Desporto
19 junho 2021 às 20h37

Porque há centenas de pombos-correio portugueses perdidos em Espanha?

Aves participaram numa corrida de velocidade entre o Algarve e o Porto há uma semana e terão ficado desorientadas devido a uma tempestade que não foi prevista. Polícia-criador de Vigo deu o alerta. Federação Portuguesa de Columbofilia resgatou este domingo 166 aves.

A Federação Portuguesa de Columbofilia resgatou este domingo 166 pombos-correio perdidos em Espanha. As aves de criadores dos distritos de Aveiro, Braga, Coimbra, Faro, Lisboa, Porto e Viana do Castelo foram separados, alimentados e abeberados e serão agora entregues às associações distritais que os farão chegar aos seus proprietários.

Continuam a ser localizados pombos-correio na zona da Galiza e a federação admite que "ainda há centenas de aves à deriva e outras que diariamente têm vindo a regressar às respetivas casas".

Cerca de três mil das 10 mil aves que participaram numa corrida de velocidade entre o Algarve e o Porto, no último fim de semana, não voltaram a casa. Terão ficado desorientadas e desviaram-se da rota devido ao forte temporal que atingiu a costa atlântica da Península Ibérica nesses dias.

Muitos desses pombos, marcados com um anel colorido em cada pata, estão a ser resgatados na Galiza e nas Astúrias... a mais de 500 Km de distância do ponto de partida. "Temos um meteorologista que trabalha com a federação e faz as previsões do tempo - ainda este sábado foi adiada uma prova para segunda-feira por não haver condições para soltar. No fim de semana passado houve algo de anormal e não detetável no radar e o temporal desorientou-os. Muitos devem ter entrado pelo mar dentro e tiveram dificuldades em sair. Muitos foram parar às Berlengas e outros perderam-se algures ali no Alentejo e acabaram por ir parar à Galiza", explicou ao DN o presidente da Federação Portuguesa de Columbofilia.

Segundo José Luiz Jacinto, em todas as competições de pombo-correio costuma haver perdas e atrasos de dois ou três dias. Trata-se de competidores de elite que podem viajar até mais de 50 quilómetros por hora. E por isso mesmo a federação tem um serviço de recuperação de pombos, em território nacional e no estrangeiro: "O pombo é uma ave protegida, tem um microchip e nós sabemos onde ele vai dar. Recuperamos e entregamos ao dono."

A maioria dos desaparecidos são da zona do Porto e de Braga. Alguns deles são umas verdadeiras estrelas de competição. Como faltam apenas duas ou três provas para acabar os campeonatos, nesta fase, os criadores utilizam os melhores exemplares para a ganhar e por isso "é natural que haja algumas estrelas entre os perdidos".

Segundo o jornal El País os primeiros dois pombos perdidos chegaram a casa de Enrique García, um polícia e criador com 120 aves de Vigo. Cada vez que voltava a casa do trabalho e ia dar treino aos seus pombos havia mais aves a sobrevoar o seu pombal. Estranhou, mas só quando dois deles resolveram pousar conseguiu verificar que tinham o distintivo de Portugal.

Estavam com fome e exaustos e seguiam os pombos do polícia em busca de alimento e abrigo. García contactou então a Federação Portuguesa da Colombofilia, que tratou do regresso das duas aves a casa, na zona do Porto. Mas os pombos não pararam de chegar. Na quinta-feira tinha nove localizados, "cada um de um criador diferente".

Divulgou a notícia e desde então o telefone não tem parado de tocar com notícias dos pombos-correios perdidos, desde a Galiza às Astúrias. Mais de cinquenta apareceram nos concelhos galegos de Mos, Mondariz, Oia e Santiago, alguns da costa de Lugo e mesmo nas Astúrias. "Aquele que chegou a Ourense não vai sobreviver porque deve ter sofrido um golpe", lamentou o columbófilo espanhol.

Nesta altura, o cansaço impede que voem e é fácil capturá-los. Basta dar-lhes água e milho, uma vez que estão habituados ao trato humano e não vêm no homem um inimigo.

Estas aves são verdadeiros atletas dos céus. Distinguem-se pelos seus anéis: o primeiro com uma inscrição que atesta a sua data de nascimento e a sua origem portuguesa, e o segundo com um microchip de identificação que nas competições desportivas é utilizado para registar os tempos de descolagem e chegada ao destino.

Em Portugal, a columbofilia é considerado a segunda modalidade nacional em número de adeptos e a primeira que mais cresce, segundo o presidente José Luiz Jacinto. Há cerca de dois milhões de pombos cadastrados e cerca de nove mil columbófilos registados. E todas as semanas há 50 camiões a lançar pombos.

Os derbis portugueses são eventos internacionais com milhares de participantes em que o simples processo de inscrição de um pombo pode custar até 300 euros. Realizam-se leilões e existem sites especializados em que os lances de animais com linhagem podem atingir os 3000 ou 4000 euros. Embora este preço pareça pequeno quando comparado com as vendas registadas em outros países europeus, como Holanda e Bélgica.

Em 2020, a pomba belga New Kim, de dois anos e meio com um longo recorde de vitórias em corridas de média e longa distância, tornou-se o exemplar mais caro do mundo, vendido por 1,6 milhões de euros a um apreciador chinês. O compatriota Armando, um pombo para a criação de novas aves desportivas, tinha sido adquirido em 2019, por 1,25 milhões.