As posições   a reforçar e quem está ‘proibido’ de sair nos três grandes

As posições a reforçar e quem está ‘proibido’ de sair nos três grandes

A janela de inverno abre quarta-feira. Augusto Inácio aponta a necessidade de um central e de um médio para o Sporting, Álvaro Magalhães acha que o Benfica precisa de um defesa-direito e Romeu Silva acha que faz falta um central e dois laterais ao FC Porto.
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Temido por muitos treinadores e ansiado por outros, o mercado de inverno está à porta. A partir de quarta-feira e até 2 de fevereiro, os clubes portugueses dos campeonatos profissionais poderão proceder aos reajustes que considerem necessários nos respetivos plantéis. E, ao que tudo indica, Sporting, Benfica e FC Porto prometem mexidas relevantes nas próximas semanas.

Num mundo ideal, os três principais clubes portugueses chegariam a janeiro e procederiam à melhoria dos seus plantéis, colmatando as lacunas existentes, só que existe o reverso da medalha: a cobiça aos seus principais futebolistas, que poderão partir para emblemas estrangeiros mais ricos, dispostos a pagar as cláusulas de rescisão de contrato. Este é, porém, um mercado bem mais complicado do que o de verão, pois há bastante menos jogadores de qualidade disponíveis. 

Começando pelo Sporting, atual líder da I Liga, as necessidades do plantel têm algumas semelhanças com aquelas que Augusto Inácio teve quando liderou os leões ao título de campeão de 1999/2000. Nessa altura, quando abriu o mercado de inverno, os leões perderam temporariamente Saber e Ayew, jogadores importantes que foram disputar a Taça de África das Nações (CAN). O mesmo sucede agora com Rúben Amorim, que se verá privado dos titulares indiscutíveis Diomande e Morita, e ainda Geny Catamo, também muitas vezes utilizado no onze inicial, que irá para a CAN à semelhança  de Diomande, enquanto o médio japonês vai disputar a Taça Asiática. 

O primeiro jogo que este trio vai falhar será o de sexta-feira com o Estoril e, caso as respetivas seleções cheguem às finais dessas competições, estarão ausentes durante pelo menos oito partidas oficiais (serão nove se os leões chegarem à final da Taça da Liga).

“É uma situação parecida com a que vivi. Na altura, colmatámos as ausências do Saber e do Ayew com as contratações do César Prates e do Mbo Mpenza e ainda fomos buscar um grande central, o André Cruz”, começou dizer Augusto Inácio ao DN, lembrando que Rúben Amorim vai ficar sem “três jogadores importantes numa fase muito crítica da época, em que os pontos perdidos poderão fazer muita falta”. “Na minha altura, foi no excelente mercado de janeiro que o Sporting estabeleceu a diferença para os rivais, que o levou depois a ser campeão nacional”, admitiu Augusto Inácio.  

O FC Porto também irá perder dois jogadores durante as próximas semanas, com o nigeriano Zaidu Sanusi a rumar à CAN e o iraniano Mehdi Taremi à Taça Asiática, mas ambos só perderão, no máximo, sete encontros (o primeiro na sexta-feira com o Boavista), pois os dragões não se apuraram para a final four da Taça da Liga. Já o Benfica, é o único dos três grandes que não terá de ceder futebolistas a seleções nacionais durante o mês de janeiro.

Augusto Inácio assume que nem lhe passa pela cabeça que Gonçalo Inácio ou Gyökeres - os mais cobiçados nesta altura em Alvalade - deixem o clube durante o mercado de inverno. “É uma convicção que tenho. Não acredito que qualquer deles saia. Se acontecesse, seria um rombo muito grande nas possibilidades do Sporting ser campeão, especialmente no caso de Gyökeres, que faz a diferença, e de que maneira”, sublinha, atirando de seguida: “O clube andou todos estes anos à procura de um grande ponta-de-lança e agora que o encontrou, ia deixá-lo sair ao fim de seis meses, sabendo que é quase impossível encontrar um substituto com a mesma qualidade? Não faria qualquer sentido...” E vai mesmo mais longe: “A possibilidade de existirem cláusulas de rescisão a meio da época, não faz sentido. Em janeiro devia haver sempre negociações entre os clubes, que só venderiam se quisessem.”

