"Era gigante". Terá Vinícius surfado a maior onda do mundo na Nazaré?
Pode estar à vista um novo recorde da maior onda surfada na Nazaré. Vinícius dos Santos, brasileiro de 32 anos, recebeu esta semana um estudo da responsabilidade do oceanógrafo Douglas Nemes, especialista em mecânica das ondas, que calculou que a onda surfada por "Vini" na praia do Norte, a 25 de fevereiro, media 29,68 metros. A confirmar-se, será a maior de todos os tempos.
O recorde atual, ao contrário do que muitos pensam, não é de Garrett McNamara, o surfista havaiano de ondas gigantes responsável por dar a conhecer ao Mundo o canhão da Nazaré. A maior onda de sempre, devidamente certificada e registada no Guinness, foi surfada pelo brasileiro Rodrigo Koxa, em 2017, com a altura de 24,38 metros. No feminino, a recordista é a também brasileira Maya Gabeira (22,4 metros, em 2020).
"O Douglas é a maior autoridade no Brasil para fazer este tipo de estudos e medições, e segundo ele pode ter sido a maior onda. Mas digo sinceramente. Naquele dia quando fui para o mar não estava a pensar bater qualquer recorde. Não estava a pensar nisso. Quando apanhei aquela onda tive logo a sensação de que era a maior da minha vida. Mas não pensei em recordes. As pessoas que estavam naquele dia a assistir também disseram que tinha sido a maior onda da manhã. Era uma coisa gigante", disse Vinícius ao DN, admitindo que ficou algo assustado depois de ver o vídeo: "Ao vermos em vídeo temos uma noção diferentes das coisas. As imagens eram chocantes, não imaginava que era tão grande. Dei um salto de uns três metros no início da onda. Nunca me passou pela cabeça bater o recorde, se acontecer é uma bênção".
Vinícius dos Santos é natural de Santa Catarina, no Brasil, e começou a praticar surf muito cedo. "Faço surf desde os três anos e com 12 já me aventurava em ondas maiores com a prancha do meu pai, na praia da Vila, em Imbituba. Ganhei inspiração com surfistas que galgavam ondas gigantes na altura, como o Danilo Couto, o Márcio Freire e o Yuri Soledade. Surfar ondas gigantes tornou-se rapidamente num objetivo de vida", contou ao DN.
Vinícius chegou a frequentar a universidade, e ao mesmo tempo foi nadador-salvador em Florianópolis. Poupou algum dinheiro e começou a fazer as viagens com que sempre sonhou para destinos conhecidos por terem ondas gigantes. Chegou a morar no Havai e a partir daí voltou sempre à ilha para surfar ondas gigantes. "Foi então que comecei a ouvir falar da Nazaré, através do Garrett McNamara, e comecei a vir para cá. Diziam maravilhas, falavam que era um verdadeiro paraíso para os surfistas de ondas gigantes. A primeira vez que vim foi em 2018. E não quero outra coisa. Venho participar em provas ou simplesmente apanhar ondas na desportiva. A Nazaré é especial, é uma onda especial. Não há ondulação como aqui. Há ondas com mais de 20 metros mais de quatro vezes por semana. É um paraíso", atirou.
Os surfistas de ondas gigantes têm todos histórias para contar e são raros os que não chegaram a temer pela vida. Vinícius não é exceção à regra. "O maior susto que apanhei? Foi aqui na Nazaré, no início de fevereiro. Estava a apanhar uma onda, caí e a prancha partiu-se literalmente na minha cabeça. Levei 27 pontos. Tive um momento de pânico, não sabia se tinha uma fratura no crânio porque estava de touca, e temi o pior. Fui resgatado com a ajuda de uma moto quatro e levado depois para o hospital de Leiria. Apesar de tudo não foi tão sério como parecia. Foi hard-core, mas não tão grave como cheguei a pensar", contou, ele que em em dezembro, também na Nazaré, tinha feito um grande corte numa orelha.
Vinícius dos Santos surfou a onda gigante no dia 25 de fevereiro na modalidade tow-in, na qual o surfista é rebocado até à onda por uma moto quatro - Vini é especialista em remada, ou seja, vai sozinho em busca da onda. Mas naquela ocasião foi puxado pelo colega Lucas Chumbo, surfista de elite de ondas gigantes.
O brasileiro acha que só lá para outubro haverá uma decisão oficial sobre se surfou ou não a maior onda do Mundo. Isto porque os cálculos serão agora submetidos a avaliações pela World Surf League (WSL), a liga mundial de surf, e também por especialistas do Guinness Book. Serão estas entidades que vão decidir se a marca é ou não oficializada como recorde.
"Como já disse, não estou nem vivo obcecado em bater recordes. Se acontecer ficarei obviamente feliz. Se for nomeado novamente para o Big Wave Awards, já acho que é um grande resultado. Tenho surfado muito e treinado no duro com baixo investimento, apenas movido pelo meu amor ao desporto", referiu, ele que se mantém pela Nazaré a tratar de uma pequena lesão sofrida na ondulação de 25 de fevereiro, e que esta temporada conseguiu fechar um patrocínio com uma farmacêutica brasileira que o tem ajudado nas suas aventuras.