David Carmo. O Exterminador Implacável do Sp. Braga em estreia na seleção
David Carmo e Ricardo Horta, do Sp. Braga, são as grandes novidades na lista de Fernando Santos para o quádruplo compromisso da seleção nacional na Liga das Nações em junho (Espanha, Rep. Checa e dois jogos com a Suíça). Serão quatro jogos em 10 dias e daí a lista alargada de 26 jogadores, onde não há representantes do Benfica e, além dos dois guerreiros do Minho, estão quatro campeões nacionais pelo FC Porto.
O defesa central, de 22 anos, é uma estreia absoluta e pode ser o décimo central (em 58 jogadores) a ser lançado por Fernando Santos. Segundo António Salvador, presidente do Sp. Braga, David Carmo esteve "com um pé e meio no Liverpool" - falou-se numa transferência de 30 milhões de euros - quando em fevereiro do ano passado fraturou o tornozelo direito, num lance dividido com Luiz Díaz, então no FC Porto. Seguiu-se quase um ano de uma longa e saturante lesão, que o levou a questionar se chegaria onde está hoje: titular no Sp. Braga (fez 21 jogos, desde que regressou) e chamado à seleção nacional.
Nascido em Aveiro (19 de julho de 1999), David Carmo começou a jogar no Beira-Mar, mas a formação foi repartida entre Benfica, Anadia, Sanjoanense e Sp. Braga, onde chegou antes de fazer 17 anos. Era um miúdo com um porte atlético impressionante (1,96 metros), mas algo descoordenado nos movimentos. Tinha talento e o clube apostou num programa personalizado para desenvolver algumas das suas capacidades motoras e atingiu um patamar de excelência... mesmo que por vezes duvidasse dele próprio.
Jogar com regularidade deu-lhe a confiança necessária para se afirmar no centro da defesa bracarense. Tornou-se um central robusto e forte no jogo aéreo, no desarme e na marcação homem-a-homem. Por ser implacável com os adversários, quando em 2020 renovou contrato até 2025, vestiu a pele de "Exterminador Implacável "numa das produções mais famosas do Sp. Braga. E a alcunha ficou.
Segundo o selecionador nacional, a chamada do central do Sp. Braga tem de ser enquadrada numa lógica de renovação, qualidade e necessidade de o ver ao vivo em contexto de treino. Assim como o fez na convocatória anterior com Tiago Djaló e Gonçalo Inácio, agora chamados aos sub-21 por Rui Jorge. "Agora decidi pelo David Carmo e pelo Domingos Duarte para os ver em ambiente de treino, ter contacto, e para aproveitar que esses dois jogadores vão estar em competição, sempre em avaliação com o selecionador Rui Jorge. Entendemos que este era um momento oportuno. Não tem a ver com a questão da qualidade, é importante avaliar o que podem dar. Por muitas avaliações via TV ou ao vivo, é sempre melhor termos contacto com o jogador e a pessoa", explicou Fernando Santos.
Não é segredo para ninguém que o centro da defesa precisa de renovação. O selecionar considera "natural" essa discussão dada a idade de Pepe (39 anos) e José Fonte (38), que desta vez não foi chamado. Mas para Santos, "idade não tem a ver com a qualidade". E lembrou que dos 27 jogadores que se afirmaram na seleção desde que assumiu o comando (outubro de 2014), um deles tinha 18 anos, além de outros que chamou com menos de 23: "Foi feita uma renovação natural e vai continuar. Será sempre feita em todo o lado. Mas o primeiro critério é a qualidade, não a idade."
Desde 2012 que o Sp. Braga não tinha dois jogadores convocados ao mesmo tempo para a seleção, quando Rúben Amorim e Eder foram chamados por Paulo Bento para substituir os lesionados Manuel Fernandes e Carlos Martins. Agora, para além de David Carmo, Santos chamou também Ricardo Horta... quase oito anos depois da primeira e única chamada. Ainda não tinha feito 20 anos quando Paulo Bento o convocou para o arranque da qualificação do Euro 2016. Com Horta no banco, Portugal seria humilhado pela Albânia, o que levaria à troca de selecionador (Bento por Santos).
A lista de 26 eleitos conta ainda com os campeões Diogo Costa, Pepe, Vitinha e Otávio. Em termos de baixas, por lesão, as ausências mais significativas são Rúben Dias e João Félix. Já Sérgio Oliveira (Roma), Gonçalo Inácio (Sporting) ou Antony Lopes (Lyon) foram por opção. A esse respeito, o técnico lembrou que "a seleção é um espaço aberto" e "há sempre um lote de 50/60 jogadores observados".
Nos últimos jogos, Santos surpreendeu ao sentar Rui Patrício no banco ao fim de 11 anos como titular indiscutível e a apostar em Diogo Costa. E há ainda José Sá: "Ninguém tem vantagem. São opções. Quando os selecionadores não confiam, não convocam. Tenho confiança ilimitada no Rui Patrício e em todos. Partem do zero."
A maratona de quatro jogos em 10 dias - culpa do Mundial 2022, que vai decorrer no inverno - começa com o duelo ibérico com a Espanha (2 de junho, em Sevilha), seguindo-se a Suíça (dia 5, em Alvalade) e a República Checa (dia 9, em Alvalade) e a fechar novamente os helvéticos, em Genebra (12). "São quatro jogos em fim da época. Vai ser muito difícil para todos. Será obrigatória uma rotação. Também por isso o lote está um pouco alargado e permitirá refrescar a equipa", justificou o engenheiro.
Guarda-redes: Diogo Costa, José Sá e Rui Patrício
Defesas: Diogo Dalot, João Cancelo, Danilo Pereira, David Carmo, Domingos Duarte, Pepe, Nuno Mendes e Rafael Guerreiro
Médios: João Moutinho, João Palhinha, Ruben Neves, Bernardo Silva, Bruno Fernandes, Matheus Nunes, Vitinha, William Carvalho e Otávio
Avançados: Gonçalo Guedes, Rafael Leão, Ricardo Horta, Cristiano Ronaldo, André Silva e Diogo Jota.
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