As paredes da nova galeria de arte em Oeiras estão já com os quadros de Yanbei expostos - só falta colocar as molduras - e o pintor chinês não esconde o entusiasmo em voltar a mostrar a sua arte ao público português. “Os desenhos que eu faço agora são completamente diferentes dos desenhos que fazia no começo”, explica o artista, que se expressa em chinês, mas conta com a ajuda do filho mais velho, Jinmo, para traduzir. .A viver em Portugal desde 2014, com a mulher, Haiqing Wang, e dois filhos agora adolescentes (o mais novo chama-se Tianmo), Yanbei confessa ter hoje “uma forma diferente de pensar” e que isso também se reflete nas suas pinturas, pois as influências europeias vão-se somando às orientais. E esta exposição, intitulada Movimento Perpétuo, que abre dia 24 e ficará patente um mês, já não é a primeira em Portugal. Aliás, o DN fez notícia da exposição que o artista fez em 2018 no Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa..A exposição Movimento Perpétuo tem como comissário Luís Urbano Afonso, que se junta à conversa, contando que foi exatamente no âmbito dessa mostra de há seis anos que entrou em contacto com Yanbei: “Conheci Yanbei em 2018, quando fez a exposição no Centro Científico e Cultural de Macau. Na altura, a pessoa que dirigia o CCCM, na Junqueira, falou-me do artista e tive curiosidade. Refiro-me a Luís Filipe Barreto, colega na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Depois fui desenvolvendo a relação com Yanbei, conversando com ele e estudando a sua arte.” No texto que assina no catálogo da exposição, Luís Urbano Afonso explica que: “Yanbei conhece a fundo a essência da pintura. Fruto da sua formação e da sua vasta experiência artística, domina todas as técnicas e todos os recursos da caligrafia e da pintura chinesa tradicionais. Os diferentes tipos de traço, os movimentos do braço e do pincel, o corpo e as tonalidades da tinta-da-china, as nuances das manchas de cor, as especificidades do suporte, o modo como as fibras do papel absorvem, transformam e espalham as cores aquosas, tudo isso lhe é familiar. Partindo desta sólida base, Yanbei explora tudo o que a pintura pode oferecer enquanto pintura, enquanto medium, num processo evolutivo de autoconhecimento como artista e como pessoa. Uma e outra vez experimenta, combina, modifica, sobrepõe, retira, acrescenta, contrapõe, concilia, renega. E depois recomeça tudo de novo. Sabe que as possibilidades são infinitas, que não há lugar para repetições.”.PAULO SPRANGER/Global Imagens.Yanbei é o nome artístico de Guohui Zhang, nascido em 1963 em Pequim. Na China, foi professor de Artes e jornalista, além de pintor profissional. E nos tempos em que a economia chinesa crescia 10% ao ano foi empresário nas áreas da publicidade e da arte ambiental, mas sem nunca deixar a pintura, que considera a sua “grande paixão”. .Inicialmente, quando pensou numa vida no Ocidente, o plano era emigrar para o Canadá, mas sentiu dificuldades e Portugal acabou por ser o destino da família, por conselho de amigos. Quando as leis de imigração canadianas mudaram, Yanbei, a mulher e os filhos estavam instalados e já nem pensaram em atravessar o Atlântico. “Gostei logo de Portugal. Do que vi. E pensei: nada mau”, contou-me há quatro anos, em plena pandemia de covid-19, o artista, numa reportagem em que explicava como tinha sido impelido a criar duas obras muito especiais: O covid-19 no ano Geng-zi, uma referência ao ciclo sexagenário chinês, e De onde este vírus veio? E qual é o destino dos seres humanos?. .PAULO SPRANGER/Global Imagens.Esta nova exposição está aberta ao público numa galeria criada pelo próprio artista, que a batizou de Aomo, que em chinês se pronuncia “AoeMiao”, que vem de um poema clássico chinês e significa “todas as artes, técnicas e métodos são essenciais e maravilhosos, eliminando as barreiras para alcançar o âmago do coração e da alma”. Yanbei faz na sua arte um apelo a um ambiente tolerante e cooperativo que facilite a comunicação entre diferentes criadores artísticos..São 46 obras, de estilo abstrato, e refletem a visão que o artista tem desenvolvido do mundo nos últimos 10 anos. Em relação a anteriores exposições, a outros trabalhos, “mudei o próprio ato de pintar, o movimento”, explica, traduzido de novo pelo filho mais velho. O que é curioso é, tal como outros artistas que optaram pela pintura abstrata, Yanbei ser também, entre outras coisas, um excelente paisagista, como observei em algumas aguarelas que me mostrou de paisagens portuguesas, feitas à medida que vai descobrindo o país, ele que vive em Cascais..Na vernissage de sexta-feira, Yanbei conta ter o amigo Ai Weiwei, o famoso artista chinês a viver em Montemor-o-Novo. Aliás, estiveram há dias juntos quando Weiwei inaugurou a exposição Paradigm na Galeria São Roque, em Lisboa..A Aomo, primeira galeria criada por um artista chinês em Portugal, pretende ser uma ponte entre culturas e em julho tem prevista uma exposição dedicada aos olhares dos artistas chineses sobre Portugal.