Campeã conquista o Atlas e marca encontro com a Argentina de Messi
O sonho da seleção de Marrocos foi travado pela França (2-0) nas meias-finais do Mundial 2022. Theo Hernández e Randal Kolo Muani foram os improváveis heróis gauleses.
Só mesmo a campeã para conquistar o Atlas (cordilheira no noroeste de África) e acabar com o sonho e a resistência de Marrocos. Com a Argentina de Lionel Messi à espera de adversário para a final de domingo, a França de Kylian Mbappé travou o carrasco de Portugal, por 2-0, no jogo que mais sofreu neste Mundial 2022, mas acabou feliz. Para a história fica a épica caminhada daquela que passou a ser a melhor seleção africana em Campeonatos do Mundo e que ainda vai lutar pelo pódio com a Croácia (sábado).
O jogo começou com duas novidades para cada lado. Deschamps teve de lançar Konaté e Fofana no jogo devido aos problemas de Upamecano e Rabiot que, segundo a imprensa francesa, revelaram sintomas gripais. Do lado marroquino, sem Cheddira, suspenso devido à expulsão no jogo com Portugal, Walid Regragui apostou nos regressos de Mazraoui e Aguerd, alterando assim o sistema tático, que acabaria por deixar a equipa mais frágil defensivamente. O golo madrugador dos franceses mostrou isso mesmo.
Aos cinco minutos, Theo Hernández colocou Marrocos perante o desafio de ter de recuperar de uma desvantagem pela primeira vez neste mundial. É que além do autogolo de Aguerd (com o Canadá), ainda ninguém tinha batido Bono. O lateral do Milan conseguiu-o aos cinco minutos numa finalização primorosa, digna da jogada criada por Griezmann e Mbappé. Demorou pouco para Ounahi contrariar essa ideia defensiva dos marroquinos e obrigar Lloris a voar para evitar o empate.
O plano inicial de Regragui foi por água a baixo ao fim de cinco minutos. E, numa altura em que era preciso reagir, o selecionador marroquino foi obrigado a tirar do jogo Romain Saïss, que instantes antes quase ajudou Giroud a fazer o 2-0 - o remate bateu no poste -, e lançou Selim Amallah no seu lugar.
De volta ao habitual 4x3x3, Marrocos recuperou a identidade e a França teve dificuldades em lidar com isso, optando por atacar pela certa e daí a menor posse de bola (47% contra os 53% de Marrocos) ao fim da primeira parte. Isso não impediu Mbappé de ficar muito perto do segundo golo, quando isolado perante Bono, depois de uma grande jogada de Tchouaméni, obrigou o guarda-redes marroquino resolver como pode... na recarga Giroud não aproveitou.
Antes do intervalo El Yamiq ficou perto de um momento épico, com um pontapé de bicicleta que Lloris travou com a ajuda do poste. O guarda-redes do Tottenham mostrou toda a segurança necessária para manter a sua equipa em vantagem quando, logo a seguir, segurou mais uma oportunidade perigosa, desta vez de Achraf Hakimi.
O sonho de Muani num toque
Para o segundo tempo o maior desafio de Regragui era li dar com o desgaste acumulado e Mazraoui já não voltou. Com o Yahia Allah em campo a seleção francesa passou por momentos de grande aflição. Youssef En-Nesyri esteve a centímetros do empate e Hakimi deslumbrou-se com uma bola perdida na área.
Nesta fase, faltava algo à França para ser dominadora e fechar o jogo. A equipa de Deschamps chegou a defender com nove - Griezmann foi uma espécie de pronto-socorro - e apostou nas saídas rápidas de Mbappé, que teve sempre Achraf Dari a morder-lhe os calcanhares. Para recuperar o equilíbrio o selecionador francês tirou Giroud e fez entrar Marcus Thuram. O efeito não foi imediato.
Foi só quando Randal Kolo Muani saltou do banco (80 minutos) para fazer o 2-0 no primeiro toque na bola que Deschamps respirou fundo. O golo resultou e um trabalho genial de Mbappé, a fazer lembrar o golo argentino que Messi ofereceu a Julián Alvaréz com a Croácia. Muani só teve mesmo de encostar para meter a França na final. Os gauleses vão lutar pelo troféu pela quarta vez na história, a segunda seguida. Desde o Brasil (1998 e 2002) que uma seleção não repetia uma presença na final.
isaura.almeida@dn.pt