A Alvalade já chegou Rafael Silva, jovem central de 20 anos oriundo do Leixões e que custou 700 mil euros. “Não estou a questionar a valia do jogador, mas se o Gonçalo Inácio por acaso sair, penso que o Sporting precisará de alguém mais experiente, até porque o St. Juste está sempre lesionado, o Coates também tem tido alguns problemas físicos, além da tal ausência do Diomande”, lembra Augusto Inácio.

Por outro lado, o treinador de 68 anos entende que o Sporting “necessita ainda de um médio para colmatar a ausência de Morita e até terão de ser dois, caso Dario Essugo seja emprestado”. Inácio acrescenta ainda que, depois do regresso do japonês, “mais vale ter opções a mais para o meio-campo do que a menos”. Na sua opinião, “o Sporting tem um plantel com qualidade superior à do Benfica e à do FC Porto, se estivermos a falar de 13 ou 14 jogadores, mas claro que o do Benfica é mais vasto e tem mais soluções em termos quantitativos”.

Benfica precisa de defesa direito para “pegar de estaca”

O Benfica já assegurou Gianluca Prestianni, extremo argentino de 17 anos, por quem vão ser pagos 9 milhões de euros ao Veléz Sarsfield por 85% do passe, mais 2 milhões em objetivos. O futebolista só poderá vincular-se às águias a 31 de janeiro, dia em que completa 18 anos. 

E se Prestianni é uma contratação pensada a médio prazo, a necessidade absoluta de reforço é no lugar de defesa-direito, de acordo com Álvaro Magalhães, antigo jogador clube da Luz. “Para essa posição só existe o Alexander Bah, que há muito tempo está lesionado. Mas terá de ser um reforço a sério e não alguém que venha só por vir”, sublinha. 

O Benfica está há pelo menos dois meses em conversações com o Boavista por Pedro Malheiro, defesa direito de 22 anos, mas ainda não chegou a acordo com os axadrezados. Quem Álvaro Magalhães queria para esse lugar era o espanhol Víctor Gómez, do Sp. Braga, que na sua opinião “é de longe o melhor lateral direito a jogar em Portugal” e, como tal, “pegaria de estaca no Benfica”. No entanto, tem a certeza de que “o Sp. Braga não irá aceitar negociar com o Benfica, pois é um concorrente direto na luta pelo título”.

Já no lado esquerdo da defesa, Álvaro entende que não são precisos reforços. “Obviamente que quem os treina é que sabe, mas no plantel há dois futebolistas que jogam nessa posição, Jurásek e Bernat, que teoricamente seriam duas boas opções”, diz, acrescentando: “Tem jogado o Morato, que é um central, e vai safando-se nesse lugar, mas não é a mesma coisa. Estou convencido de que se fosse dado tempo de jogo a Jurásek ou a Bernat, possivelmente um deles iria afirmar-se.” O treinador de 62 anos considera que, “caso os responsáveis do Benfica já tenham chegado à conclusão de que ambos não servem, mais vale tentar vendê-los  do que estarem no plantel sem serem utilizados”.

No ataque, Arthur Cabral parece ter a continuidade assegurada em janeiro, de acordo com o treinador Roger Schmidt, apesar de ter sido noticiado o interesse do Marselha. “Foi um jogador decisivo ao garantir a continuidade na Liga Europa, mas também tem tido pouco tempo de jogo e, se saísse, o Benfica teria de encontrar outro ponta-de-lança para se juntar a Tengstedt e Petar Musa”, no entender do antigo campeão nacional pelo Benfica, como jogador e treinador-adjunto.

Nos últimos anos, o Benfica muito raramente tem feito incursões no mercado nacional nas contratações, ao contrário do que tem sucedido com Sporting e FC Porto. Álvaro Magalhães, com exceção do exemplo de Víctor Gómez, não vê jogadores com qualidade e mentalidade para singrarem no imediato, pelo menos nas posições que entende deverem ser reforçadas. 

“Em Portugal existem bons jogadores e o melhor exemplo é o Famalicão, que tem sempre opções de boa qualidade, mas depois é preciso perceber quem tem capacidade para aguentar a pressão de atuar por um clube grande, algo que não é nada fácil, sendo essencial estudar muito bem o perfil mental e psicológico dos atletas e não ter apenas em atenção as questões técnicas e físicas. Sinceramente, não estou a ver jogadores que possam servir ao Benfica”, aponta.

