Do pirolito ao Calabote. Quando os golos decidiram cinco campeões na última jornada
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Do pirolito ao Calabote. Quando os golos decidiram cinco campeões na última jornada

Sporting e Benfica têm 72 pontos a quatro jornadas do fim, os mesmos golos sofridos (25) e estão separados por quatro golos marcados. E se houver empate no confronto direto?
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Com o Sporting e o Benfica empatados na tabela a quatro jornadas do fim, com os mesmos golos sofridos (25) e separados por quatro golos marcados (78-74 a favor dos leões), ter um campeão decidido por golos é um cenário possível. E já aconteceu por cinco vezes em 90 edições do campeonato. A primeira em 1937/38 e a última em 1977/78, ambas com o FC Porto a sair vencedor.

Em Portugal, quando os clubes terminam empatados na liderança entram em cena os critérios de desempate para determinar o campeão, com o confronto direto, primeiro, e a diferença de golos, depois, a decidirem quem fica em primeiro. No confronto direto, os leões venceram o dérbi de Alvalade (1-0, golo de Geny Catamo), mas ainda falta jogar o dérbi da segunda volta na Luz, que será na penúltima jornada da I Liga, dia 10 de maio. Até lá as águias ainda jogam com o AVS e o Estoril, enquanto os leões enfrentam o Boavista e o Gil Vicente.

A primeira vez que o campeão foi encontrado na diferença de golos foi em 1937/38, época em que a Federação Portuguesa de Futebol chamou a si a organização da prova, com oito equipas, que se passou a denominar de Campeonato Nacional da Primeira Divisão, com o FC Porto a sair vencedor. O campeonato foi decidido na última jornada, num clássico com o Benfica que terminou empatado (3-3) e deu o título aos dragões por um golo. E até houve um golo anulado ao benfiquista Feliciano Barbosa nos últimos minutos... e uma vitória dos encarnados faria viajar a taça para Lisboa e, por isso, a polémica levou a um corte de relações institucionais entre os clubes e a uma mudança dos regulamentos para adaptar o campeonato à modernidade.

Dez épocas depois, já com 14 equipas, leões e águias terminara com 41 pontos. Em 1947/48 o título só seria conquistado no último jogo... graças a um golo de Fernando Peyroteo. À entrada para a última jornada, as contas eram difíceis de concretizar, mas fáceis de fazer: ou o Sporting vencia por três ou mais golos de diferença ou dizia adeus ao título. Mas para os Cinco Violinos do Sporting não havia impossíveis: Peyroteo fez quatro golos e os leões festejaram o campeonato, que entrou para a história como o “campeonato do pirolito”, uma alusão à bebida famosa na altura, que tinha uma pequena bola na tampa.

Nas décadas de 1950 e 1960 o vencedor foi quatro vezes decidido por golos. Em 1954/55, o título mudou de mãos a cinco minutos do fim, naquele que ainda hoje é apelidado do campeonato mais cruel para os adeptos do Belenenses, que vencia o Sporting, por 2-1, e estava quase a ser campeão, quando Martins empatou num contra-ataque fulminante e, não só roubou o título a Matateu e companhia, como o entregou ao maior rival. Esse foi aliás o único título ganho pelos encarnados num desempate por golos.

Nas época 1955/56 e 1957/58,o critério do confronto direto entre as equipas empatadas decidiu o titulo, no primeiro caso favorável ao FC Porto, que terminou um jejum de 16 anos depois de levar a melhor sobre o Sporting. Duas épocas depois os dragões perderam para os leões no sprint final.

Na temporada 1958/59, Benfica e FC Porto terminaram com 41 pontos, com campanhas idênticas. Tinham inclusive empatado entre si nos dois clássicos. Na última ronda, a equipa portista, com um saldo de quatro golos superior, foi a Torres Vedras vencer o Torreense por 3-0, com os jogadores sentados no relvado à espera de saber o resultado do rival que ia goleando a CUF (7-1), com o árbitro desse jogo a ser a figura central. Inocêncio Calabote foi acusado, pelos portistas, de ter atrasado deliberadamente o jogo, além de ter marcado três penáltis a favor das águias e ter expulsado três jogadores da equipa do Barreiro... e assim ter tentado ajudar o Benfica.

A época 1977/78 acabou com um jejum de 18 anos de títulos do FC Porto. Numa prova com 16 equipas, a equipa orientada por José Maria Pedroto foi campeão graças à melhor diferença, entre golos marcados e sofridos e o Benfica, que não perde nenhum jogo em 30 jornadas, falhou o tetracampeonato, por 15 golos de diferença. Desde então, as regras mudaram e o campeonato da I Liga é a 18 equipas e não foi preciso recorrer aos golos para decidir o campeão.

isaura.almeida@dn.pt

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