O mercado de transferências ainda nem vai a meio e os clubes portugueses já investiram mais de 176 milhões de euros na valorização dos plantéis para a época 2025/26. Um valor astronómico, tendo em conta que no mercado de verão da temporada 2024/25 os 18 emblemas da I Liga gastaram 216,4 milhões de euros. A liga portuguesa é nesta altura a sétima que mais gasta/investe em contratações, com os principais emblemas a baterem recordes no valor das transferências. (ver texto ao lado)E se Artur Fernandes, presidente da Associação Nacional de Agentes de Futebol (ANAF), acredita que “os clubes portugueses vão arrojar e surpreender em agosto com movimentações e montantes absolutamente impensáveis há alguns anos”, o empresário Carlos Gonçalves destaca o facto dos clubes portugueses estarem a normalizar contratações acima dos 20 milhões de euros, algo impensável há uma década. “A Liga portuguesa começa a mostrar capacidade para atrair jogadores de 20 milhões, sobretudo os três grandes . Estes clubes oferecem competitividade, visibilidade e a possibilidade de jogar com regularidade, algo valorizado pelos atletas. Além disso, Portugal é hoje visto como um trampolim para os grandes campeonatos europeus, funcionando como uma etapa final de validação antes de voos maiores. Isso torna o investimento atrativo tanto para jogadores como para clubes”, segundo Carlos Gonçalves, que tem o maior negócio entre clubes portugueses no currículo. Em 2022, o empresário negociou o defesa central, David Carmo, do Sp. Braga para o FC Porto por 20 milhões de euros. O agora jogador do Nottingham Forest ainda é o único jogador contratado internamente a chegar à marca dos 20 milhões. Um valor ainda apenas no domínio de Sporting, Benfica e FC Porto. “Este cenário será sempre maioritariamente restrito aos três grandes. São os únicos com capacidade real de lutar pelo título e acesso regular à Liga dos Campeões, o que lhes garante receitas superiores e maior capacidade de investir. Além disso têm uma estrutura consolidada que lhes permite valorizar e vender jogadores por montantes elevados”, diz o empresário de jogadores como o capitão bracarense, Ricardo Horta. E apesar de “clubes como o Sp.Braga começarem a dar sinais de crescimento, como se viu já nesta janela com investimentos na ordem dos 8-10 milhões, esses movimentos continuarão a ser pontuais e dependentes de contextos muito específicos”.Comprar barato e vender caro já é coisa do passado, embora, em Portugal, os grandes investimentos continuem a ser feitos com um duplo objetivo: garantir rendimento imediato dentro de campo e, em paralelo, potenciar uma valorização futura, segundo Carlos Gonçalves. “O futebol português não é, nem nunca será um destino final no ecossistema desportivo internacional. Por isso, os clubes investem pensando tanto no impacto desportivo, nomeadamente no acesso à Liga dos Campeões, como na possibilidade de realizar grandes vendas mais à frente. A Champions continua a ser a principal montra mundial, e é aí que os clubes portugueses procuram equilibrar ambição desportiva com sustentabilidade financeira.”Para já, segundo o agente FIFA, que também já representou André Villas-Boas, quando ele era treinador, “o mercado mostra um FC Porto mais ativo, fruto da reestruturação financeira e das vendas recentes, permitindo-lhe investir para voltar a tentar conquistar o título e garantir presença na Champions”.O Benfica, num ano de eleições (25 de outubro), “também aposta forte, recorrendo ao dinheiro das vendas que fez para reforçar a equipa e manter-se competitivo num ano muito importante”. Já o Sporting tem sido mais comedido até agora, “mas isso não exclui a possibilidade de investir de forma mais significativa nas próximas semanas”..Modelo do futebol português funciona e recomenda-sePara Artur Fernandes, o papel do empresário é tão importante quanto o dos dirigentes e o dos jogadores: “O agente não faz nenhum negócio sozinho. Faz com a colaboração de dirigentes e jogadores. Todos devem fazer a sua parte e a nossa é vender bem. Quando assim é, todas as partes saem beneficiadas e satisfeitas.”Para o também empresário e diretor internacional da Stellar, uma das maiores agências de futebolistas da Europa, que representa jogadores como Jack Grealish, do Manchester City, e Camavinga, do Real Madrid, “o modelo do futebol português começa a dar frutos e a fazer a Europa pensar sobre como é possível fazer tanto com tão pouco”. Porquê? “Simples. Porque somos bons em futebol, e porque todo o scouting, desenvolvimento, projeção, promoção, e venda”, respondeu o presidente da ANAF.Para Artur Fernandes, mesmo que as grandes compras ainda sejam um “universo restrito aos quatro grandes, já que o Sp. Braga ultrapassou também a barreira dos 10 milhões de euros, o que lhe confere um estatuto mais arrojado e ambicioso na sequência das promessas eleitorais recentes do presidente, tem de se valorizar o investimento em bons negócios”. Até porque, segundo ele, “enquanto as ligas europeias, com a excepção da Alemanha e Inglaterra, estagnam e até diminuem orçamentos e objetivos, a liga portuguesa vai aumentando o seu investimento, fruto de um grande trabalho dos nossos dirigentes, jogadores e agentes”.isaura.almeida@dn.pt .Richard Ríos é reforço do Benfica, supera Kökçu e será o mais caro de sempre na Luz