"Depois de Kelly Slater o surf não vai acabar"

Renato Hickel, diretor-geral da Liga Mundial de Surf, elogia Portugal e gostava de ver Frederico Morais na elite dos surfistas
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Renato Hickel é uma espécie de "dono disto tudo" do WTC, o circuito mundial de surf. E neste ano, o diretor-geral da WSL (Liga Mundial de Surf) sente a falta do "queridinho", como trata Tiago Saca Pires. Pela primeira vez após a reforma internacional (em 2014), o único português que esteve entre a elite mundial durante sete anos não está em ação na Supertubos. "Sou amigo do Tiago, convidou-me para a apresentação do filme dele e fui com muito gosto. Já conheço a história dele, mas o filme é bacano. Criei uma relação de amizade com ele, uma pessoa educada e muito profissional, que deixou saudades no circuito", revelou ontem ao DN o tour manager, antes de deixar a praia de Supertubos depois de o comissário dar ordem para desmobilizar por falta de ondas.

Em 27 anos de WTC, "são muitas as recordações e histórias para contar", mas "as boas não dá para revelar", atirou o brasileiro, lembrando que sempre teve uma relação de "respeito máximo" com os surfistas, mesmo "nas discussões mais calorosas... e foram algumas".

Hickel, que foi um dos principais responsáveis pela profissionalização do ténis, é um saudosista dos anos 1990, com o incontornável Kelly Slater pelo meio. "A importância de Kelly é gigantesca. Ele é a maior figura e o que mais atrai público. Mas eu digo sempre que depois do Kelly o surf não vai acabar, aparecerá outro que tentará ser melhor e mais carismático", referiu, dando o exemplo de Tom Curren, "que era como Kelly na época dele, ou o Tom Carroll e Martin Potter, antes do Mark Richards". Mas não será tarefa fácil. O americano onze vezes campeão mundial é um ícone do surf que teima em fintar a reforma aos 44 anos e segue na luta pelo título (é um dos nove que matematicamente ainda podem festejar).

Mas nem tudo foi (e é) um mar de rosas nestes 27 anos no WTC. Hickel viveu de perto vários episódios de ataque de tubarões, como o de Fanning, em 2014, que o obrigou "a pedir pareceres e estudos a universidades da Austrália e da África do Sul", por exemplo. Também a morte de Andy Irons, em 2010, o abalou. O caso do havaiano ajudou "o surf a apressar a luta contra o doping na modalidade".

A importância de Portugal

O diretor-geral do WTC festejou o título de Gabriel Medina em 2014 e o de Adriano de Souza em 2015. Não só porque é brasileiro, mas porque foram triunfos "importantíssimos" para consolidar o surf brasileiro e quebrar o domínio americano, australiano e havaiano: "Agora um campeão português ou francês seria extraordinário. A Europa precisa de um campeão..."

Por isso admite "a importância estratégica de Portugal" no Circuito Mundial. "Não só por ser um país de mar e surf, mas porque o desporto só evolui com diversidade e ter um campeão que seja europeu era importantíssimo para elevar o surf ao nível de outros desportos individuais, como o ténis e o golfe, por exemplo", disse, confessando que seria "extraordinário para Portugal se Frederico Morais entrasse na elite mundial, depois do bom legado de Tiago Pires".

Dificuldades para os candidatos

O facto de os três primeiros do ranking - John John, Medina e Wilkinson - terem sido relegados para a repescagem, logo na primeira ronda, "deu emoção e suspense" ao Rip Curl Pro. E "nada melhor" para Portugal do que ter dois portugueses a obrigar os dois melhores do mundo - Florence e Medina - a ir à repescagem. Hickel avisa o havaiano de que Miguel Blanco (ver caixa) é um surfista que "lê muito bem o mar e sabe lidar com as ondas locais, como apanhá-las e tirar proveito disso". "Por isso o John John vai ter de estar muito concentrado", atirou. O tour manager acredita mesmo que, nesta altura, "os nervos começam a afetar" o havaiano e o brasileiro. E se o mar continuar sem ondas, vai piorar.

Renato Hickel confessa que para o futuro do surf e do WTC o melhor mesmo é só ter campeão no Havai, na última etapa. "É um dos anos mais incríveis na corrida ao título. Obviamente, a corrida é entre John John e Gabriel. E o John John é o único que ainda pode sonhar matematicamente. Para isso, tem de ganhar aqui e esperar que Gabriel fique abaixo do quinto lugar. Ou chegar à final e Gabriel não chegar ao round 4", explicou.

Claro que "não é muito habitual" chegar à penúltima prova do mundial e ter nove atletas com possibilidades matemáticas de chegar ao título: "Em dez etapas tivemos oito vencedores e só o Wilkinson repetiu uma vitória, daí a emoção de ver se o Medina volta a ser campeão ou se o John John consegue o primeiro título, o que seria importante para o Havai, que procura um campeão há anos..."

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