Albino Aguiar de Sousa ganhou fama por marcar um golo de trivela ao Benfica. Ficou para sempre conhecido como Bino das trivelas, tendo feito parte da equipa que ganhou a primeira Taça de Portugal do Sp. Braga, em 1966. Representou os bracarenses entre 1956 e 1974 - totalizando 125 jogos e 28 golos -, período durante o qual fez parte da da equipa que, em 1964, subiu à I Divisão. A vitória no Jamor, frente ao V. Setúbal, permitiu-lhe estar também na primeira presença dos minhotos nas competições europeias (Taça das Taças)..O dia 22 de maio de 1966 ficou gravado na memória do antigo jogador, afinal no Sp. Braga conquistava o primeiro troféu a nível nacional. "Tínhamos uma linha da frente terrível. Perrichón, Adão, Estêvão e eu. Hoje, com estas condições, dávamos cartas e jogávamos para o título. Fomos à final com o V. Setúbal, que era uma equipa fabulosa, tinha cinco ou seis jogadores que iam à seleção. Tinham-nos humilhado na última jornada do campeonato (8-1) e, por isso, a final foi uma grande conquista", recordou Bino, o antigo número 7 dos bracarenses, ao DN..O extremo não esteve nos 8-1 por lesão, mas recuperou para a final do Jamor e foi ele que serviu o argentino Perrichón para o golo que valeria o triunfo, frente ao V. Setúbal (1-0). Na caminhada para a final, o Sp. Braga eliminou o Benfica, que tinha "praticamente a mesma equipa fabulosa" que foi bicampeã europeia quatro anos antes (1961 e 1962) e o Sporting, que seria campeão nessa época, numa polémica eliminatória a duas mãos. Bino marcou o golo que colocou a equipa no Jamor e ganhou o direito à sua primeira entrevista no jornal A Bola. Agradecido por merecer tal honra, fez questão de, em pleno Jamor, ir entregar ao repórter do jornal a camisola que todos lhe pediam: "Se tinha de oferecer a camisola a alguém era ao jornal que me ouviu pela primeira vez. Retribuí.".O Sp. Braga tinha subido à I Divisão dois anos antes de chegar ao Jamor. "Que pena na altura não haver televisão para gravar os encontros. Quem não me viu jogar ao vivo não faz ideia de quem sou nem de como jogava. Sou orgulhosamente bracarense e guerreiro. Entrei para o clube com 12 anos", conta..Aos 83 anos estranha o interesse naquilo que aconteceu há 57 anos. "Era impensável ganhar naquela altura, mas a canalhada de Braga ganhou às trutas todas", brincou Bino, referindo-se a Benfica, Sporting e V. Setúbal: "Nos jogos com os grandes da altura, eu ganhava força e jogava por três, era um gosto jogar contra o Hilário, Damas, Germano, Coluna, Eusébio, Torres, Simões, Jaime Graça...".Tornou-se símbolo bracarense à custa de muito trabalho e "algum talento", destacando-se os cruzamentos e os remates de trivela: "Para mim, era uma forma natural de rematar... saía com efeito, fazendo a bola ir em rosca. Até os cantos marcava com o pé contrário. A bola saía melhor [ri-se]. Ainda marquei golos de canto direto, mas os treinadores não gostavam muito que fizesse trivelas e alguns proibiram-me mesmo (ou tentaram), porque os avançados queixavam-se que assim não conseguiam dominar a bola para rematar com eficácia.".A verdade é que Bino não sabia o que era uma trivela e ainda hoje não sabe a origem do termo. Só sabe que os brasileiros Livinho e Ceninho, quando chegaram ao Sp. Braga no início da década de 1960 e o viram fazer cruzamentos cheios de efeito, começaram a dizer "passa aí a bola, ó trivelas" e assim ficou. "Diziam que tinham visto o Rivelino e o Pelé fazer golos com a parte de fora do pé e que se chamava trivela, mas para mim eram roscas", revelou o antigo jogador, que viu mais tarde o gesto ser feito por Drulovic e Ricardo Quaresma..Bino reconhece o crescimento do clube, mas não tem fé na conquista de um título de campeão nacional: "Já no meu tempo o clube tinha muito cartaz, mas cresceu até se tornar o quarto grande. Não acredito que um dia o Sp. Braga seja campeão, o sistema jamais o permitirá. O terceiro lugar deste ano é fantástico. Tivemos um ou outro jogo em que podíamos e devíamos ter feito melhor, mas o pódio é muito bom. ".Quando o Sp. Braga ergueu a primeira Taça de Portugal da história, o FC Porto já tinha duas. Uma ganha em 1956, frente ao Torreense (1-0) e outra em 1958, frente ao Benfica (1-0). Ambas com golos marcados por Hernâni. No domingo, dragões e minhotos encontram-se pela quarta vez na final, com a equipa de Artur Jorge a tentar equilibrar o duelo direto com os dragões na história da prova rainha: o FC Porto levou a melhor em 1977 e 1998, com o Sp. Braga a erguer a taça em 2016..isaura.almeida@dn.pt