Ex-internacionais criticam escolhas e querem seleção a jogar sem medo
Derrota com a Sérvia custou apuramento direto. Carlos Xavier diz que o selecionador jogou para o empate. Paulo Madeira não entendeu substituições e três centrais.
A derrota caseira com a Sérvia num jogo para esquecer tirou a possibilidade a Portugal de se apurar de forma direta para o Mundial2022 e vai obrigar a seleção nacional a disputar o playoff. O selecionador Fernando Santos, que assumiu a responsabilidade pelo fracasso, está no "olho do furacão" pela estratégia demasiado cautelosa que adotou com a Sérvia e devido a algumas opções que tomou no onze. E não escapou às críticas de dois antigos internacionais ouvidos pelo DN.
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Carlos Xavier confessa que ficou estupefacto quando viu a equipa inicial que ia disputar o jogo decisivo com os sérvios, no qual era preciso só um empate. "Quando vi o onze receei que fôssemos perder. Precisávamos de jogadores fortes fisicamente, com pujança. O Palhinha não é apenas o melhor médio defensivo português da atualidade, mas possivelmente do futebol europeu. E estava no banco... claro que cada treinador é livre de tomar as suas opções, mas se eu fosse treinador, o Palhinha jogava sempre", referiu.
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O ex-jogador do Sporting defende que neste momento existe uma enorme diferença entre Palhinha e o jogador escolhido para alinhar a 6. "O Danilo já não tem a capacidade de combate de Palhinha. É natural, pois a idade começa a pesar [30 anos]. Os sérvios jogaram como quiseram, ninguém pressionou no meio-campo. O Kostic e o Tadic tinham todo o tempo para pensar e era sempre através destes dois jogadores que surgia o perigo", acrescenta.
Paulo Madeira também estranhou esta opção de Fernando Santos, embora tenha sublinhado que a respeitou, lembrando que o selecionador é que treina os jogadores: "A verdade é que todos temos visto como o Palhinha tem estado bem no seu clube e a grande dimensão que consegue dar à posição 6."
O ex-futebolista do Benfica, contudo, criticou a estratégia adotada diante da Sérvia: "Podíamos ganhar ou perder, mas o que não podíamos era adaptarmo-nos daquela forma ao jogo deles. Temos uma quantidade impressionante de jogadores nos melhores clubes do mundo, os outros é que se deviam adaptar a nós! Não esperava um jogo tão abaixo da nossa real valia."
Carlos Xavier questionou o receio revelado por Fernando Santos com os sérvios. "Foi uma equipa claramente feita para jogar para o empate. E quando se joga para o empate, com medo, normalmente acaba-se por perder. O Nuno Mendes e o João Cancelo, dois ótimos laterais que nos seus clubes são muito ofensivos, quase não passaram do meio-campo", constatou.
O antigo médio disse ainda que outros jogadores têm-se exibido claramente abaixo do seu nível na seleção, mas não culpa apenas Fernando Santos por esse facto. "O Diogo Jota no Liverpool joga de forma diferente. E com a Sérvia viu-se pouco. O Bruno Fernandes é outro caso. No Manchester United é praticamente só ele a tocar o seu piano, enquanto na seleção todos querem tocar o seu piano e o ego cresce. E depois o que acontece é vermos que quase todos os jogadores exibem-se a um nível muito inferior ao que mostram nos seus clubes e não sabem jogar em conjunto", lamentou.
Três centrais sem rotinas
Paulo Madeira confessou que ficou confuso com a algumas opções de Fernando Santos. "As substituições foram uma "baralhação" total, a dada altura nem percebi muito bem qual era o sistema que estava a ser utilizado. Passámos a jogar com três centrais, mas esse é um sistema que exige rotinas, tem de ser muito bem trabalhado, como por exemplo acontece com o Sporting. E os jogadores que alinharam no centro da defesa com a Sérvia estão habituados a jogar com dois centrais", atirou.
Carlos Xavier não escondeu o pessimismo em relação à presença de Portugal na fase final do Mundial. "Acho muito difícil lá chegarmos se continuarmos a jogar desta forma. Já nem se imagina uma fase final sem Portugal, mas lembro que já aconteceu por exemplo à Inglaterra e à Holanda falharem a qualificação. Não podemos pensar que é impossível de suceder o mesmo connosco", projetou.
Já Paulo Madeira acredita que Portugal ainda vai a tempo de estar no Qatar. "A desilusão foi grande e o selecionador nacional cometeu erros, mas temos mais do que equipa para olhar em frente e dar uma grande resposta em março. Até ao fim desta fase de qualificação, Fernando Santos é o nosso timoneiro e temos todos de remar para o mesmo lado", finalizou.
O sorteio dos play-offs está marcado para 26 de novembro. As 12 seleções vão ser divididas em três grupos, e em cada qual serão jogadas meias-finais e final, com o vencedor de cada um a qualificar-se para a fase final do Mundial.
dnot@dn.pt
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