Desporto
01 julho 2022 às 05h00

Campeão FC Porto arranca com incertezas mas cheio de ideias ambiciosas

A continuidade do treinador Sérgio Conceição é o grande trunfo do FC Porto para a nova temporada, na qual não vai contar com o talento de Fábio Vieira e, em princípio, com Vitinha que deve ser anunciado em breve no PSG. Contudo, solucionar os problemas na zona central da defesa é o mais urgente para os dragões, que ainda não contam com qualquer reforço.

Campeão e vencedor da Taça de Portugal, o FC Porto inicia esta sexta-feira a nova época, uns dias depois de os rivais o terem feito e já com a mira na conquista de mais um troféu, a Supertaça, que vai disputar frente ao Tondela, da II Liga, em Aveiro, no dia 30. Com Sérgio Conceição ao leme pela sexta época consecutiva, os dragões arrancam para o novo ano ainda sem aquisições confirmadas, mas sabendo que Fábio Vieira partiu para o Arsenal (35 milhões de euros) e Vitinha foi para o Paris Saint-Germain (41 M€). São 76 milhões de euros a entrarem nos cofres da SAD, mas estas ausências vão complicar, seguramente, os planos do treinador para 2022/23, que já tinha no centro da defesa um problema para se entreter, isto caso a saída de Chancel Mbemba, em final de contrato, se confirme.

Nada a que Sérgio Conceição não esteja habituado. Afinal, chegou ao clube numa altura de aperto financeiro e até aqui já conquistou três vezes a I Liga. Resta saber se o clube conseguirá encontrar no mercado soluções à altura dos jogadores que saíram - não havendo, por agora, indícios de que nova fornada de jovens capazes de entrar no onze esteja a caminho (Gonçalo Borges, João Marcelo e Loader são os nomes apontados para integrar os trabalhos de pré-época).

Jorge Andrade, antigo defesa que representou o FC Porto durante duas temporadas, considera que o mais importante, para começar, é saber "se os jogadores recuperaram bem depois do ano que fizeram": "Foi uma época com grande desgaste, muita intensa, e com a pandemia as temporadas têm estado diferentes. Ainda por cima, este é ano de Mundial e o plantel está, para já, mais curto, devido às várias saídas. Certamente os responsáveis do FC Porto esperam que tanto jogadores como treinadores tenham aproveitado as férias para descansar, porque este vai ser um ano duro para toda a gente."

Quanto ao grande objetivo, Jorge Andrade diz que "revalidar o título é o óbvio". "Nos três grandes quem, no início da época, não pensar nessa vitória não está a ser realista. Mas claro que, depois da época que fez, a responsabilidade do FC Porto passa também por manter o mesmo nível", acrescenta o antigo internacional, alertando todavia para o facto de "depois das saídas do Fábio, do Vitinha e do Mbemba" existirem posições-chave na equipa "que não estão cobertas".

O antigo central considera que as lacunas principais estão exatamente na posição que ocupou enquanto jogador. "Faltam ainda peças, ainda estão algo desequilibrados aí, até porque o Pepe já não é nenhuma criança e este vai ser um ano de muito sacrifício. Têm de contratar para esse lugar, podem dar o passo em frente em relação ao Fábio Cardoso, que está no plantel, ou apostar noutro, mas mesmo assim têm de garantir mais jogadores para o lugar. Fala-se no David Carmo, que já todos conhecemos, enquanto sobre o brasileiro João Victor não há tanto conhecimento, mas sei que jogou pelo Corinthians esta semana na Libertadores e dizem que o fez bem", diz.

Ainda assim, segundo Jorge Andrade não há motivos para grandes pressas. "Acho que o FC Porto tem o tempo do seu lado, pois o mercado não fecha agora e dá para escolher os alvos de uma forma tranquila, em vez de contratar precipitadamente.

Para o meio-campo, que perdeu dois elementos muito importantes na última época (Fábio Vieira foi o rei das assistências na equipa, Vitinha deu vitalidade e magia ao setor), tem sido apontado o regresso de Sérgio Oliveira, que passou a segunda metade da última época emprestado à AS Roma, de José Mourinho. Ainda assim, com o mercado aberto até final de agosto, e do falado interesse de clubes estrangeiros em jogadores como Otávio e Pepê, além do guarda-redes Diogo Costa, as coisas podem complicar-se ainda mais e obrigar Sérgio Conceição a reformular mais do que pretendia para atingir as metas que o plantel já definiu. Como fez o colombiano Uribe na apresentação dos novos equipamentos, garantindo que a equipa está apostada em querer superar os 91 pontos com que venceu a última Liga e em conseguir um título internacional.

"Bater essa marca é pensar em grande", admite Jorge Andrade. "E isto só mostra que ele pensa apenas na vitória. Toda a gente sabe que fazer 91 pontos é muito difícil mas é um sinal que o FC Porto vai querer estar muito forte. Já a Liga dos Campeões é sempre uma caixinha de surpresas e é complicado de prever, sobretudo para as equipas portuguesas que têm mais dificuldades para contratar do que a maior parte das outras equipas, os plantéis são mais curtos. Ainda assim, creio que mesmo no ano passado, num grupo muito difícil, o FC Porto podia ter ido um pouco mais além, houve aquele jogo com o Atlético de Madrid que foi um bocado incaracterístico... O FC Porto tem responsabilidades na competição, que já venceu, e claro que o Sérgio também quer provar que consegue ganhar títulos internacionais. Todos têm de sonhar, mas há que ser realista, pois existem outras equipas mais favoritas e disso não podemos fugir", acrescenta.

Com todas estas indefinições, não existem grandes dúvidas que a melhor aquisição do FC Porto é mesmo a continuidade do técnico natural de Ribeira de Frades. "Concordo com essa ideia. Os grandes clubes só conseguem ir para a frente quando existe uma boa ligação e coordenação entre quem dirige o clube e quem lidera a equipa. Acredito que, no FC Porto, há uma extensão entre o Pinto da Costa e o Sérgio Conceição. Têm ambos o objetivo de melhorar a equipa. E toda a gente dentro da estrutura sabe o que faz", refere o antigo internacional, que vê na Taça da Liga, prova que o clube nunca venceu, uma das apostas da época: "Fazer a dobradinha é mais especial mas a Taça da Liga já tem um peso muito grande no quadro competitivo, a Liga está a ter muito trabalho para a tornar numa competição com força e daí que o Sérgio tenha desejado conquistá-la para o seu presidente. Já falou disso, é um dos poucos troféus que Pinto da Costa não tem e por isso acredito será um dos objetivos dele."

A corrida começa agora e, embora o clube ainda não tenha divulgado os planos de pré-temporada, tudo aponta para a fórmula do ano passado se repita: os primeiros dias no Olival, seguindo-se um estágio no Algarve, onde apenas está, até ao momento, agendado um particular, com o Portimonense, no dia 14.

dnot@dn.pt