Isaiah Thomas: o "baixinho" que derruba preconceitos na NBA
Já se sabe - diz o senso comum - que os homens não se medem aos palmos. Mas é difícil fazer ouvir a velha máxima quando se tem pouco mais de 1,70 metros e se está no meio de gigantes de dois metros de altura. Porém, Isaiah Thomas consegue gritá-la bem alto, derrubando o preconceito sobre os basquetebolistas "baixinhos" na NBA (liga norte-americana de basquetebol): nesta época, o base dos Boston Celtics está em grande forma, acumulando pontuações acima dos 20 pontos (há 26 jogos consecutivos...) e elogios cada vez mais generalizados. Nunca um jogador "pequeno" se mostrara tão influente na competição.
Desde que chegou aos Celtics, em 2015, Isaiah Thomas fez de tudo para provar que também há lugar para "baixinhos" (com 1,75 metros, vá) num mundo onde medir menos de seis pés (six feet, cerca de 1,82 metros) é, muitas vezes, fator de exclusão. Agora, parece ter chegado à hora da consagração. O base, de 27 anos, mostra a "mão quente" desde que registou a sua melhor marca pessoal (52 pontos), a 30 de dezembro, diante dos Miami Heat: 29 deles foram no último período, fase dos jogos em que se tem mostrado decisivo como nenhum outro - há uma semana, resolveu o duelo com os Hawks a dois segundos do fim.
Thomas vai em 26 partidas consecutivas a somar mais de 20 pontos (ontem defrontou os Trail Blazers, já após o fecho desta edição). Ainda na quarta-feira marcou 39 (na derrota caseira com os New York Knicks, por 106-117). E até há quem julgue que pode ser o primeiro Celtic a terminar a época com uma média superior a 30 por jogo (leva 28,7), algo que nem o lendário Larry Bird (29,9 em 1987-88) logrou fazer....
Entre os fãs da NBA diz-se que é "uma época à Allen Iverson". Mas, na verdade, Isaiah está a fazer bem mais do que isso: além de ser cinco centímetros mais baixo do que a antiga estrela dos Philadelphia 76ers, tem melhor média de pontos e assistências (6,1) por jogo, melhor aproveitamento de lançamentos (45,1%) e muito menos minutos jogados do que Iverson quando tinha 27 anos. Isaiah está, sim, a afirmar--se em nome próprio.
No princípio, ele era apenas um nome sonante. Diz a lenda que foi batizado em homenagem a Isaiah Thomas, velha glória dos Detroit Pistons, após o seu pai, James, adepto dos LA Lakers, ter perdido uma aposta com um amigo fã dos Pistons, sobre o vencedor da final da NBA de 1989 (a mãe apenas contra-argumentou que o nome teria de respeitar a versão bíblica, com mais um A...). Contudo, com apenas 1,75 metros de altura, o rapaz natural de Tacoma (Washington, EUA) não parecia ter estatura para honrar tão famoso apelido.
A custo, Isaiah, formado na Universidade de Washington, fez o seu caminho, adaptando às características físicas o seu estilo de jogo - com muitas paragens, momentos de hesitação e mudanças de direção. "Aprendi que não posso sempre chegar lá e ir à luta com os grandes. Às vezes, tenho de lhes provocar alguma hesitação, fazê-los saltar e seguir por baixo deles", explica.
Foi assim que o base contornou as dificuldades. Mesmo tendo chegado aos Sacramento Kings como última escolha do draft de 2011, afirmou-se como um dos melhores novatos da prova (escolhido para o all star game dos rookies, em 2012). Depois de ser cedido e desaproveitado pelos Kings (2011-2014) e nos Phoenix Suns (2014-15), descobriu em Boston, no outro extremo dos EUA, o seu lugar (sendo até escolhido para o "jogo das estrelas" em 2016).
"Nem dá para explicar o que significa jogar em Boston. Os fãs só pensam em vencer e, se dermos tudo o que tivermos sempre que entrarmos em campo, eles sabem reconhecê-lo", disse o jogador, ao site oficial da NBA, após a noite mágica diante dos Miami Heat. Para Isaiah, o maior sonho é levar os Celtics - equipa com mais títulos na história da NBA (17) - ao troféu que só conquistaram por uma vez nos últimos 30 anos (2008): "Espero consegui-lo um dia, porque, se o conseguir, vão amar-me para sempre aqui. E eu quero ser um desses atletas que são amados para sempre em Boston."
Aconteça ou não, Isaiah Thomas já entrou na galeria dos maiores "pequenos" basquetebolistas de sempre, ao lado de ícones como Muggsy Bogues, Earl Boykins, Spud Webb, Calvin Murphy ou Nate Robinson (entre outros). No entanto, a altura não o impede de elevar a fasquia: "Eu quero ser o melhor "baixinho" da história da NBA."