Irão quer suspensão dos EUA por ofensas à bandeira
Seleções encontram-se na terça-feira. Federação e Queiroz pediram a demissão de Klinsmann de grupo FIFA.
O Irão quer a suspensão dos EUA, por ofensas à bandeira da República Islâmica do Irão. O símbolo de Alá e a palavra "Deus é grande" foram retiradas da imagem da bandeira composta pelas cores verde, branco e vermelho, nas publicações da Federação de Futebol dos EUA no Instagram e no Twitter, o que motivou o envio de um email à FIFA "a exigir que envie um aviso sério" à congénere norte americana, segundo a agência de notícias oficial Irna.
Relacionados
Segundo o porta-voz da US Soccer, tratou-se de "um gesto de solidariedade com as mulheres do Irão", referindo-se a Mahsa Amini, uma curda iraniana de 22 anos, que morreu às mãos da Polícia da Moralidade, após ser detida por não usar corretamente o hijab.
As publicações em causa foram pouco depois removidas, com os norte-americanos a garantirem que "a bandeira nunca foi alterada no site oficial da federação", mas a polémica já estava instalada. Tem agora a palavra o Comité de Ética da FIFA, que tem tido tolerância zero para manifestações de ordem política - os iranianos, segundo a agência noticiosa semioficial Tasnim, pedem que os EUA sejam sancionados com dez jogos de castigo, como previsto na secção 13 dos regulamentos. Uma sanção em pleno Mundial é pouco provável.
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
Fora de campo, os EUA e o Irão vivem em permanente tensão, desde que romperam relações diplomáticas em 1980. Separados por questões geopolíticas, em parte potenciadas por assuntos ligados a Israel e à Arábia Saudita, ainda em julho Joe Biden afirmou que "a única coisa pior do que o Irão é um Irão com armas nucleares" e admitiu uma intervenção militar no país.
É neste clima que as duas seleções se enfrentarão amanhã. Ambas têm possibilidades de se apurar num grupo liderado por Inglaterra, com 4 pontos. O Irão tem 3 pontos e os EUA 2. O País de Gales é último no grupo B com um ponto.
Polémica atrás de polémica
Jurgen Klinsmann, Campeão do Mundo pela Alemanha em 1990 e ex-selecionador dos EUA, não ficou impressionado com o triunfo do Irão sobre o País de Gales (2-0), na 2.ª jornada do Grupo B, e criticou a postura dos iranianos. "Faz parte da cultura deles, da forma como jogam. Andam a trabalhar o árbitro. Basta ver o banco, a forma como saltavam em cima do assistente e do quarto árbitro, sempre a dar-lhes na cabeça", disse o alemão nos comentários ao jogo para a BBC, acrescentando que Queiroz encaixa bem "nesta seleção e na sua cultura".
O treinador respondeu de imediato, dizendo que as palavras do alemão eram "uma vergonha para o futebol", convidando-o a visitar o centro de treinos para "socializar com os jogadores e aprender sobre o país, as pessoas, os poetas, a arte, a álgebra, e toda a cultura milenar persa".
Já a federação considerou que Klinsmann "fez juízos de valor" sobre a cultura do Irão e apresentou uma queixa à FIFA, pedindo que ele se retrate e se demita do Grupo de Estudo Técnico do Mundial 2022.
À BBC, o alemão disse que vai ligar a Queiroz para "acalmar as coisas", revelando que alguns comentários "foram tirados do contexto" e que quis elogiar a sua "emotividade".
A presença iraniana no Qatar tem sido tudo menos pacífica. Os jogadores recusaram cantar o hino no primeiro jogo e têm sido bombardeados com perguntas sobre isso e sobre o receio de represálias.
Após a derrota com Inglaterra (6-2), Queiroz criticou os adeptos - "se não vieram para apoiar deviam ter ficado em casa" - , e depois saiu em defesa de Taremi e das constantes perguntas extra futebol: "Por que não perguntam ao Southgate pelo Afeganistão?"
E até boicotou uma conferência depois de lhe perguntarem se aceitar ser selecionador não era pactuar com o regime iraniano.