O nadador Diogo Ribeiro e a canoísta Beatriz Fernandes destacaram-se entre os jovens atletas que conseguiram medalhas em competições internacionais juniores no último ano, tendo também subido ao pódio em grandes competições absolutas: Diogo foi bronze nos europeus de natação de Roma e Beatriz bronze nos mundiais de canoagem de Ponte de Lima. Eles, tal como como António Morgado (ciclismo), Maria Inês Barros (tiro) e José Saraiva Mendes (vela) superaram a falta de financiamento e ergueram a bandeira portuguesa nos pódios mundiais..O projeto Esperanças Olímpicas ficou em suspenso por falta de verbas do Comité Olímpico de Portugal, decorrentes da queda do Governo e da tardia aprovação do Orçamento de Estado 2023, mas será retomado este ano, segundo o Chefe da Missão Tóquio 2020, Marco Alves, até para que "Portugal não deixe escapar talento entre os dedos". .A competitividade "aumentou" a nível mundial e por isso os resultados dos jovens portugueses em competições internacionais "são bons indicadores para o futuro", diz Marco Alves, lembrando que há federações, como a da canoagem, que têm dificuldades financeiras para gerir tanto talento..Para o dirigente, o processo de renovação do Desporto português está assim "assegurado", mesmo reconhecendo que esperar mais de 20 anos por uma medalha em algumas modalidades é "muito tempo". Os últimos Jogos Olímpicos renderam quatro pódios, naquela que foi a melhor participação de sempre de Portugal. Cimentar esta tendência de resultados é agora um desafio para Diogo, António, Beatriz, Maria e José..A prata na disciplina de fosso Olímpico nos mundiais juniores de 2021 ainda é a carta de apresentação da Maria Inês Barros, uma jovem atiradora que sonha fazer carreira no tiro, modalidade que em Portugal tem muita tradição olímpica. Este ano foi quinta classificada no campeonato do mundo de tiro com armas de caça e medalha de prata nos Jogos do Mediterrâneo..Natural de Penafiel, representa o Clube de Caçadores do Vale do Tâmega e é treinada pelo pai. Foi ele que deu o exemplo. Era atirador e percorria Portugal para participar em provas nacionais, acabando por influenciar a filha a seguir-lhe o caminho, que é como quem diz: pegar numa arma. Algo que só pôde fazer a nível competitivo aos 14 anos, idade permitida para tirar a carta de caça. Tem dois treinos fixos por semana, com duas pranchadas (25 pratos cada uma) no mínimo. Antes das provas intensifica as sessões, mesmo que isso significa falhar aulas e exames na universidade, como aconteceu no verão para estar nos Jogos do Mediterrâneo..Faz parte do projeto Esperanças Olímpicas Paris 2024 e não esconde que quer uma medalha já nos próximos Jogos Olímpicos, mas tem consciência que para isso precisa "de trabalhar mais". E há uma referência a ter em conta. O tiro foi pioneiro da participação portuguesa e Armando Marques foi medalha de prata no fosso olímpico, em Montreal 1976. Desde então que o tiro procura um segundo pódio..António Morgado tornou-se em setembro no primeiro português medalhado em mundiais juniores de ciclismo de fundo, que se realizam desde 1975. O título de vice-campeão do mundo premeia uma época de conquistas para o jovem, que, no início de setembro, venceu o Giro della Lunigiana (Itália). Campeão nacional júnior de fundo e contrarrelógio, o ciclista venceu ainda a Volta a Portugal de juniores, a Volta ao Douro em Espanha, foi segundo no Troféu Centre Morbihan, na Corrida da Paz e na Gipuzkoa Klasikoa, tendo sido quarto na Volta ao Pays de Vaud..De Salir do Porto, António foi descoberto por José Pedro Fernandes, o mesmo que encontrou João Almeida, o ciclista que António mais idolatra (além de Primoz Roglic e Wout van Aert). Adora correr à chuva e ao frio. "Dediquei a minha vida ao ciclismo, gosto do que faço, adoro andar de bicicleta. Acho que por agora tem sido essa a chave do sucesso", confessou o ciclista acabado de chegar à maioridade, mas que apresenta grande maturidade..O miúdo do bigode, como já é conhecido no pelotão internacional, vai correr pela equipa norte-americana Axeon na próxima temporada. A presença em Paris 2024 é algo esperado, mas repetir o feito de de Sérgio Paulinho - prata, na prova de estrada, em Atenas 2004 - seria uma boa forma de homenagear os 20 anos do único pódio Olímpico do ciclismo português..Sete medalhas internacionais conquistadas em 