Carlitos. A fotocópia de Nadal que anda a fazer história nos courts
O futuro do ténis chegou e chama-se Carlos Alcaraz Garfia. É espanhol e tem 19 anos. Tem a agressividade de Roger Federer, a velocidade de Rafael Nadal e a frieza de Novak Djokovic. Características que fazem do jovem natural de El Palmar (Múrcia) um fenómeno do presente e uma certeza para o futuro. "Carlos é simples, humilde e calmo. É deixá-lo jogar ténis, deixá-lo fluir com tudo o que tem dentro e ver até onde ele vai", elogiou o treinador e antigo número 1 mundial, Juan Carlos Ferrero.
Num país com forte tradição no ténis, que teve três líderes do ranking ATP (criado em 1973) e onde os campos de ténis estão cheios de meninos sonhadores que querem ser tenistas, Carlitos - assim o chamavam em criança para evitar confusões com os outros dois Carlos Alcaraz (o pai e o avô paterno) - tenta caminhar em nome próprio, mas não evita as comparações com um dos ídolos. A força física, a velocidade, o carisma e o magnetismo no court fazem dele uma verdadeira fotocópia de Nadal.
Vive um ano de sonho com vitórias em quatro torneios: Rio de Janeiro, Miami, Barcelona e Madrid. Estes dois últimos no espaço de duas semanas e com o feito impressionante de ter batido Rafael Nadal e Novak Djokovic em apenas 24 horas, antes de vencer Alexander Zverev na final.
O ano começou com Alcaraz a ser o mais jovem cabeça-de-série da história de um Grand Slam, no Open da Austrália. Um mês depois, em fevereiro, venceu o Rio Open e sagrou-se o mais novo de todos os tempos a conquistar um torneio da categoria. Em março, tornou-se o terceiro mais jovem a vencer um Masters 1000, após um triunfo em Miami. Já em abril venceu o ATP de Barcelona e no domingo conquistou o Masters de Madrid. Pelo meio podia ter vindo ao Estoril Open, mas optou por descansar entre os dois torneios espanhóis e viu a estratégia recompensada. João Zilhão já o convidou para 2023, mas a continuar assim o cachê promete deixá-lo fora do alcance.
Em quatro meses, o menino que um dia precisou de apoios para entrar em torneios amealhou 3,5 milhões de euros em prémios, num total de carreira superior a cinco milhões. Só o triunfo no Mutúa Madrid, no domingo, deu-lhe um milhão de euros e 1000 pontos para o ranking ATP, que ontem o colocaram como número 6 mundial.
Agora, depois da "melhor semana" da sua vida o espanhol decidiu parar para dar descanso ao tornozelo que o ia derrubando em Madrid. Carlitos abdicou do Masters de Roma a pensar em Roland Garros, um dos torneios que, desde os 12 anos, sonha ganhar, a par de Wimbledon. Em apenas meia dúzia de anos os sonhos do menino Carlitos tornaram-se objetivos de Carlos Alcaraz e o discurso acompanha a ambição. "Estou pronto para ganhar um Grand Slam", disse, depois de vencer em Madrid, apontando assim ao Roland Garros (de 16 de maio a 5 de junho), onde as casas de apostas já o colocam em segundo lugar nas preferências.
Carlitos tem o ténis no sangue e um talento que já há dez anos prometia colocá-lo no auge. Filho de Virginia Garfia e de Carlos Alcaraz, descobriu o ténis com quatro anos, num dos muitos campos do clube em El Palmar, onde o pai, um tenista de segunda linha, era diretor. Tal como os três irmãos, foi lá que começou a jogar aos quatro anos e onde o pai percebeu que estava perante um prodígio, "pela familiaridade com a raquete".
Nunca se cansava de estar no court e não demorou a competir e a colocar um dilema financeiro à família. O pai via nele capacidade para participar no Campeonato do Mundo de sub-10, mas as viagens para a Croácia eram "incomportáveis". O que levou o treinador Kiko Navarro a recorrer a um mecenas - Alfonso López Rueda, de Postres Reina - para Alcaraz poder ir jogar o mundial com nove anos. "Foi aí que tudo começou", segundo contou o técnico ao jornal Vanguardia.
No regresso a Espanha, passou a fazer parte da Nike Junior Tour e em 2015 deslumbrou Juan Carlos Ferrero ao chegar às meias finais do Roland Garros sub-13. Foi então que se mudou para a Academia Equelite do antigo n.º1. Em 2017 foi galardoado com o Troféu Conde Godó de sub-14 e subiu o último degrau antes da profissionalização quando, um ano depois, de sagrou campeão da Europa sub-16 e começou a vencer torneios ITF (categoria inferior ao ATP).
Foi em casa, com 15 anos, que alcançou o primeiro ponto ATP, no Future Murcia (2018), quebrando a marca de precocidade de Nadal. E foi com um triunfo em Portugal que entrou no top 100, em maio do ano passado, depois de conquistar o Oeiras Open 125, no Jamor. Num ano, galgou até à posição número 6. O ténis espera dele aquilo que muitas outras jovens promessas - como Dominic Thiem, Alexander Zverev, Daniil Medvedev e Stefanos Tsitsipas - ainda não conseguiram: quebrar o domínio do Big 3 (Federer, Nadal e Djokovic) já trintão.