Hugo Gomes: Rei das subidas está livre, investe em ações, adora ser pai e discutir política
Hugo Gomes é um jogador livre e está no mercado. A equipa que quiser subir de divisão na temporada 2023-24 é só "fazer proposta" e se ele "gostar do projeto" assina. Foi assim com o Famalicão (2018-19), o Estoril (2020-21), o Rio Ave (2021-22) e o Moreirense (2022-23).
"Sei o que custa subir e ter subido quatro vezes é fantástico. Dizem-me que há outros jogadores que já subiram quatro vezes, mas três seguidas, sendo campeão, parece que é inédito", disse ao DN o defesa central de 28 anos, que fez dupla com Luís Rocha, que também já subiu quatro vezes.
A primeira subida "foi especial", segundo o jogador, apesar de não ter sido em primeiro lugar: "Da primeira vez, não tinha ideia da dimensão de uma subida de divisão em Portugal: vinha do futebol brasileiro e com uma curta passagem por Espanha e não conhecia o futebol português. Sabia que era muito importante para o Famalicão subir, o clube estava há 25 anos sem ir à I Liga. Depois no Estoril, no Rio Ave e agora no Moreirense já sabia como seria. Ou melhor: sabia que não seria fácil, mas foi muito fixe ser de novo Campeão da II Liga.".
E não se sentiu frustrado por não acompanhar as equipas no escalão principal? "Da primeira vez, no Famalicão, sim, tive esse sentimento de frustração. Esperava e queria muito ficar e jogar a I Liga, mas não foi essa a vontade do clube e fui emprestado [ao Varzim]. Das outras vezes tive oportunidade de ficar e foi opção minha sair, depois de avaliar os projetos e ponderar outras questões como a vida familiar. Comecei a colocar na balança coisas extra-futebol, como a cidade onde iria viver. Tenho 28 anos e dois filhos e, a partir do momento em que fui pai, comecei a a olhar para o futebol de forma diferente", respondeu, revelando que ainda não sabe onde vai jogar na próxima época.
Ser um jogador livre no mercado pode também ser uma boa oportunidade para ir para outras ligas com ordenados melhores. Nas últimas épocas evidenciou-se pelos golos marcados. Fez 15 em três épocas. Nada mal para um defesa: "Há muitos centrais que dizem que fazer um corte espetacular ou evitar um golo é melhor do que marcar um golo, mas eu não vou nessa teoria. O golo é o apogeu do futebol - confesso que ganhei gosto por marcar. No futebol a única sensação que supera um golo é ouvir o árbitro apitar e ganhar o jogo. Fazer um golo e perder não dá gosto algum."
Natural de Rio Grande do Sul (Brasil) e formado no São Paulo, chegou a jogar nos Sub-20 do Brasil. Está em Portugal há cinco anos e subiu à I Liga por quatro vezes, três delas consecutivas. Uma marca que orgulha o defesa já com BI português.
"Historicamente falando", Hugo Gomes não tem referências e, embora goste muito de ver jogar os canarinhos Thiago Silva e Marquinhos, identifica-se mais com o estilo de jogo (e até fisicamente) com o espanhol Sérgio Ramos. Apesar de não ser um jogador que "consome" futebol na televisão (até porque não tem o aparelho em casa), já viu vários jogos de ambos no computador ou no tablet para tentar "sacar" alguns truques e "aprender alguma coisa com os melhores". E, no caso, até vê mais jogos dele próprio para fazer uma análise autocrítica.
Não ter televisão em casa é uma opção. O futebol ocupa-lhe "metade do dia". A outra metade é para ser pai e "entreter os dois filhos". Para ele, ser pai é uma vocação e uma profissão para o resto da vida: "Eles pagam em beijos e cobram muito [risos]." Hugo gosta dessa rotina (treino-casa-treino) e até para as criança é "zero televisão". Ele não vê nisso uma medida radical, mas uma questão de educação ou de ideologia. Não se identifica "com o estilo sensacionalista e comercial da maior parte dos canais" e por isso prefere outros aparelhos, como o computador e o tablet, que lhe permitem pesquisar e ver o que quer. Na maioria das vezes documentários.
Para Hugo Gomes é "impossível" pensar no que seria se não fosse jogador de futebol. Quando era miúdo adorava Matemática e dizia que queria ser engenheiro. Mas agora, embora nesta altura não lhe passe pela cabeça abraçar outra atividade que não a de jogador, já sabe o que faria se tivesse de acabar a carreira hoje: provavelmente ficaria ligado ao empreendedorismo. "Gosto da área de negócios, da gestão de empresas e administração financeira. Eu estudo Finanças e já fiz alguns cursos de Economia. Comecei por aprender o básico para acautelar o futuro da família e poder fazer alguns investimentos, mas hoje, o meu tempo livre é ficar com a família e estudar alguma coisa. Gosto muito do discutir política e leio alguns livros de Ciência Política até por causa da situação política do Brasil, que vive num caos político há alguns anos e isso despertou-me o interesse", revelou o jogador.
Investe em imóveis e até em ações. As oscilações das bolsas de valores, os mercados, criptomoeda, investimentos de renda fixa e renda variável fazem parte do léxico de Hugo Gomes há algum tempo: "Hoje em dia, qualquer jogador devia saber investir o que ganha, porque a carreira não é eterna."
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