semanas foi infetado com covid-19.

Admitindo que os treinadores nem sempre ganham, Jesus ilibou também a estrutura e o presidente: "Ainda na terça-feira estive reunido com o presidente e o Rui Costa, a ver como saímos da crise de resultados e como saímos da crise da pandemia. Há muita coisa difícil, o campeonato está difícil, mas não deitamos a toalha ao chão."

Para o técnico só há um culpado: a pandemia. "Diziam que a mensagem não passava. Mas qual mensagem? Nós nem podíamos estar juntos para falar", atirou, lembrando que o Benfica chegou a ter 27 infetados de uma só vez, incluindo dez jogadores, toda a equipa técnica e o presidente, Luís Filipe Vieira - foi proibido de viajar pelo médico e não vai a Atenas, assim como não foi a Roma e a Faro.

Lembrando que no último ano pelo Flamengo só não ganhou o Mundial de Clubes, o técnico voltou a ilibar-se de responsabilidades: "Não digo que não falho, todos falham, mas em relação a esta questão do Benfica não falhei. E poucas vezes falho!"

Depois dirigiu-se "à nação benfiquista", com alguma revolta à mistura. "Disseram-me que vai haver um buzinão [ontem às 19.04]. Devia era haver um buzinão para nos dar carinho! Não sabem o que sofremos durante dois meses", atirou Jesus, sem entender como há benfiquistas que só sabem ofender.

Do jogo com o Arsenal pouco ou nada se falou. Antes de dar a conferência de imprensa, o técnico das águias falou do jogo à Sport TV. "Expectativas são as melhores, é uma final, para ambos. Acreditamos que temos capacidade para disputar esta final taco a taco e vamos preparados, com muita esperança e acreditando no nosso valor, sabendo que é uma equipa de Champions. O Benfica ainda não é, mas podia ser de Champions", disse Jesus, avisando que é "fundamental" marcar um golo.

O treinador chamou 24 jogadores para a deslocação à Grécia, incluindo Svilar, Weigl (cumpriu castigo para o campeonato) e ainda Gonçalo Ramos. O grego Samaris não foi inscrito na UEFA, mas também foi "com o objetivo de estar com o grupo e de poder treinar com o mesmo".

O jogo desta quinta-feira é contra o Arsenal de Mikel Arteta. O espanhol considera o Benfica uma equipa da Liga dos Campeões. "É um adversário forte, é uma equipa de Liga dos Campeões, que disputa jogos deste nível há muitos anos, com um treinador com muita experiência, para nós é uma final", disse o treinador gunner, que tem uma fotografia de Eusébio em casa: "Sempre fui um admirador da história do futebol, foi um jogador com uma enorme personalidade e carisma."

A história (ou estatística) não é favorável ao Benfica. Em 37 duelos com equipas inglesas, os encarnados só levaram a melhor num terço das vezes (11 vitórias, sete empates e 19 derrotas). Hoje, Jesus precisa de um triunfo ou empate por dois ou mais golos para seguir para os oitavos e final da Liga Europa, uma vez que empatou no jogo da primeira mão (1-1).

Além desse encontro em terreno neutro (Roma), os dois clubes só se encontraram por uma vez nas competições da UEFA, na altura com o Benfica de Eriksson a levar a melhor sobre os gunners de George Graham, na segunda eliminatória da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1991-92. Nessa época, a primeira mão também acabou com um empate (1-1) na Luz, tendo as águias vencido em Londres, no segundo jogo, por 3-1.

Essa foi, aliás, a única derrota do Arsenal contra equipas portugueses em sete partidas europeias. Além do registo negativo frente a ingleses, há ainda a ter em conta que os 18 jogos em Inglaterra renderam apenas quatro vitórias contra 12 derrotas. A visita mais recente terminou com uma derrota (2-0) em Old Trafford, com o Manchester United, na fase de grupos da Liga dos Campeões em 2017-18.

Desta vez o jogo é em Atenas, devido a constrangimentos causados pela pandemia. Não ir a Londres pode ser uma vantagem, apesar de a cidade grega ser de má memória para este Benfica. Foi lá que a equipa disse adeus à possibilidade de jogar a Champions ao perder com o PAOK no início desta temporada. Além disso, as águias venceram apenas quatro dos últimos 22 desafios fora de Portugal.

Nas eliminatórias a duas mãos, o cenário continua negativo - o clube da Luz foi eliminado sete em 12 vezes -, embora o passado recente seja mais animador com dois triunfos na Liga Europa, diante do Newcastle nos quartos-de-final de 2012-13 e com o Tottenham nos oitavos de 2013-14.

Olhando apenas para os duelos europeus que começaram com um empate a um golo, o Benfica levou a melhor no segundo jogo em quatro dos seis. Além da já referida eliminação do Arsenal em 1991-92, as águias afastaram também o B. Leverkusen (1993-94), o Marselha (2009-10) e o PAOK (2018-19). Antes disso, caíram perante o Ujpest (1973-74) e o Bordéus (1986-87). E hoje, como será?

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