Dona do PSG entra no Sp. Braga e consolida Portugal na rota multiclubes
A Qatar Sports Investments (QSI), proprietária do Paris Saint-Germain (PSG), comprou 21,67% da SAD do Sp. Braga, que tem um capital social de seis milhões de euros. "É a parceria certa" para o clube minhoto nascido em 1921 acelerar o "crescimento e expansão" e para ajudar a "realizar o incrível potencial como clube", segundo o presidente António Salvador. "É um grande dia para o nosso clube, para os nossos adeptos e para a nossa cidade; estamos ansiosos pelos sucessos futuros do Sp. Braga", sublinhou.
O negócio foi ontem comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), sendo que a compra das ações na posse da Olivedesportos, do empresário Joaquim Oliveira, será concluída nos próximos meses. O valor do investimento não foi contudo revelado. "Como investidor e parceiro, esperamos que o clube inove, cresça e se desenvolva ainda mais - nas equipas masculinas e femininas, bem como em todas as comunidades onde está inserido e negócios que apoia -, à medida que o Sp. Braga continue a trilhar um caminho ambicioso", afirmou Nasser Al-Khelaïfi, presidente da QSI, em comunicado, destacando ainda a história, prestígio, enorme ambição e reputação de excelência do clube português.
Segundo o emblema minhoto, que na última década se afirmou como o quarto grande do futebol nacional, a operação da compra de cerca de 22% da SAD "não produz qualquer alteração na gestão" da SAD, "estando salvaguardada a total autonomia de decisão por parte da administração nomeada com o apoio do acionista maioritário, o Sp. Braga [clube]".
Ou seja, trata-se de uma troca de acionistas e não de um protocolo desportivo. Na prática, em vez de ter a Olivedesportos como parceira, os minhotos passaram a ter a QSI, uma das organizações mais poderosas do desporto mundial, com Nasser Al-Khelaïfi como cabeça de cartaz. Ter acesso aos contactos e à rede de negócios do grupo do Qatar é um dos trunfos a explorar pelo clube liderado por António Salvador, que nunca escondeu o desejo de levar os guerreiros ao título nacional. Agora terá margem para investir à altura do sonho. O anúncio da parceria teve um impacto imediato nas ações da SAD, com uma valorização de 20% no dia de ontem.
Desportivamente pode haver alguns conflitos de interesses a ultrapassar no caso de os dois emblemas se cruzarem nas competições europeias, como aliás já aconteceu na época 2017-18 com o RB Leipzig e RB Salzburgo, dois dos cinco clubes do grupo Red Bull. Se tal acontecer, a UEFA poderá abrir uma investigação para averiguar e decidir sobre o destino de ambos, uma vez que os regulamentos proíbem que um proprietário tenha dois clubes na mesma competição.
Além do PSG, que adquiriu em 2011 e onde já investiu 1, 4 mil milhões de euros, a QSI tem ainda participação nos belgas do KAS Eupen desde 2017. A estratégia da Qatar Sports Investments é seguir o exemplo do City Football Group, empresa-mãe do Manchester City, detém participações em 11 clubes de cinco continentes e uma folha salarial com mais de 400 jogadores.
No ano passado, segundo um relatório do CIES - Centro Internacional de Estudos do Desporto, havia 85 emblemas a nível mundial - 40 na Europa - ligados entre si por 33 donos. São os chamados multiclubes ou clubes irmãos, que cresceram mais de 100% em cinco anos nas cinco principais ligas europeias.
Em Portugal são vários os emblemas que já fazem parte do grupo dos chamados multiclubes, casos do Estoril, Casa Pia, Vizela, Boavista, Santa Clara e Famalicão da I Liga. A SAD do Famalicão, por exemplo, é detida (85%) pelo Quantum Pacific Group, do milionário israelita Idan Ofer, um dos donos do Atlético de Madrid. Já a SAD do Boavista é da Jogo Bonito Group Société à Responsabilité Limitée, sociedade do luxemburguês Gérard Lopez, também dono do Lille e dos belgas do Mouscron, que, em janeiro, lançou uma OPA e ficou com 90% da sociedade axadrezada.
No ano passado, o grupo britânico INEOS - dono de Nice, Lausanne e parceiro do Racing Club d"Abidjan - anunciou a intenção de comprar um clube em Portugal e identificou mesmo alguns alvos (Académica, Feirense, Mafra, Estoril, Desp. Chaves, Académico de Viseu, Tondela e B SAD) mas ainda não avançou. E há dias foi conhecida a intenção do novo dono do Chelsea, o milionário norte-americano Todd Boehly, comprar um clube português com a ajuda do empresário Jorge Mendes. O escolhido será o Portimonense, um dos nove (em 18) clubes da I Liga, maioritariamente privados.
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