2022 transformaram a júnior Beatriz Fernandes no novo fenómeno da canoagem portuguesa, com a canoísta a alimentar legítimas esperanças de estar em Paris 2024. Um dia depois de ser campeã do mundo júnior de C1 e bronze na short race (não olímpica) sénior, Beatriz assumiu que é um "bocado masoquista" e esse talvez seja o "segredo" para o sucesso..A canoísta do Clube Náutico de Ponte de Lima vai privilegiar o C1 200 que a pode levar a Paris daqui a um ano e meio. Para isso terá de "melhorar a largada", uma vez que, segundo ela, é uma atleta que dá menos pagaiadas do que a generalidade das rivais. Beatriz acredita que também tem margem de progressão "na ponta final e resistência", curiosamente as armas que a levaram ao título mundial júnior de C1 200 metros, depois de ter sido bronze no Europeu..Aluna do curso de Fisiologia Clínica no Instituto Politécnico de Coimbra, a limiana vai viver para a residência universitária da federação em Montemor-o-Velho, de forma a preparar os Mundiais de 2023, entre 23 e 27 de agosto, em Duisburgo, Alemanha..Além de Beatriz Fernandes, também a dupla Gustavo Gonçalves e Pedro Casinha - prata no Campeonato do Mundo de Sub 23 em K2 500m - e o quarteto Ana Brito, Francisca Lopes, Beatriz João e Clara Lopes - bronze no Campeonato da Europa de Juniores em K4 500m - deram nas vistas este ano na canoagem, modalidade que já tem duas medalhas olímpicas: prata em Londres 2012 (Emanuel Silva e Fernando Pimenta em K2 1000) e bronze em Tóquio 2020 (Fernando Pimenta K1 1000)..Diogo Ribeiro saiu do anonimato com um bronze nos europeus de natação de agosto, mas foi a trilogia de ouro nos mundiais juniores (em Lima, Peru) que colocou o jovem nadador, então com 17 anos (fez 18 no dia 27 de outubro), na ribalta mediática. Subiu ao lugar mais alto do pódio nos 50 metros mariposa, e com recorde do mundo júnior, nos 50m livres e nos 100m mariposa, numa brilhante e inesquecível temporada que incluiu ainda medalhas nos Jogos do Mediterrâneo..Tinha quatro anos quando perdeu o pai e a mãe decidiu colocá-lo na natação para ganhar "concentração". Em julho do ano passado, acabado de ser medalhado de prata no Campeonato Europeu Júnior de natação, nos 100m mariposa, sofreu um grave acidente de mota e foi obrigou a ficar internado com hematomas pelo corpo todo, queimaduras nas pernas, o ombro deslocado, um pé fraturado e uma lesão no peito, para além de ter perdido parte do indicador direito (mais tarde reconstruído)..De uma hora para a outra saltou do pódio para uma cama do hospital e viu a carreira em risco, mas recuperou e revelou uma brutal evolução que faz dele um "fenómeno" como nunca antes visto na natação portuguesa. O bronze nos 50 metros mariposa nos Campeonatos Europeus, em Roma, já este ano, provam isso mesmo. Até então, Portugal só tinha duas medalhas na história de Europeus: Alexandre Yokochi (bronze, em 1985) e Alexis Santos (bronze, em 2016) e uma final Olímpica (Yokochi Los Angeles 1984)..Já com três títulos nacionais na vela, José Saraiva Mendes tornou-se no dia 25 de dezembro do ano passado no primeiro português a conseguir uma medalha no Campeonato do Mundo da Juventude na classe Laser no Século XXI..Um feito enorme, tendo em conta que treinava sozinho e sem técnico. O velejador passou depois a ser acompanhado por Luís Rocha, diretor técnico da Federação Portuguesa de Vela, e, em agosto, sagrou-se vice-campeão do mundo júnior, ficando a apenas 1 ponto do título, depois de anulada a última regata por falta de vento..Começou a andar à vela aos três anos e a competir aos oito. Deu o salto competitivo durante a pandemia, depois do pai conseguir uma autorização especial para José continuar a ir para o mar durante a quarentena. Gosta de estar no mar e da solidão do treino. Os estudos atrapalham um pouco os treinos, mas ele tem conseguido conciliar ambos e não esconde que o objetivo é uma medalha olímpica, algo que a vela portuguesa procura há 26 anos - Atalanta 1996 (Vítor Hugo Rocha e Nuno Barreto, bronze na Classe 470)..A vela tem mais três pódios olímpicos (total de quatro): prata de Duarte Bello e Fernando Bello, Classe Swallow, em Londres 1948; bronze de Joaquim Mascarenhas Fiúza e Francisco Rebello de Andrade, Classe Star, em Helsínquia 1952; e prata de Mário Gentil Quina e José Manuel Gentil Quina, Classe Star, em Roma 1960..isaura.almeida@dn.pt