No que toca a jogadores “proibidos” de sair neste mercado, Álvaro Magalhães destaca os nomes de João Neves (alvo do interesse do Manchester United) e de António Silva. “No primeiro caso, a sua partida podia ser compensada por Aursnes, mas, mesmo assim, seria preciso ir buscar alguém para o meio-campo, enquanto no caso de António Silva só passaria a haver dois centrais com qualidade, Otamendi e Morato, por isso seria imperioso ir buscar alguém para o centro da defesa”, argumenta.

Para já, está confirmada a saída de João Victor, defesa central que nunca se impôs na Luz e que vai reforçar o Vasco da Gama, do Brasil, a troco de seis milhões de euros.

São urgentes centrais no FC Porto

Romeu Silva, antigo médio portista, defende que “qualquer pessoa consegue perceber que o setor mais carenciado do plantel do FC Porto é a defesa, especialmente o centro, desde que Marcano se lesionou no início da temporada”. Na sua opinião, “é preciso um reforço para esse lugar e até seria melhor se chegassem dois jogadores”, mas reconhece que “o problema é a falta de plafond, atendendo às dificuldades financeiras do clube”. Gabriel Pereira, defesa-central de 23 anos do Gil Vicente (14 jogos e um golo em 2023/24), tem sido apontado como forte hipótese para o FC Porto.

Recorde-se que nesta altura, as opções dos dragões no centro da defesa resumem-se a Pepe, Fábio Cardoso e Zé Pedro. Isto porque David Carmo foi despromovido para a equipa B e  tão cedo não deverá entrar nas contas de Sérgio Conceição. Romeu Silva é um crítico do comportamento do central que no verão de 2022 chegou do Sporting de Braga a troco de 20 milhões de euros, naquela que continua a ser a transferência mais cara entre clubes portugueses. “Há ali qualquer coisa que não bate certo, não sei se será uma questão mental, mas a verdade é que ele nunca se conseguiu exibir no FC Porto como o fazia no anterior clube. Tem de se pôr fino e mudar de atitude, pois o Sérgio Conceição não pactua com certo tipo de comportamentos”, afirma, criticando ainda “alguns lances que nem a um infantil lembrariam, como por exemplo aquele penálti no jogo com o Estoril da Taça da Liga”.

Na opinião da velha glória do FC Porto, as duas laterais da defesa também precisam de ser reformuladas. “Sérgio Conceição tem conseguido verdadeiros milagres, promovendo a titularidade de alguns jogadores que vão dando o seu melhor e, por outro lado, tem feito algumas adaptações. Pepê, por exemplo, atuou muitas vezes como lateral direito e se é verdade que isso lhe permitiu ganhar mais agressividade, acabou por retirar-lhe profundidade ofensiva”, defendeu, lembrando que o brasileiro até “é mais útil numa posição mais avançada”.

Por outro lado, Romeu Silva entende que o meio-campo continua órfão de Otávio, que no final de agosto rumou aos sauditas do Al-Nassr. “Falta um criativo como ele, exímio no último passe e, ainda por cima, aliava a isso uma excelente capacidade de recuperação de bola. A equipa tem dois excelentes médios, Alan Varela e Eustáquio, mas são essencialmente jogadores que servem de tampão aos centrais e, aliás, muito se deve a eles o facto de a equipa não sofrer ainda mais golos dos que os que já sofre”, considera.

O antigo internacional português não tem dúvidas sobre o jogador que o FC Porto não poderá de forma alguma perder em janeiro: “Diogo Costa, que é um magnífico guarda-redes e tem sido decisivo muitas vezes.” Romeu elege ainda “Pepê e Evanilson como os dois atletas mais importantes no ataque e que também fariam muita falta”, defendendo que Galeno “faz grandes jogos mas é muito irregular”.  

Recorde-se que Gabriel Veron e Fran Navarro são para já as saídas confirmadas no plantel do FC Porto neste mercado. O brasileiro foi emprestado ao Cruzeiro, depois de não ter somado um único minuto em 2023/24, enquanto o espanhol rumou aos gregos do Olympiacos, ambos por empréstimo.

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