Wes Anderson e os aliens não se dão bem

Asteroid City pode ser apenas um percalço na carreira brilhante de Wes Anderson, mas em Cannes há quem sinta que a sua estética está a esgotar-se num aborrecido efeito de repetição. Passou em competição com más reações.

A qualidade dos textos, os movimentos de câmara milimétricos, o estilo cromático, o rigor da geometria da luz, etc - tudo está lá. Mas desta feita, talvez pela primeira vez, o método Wes Anderson entra numa asfixia que produz um efeito ora de repetição e exaustão, ora de vazio. Asteroid City, que é sobre um grupo de atores numa produção teatral para uma emissão televisiva, é todo um excesso evitável. Excesso sobretudo de atores "convidados" (de Tom Hanks, Scarlett Johansson, Willem Dafoe a Margot Robbie e Steve Carrel, passando pelos habituais Jason Schwartzmann, Edward Norton, Tilda Swinton etc), todos a exibir a vaidade de estarem num suposto "objeto de prestígio". A história dentro da história leva-nos às peripécias de uma cidade no deserto onde entre visitas para observar fenómenos de astronomia surge um avistamento de um disco voador com um extraterrestre.

O humor de Wes Anderson e Roman Coppola (co-autor da história) dilui-se devido a um ritmo empenado e onde os timings parecem sempre falhados. Quase como se todos os truques na manga de comédia tivessem sido usados em anteriores obras, chegando a ser embaraçoso a forma como os requintes do imaginário de bilhete postal da América vintage dos anos 1950 estão tão desamparados. Em Cannes, o filme foi recebido com repúdio pela imprensa na sessão à qual marquei presença e é notório que o seu estado de graça é cada vez mais de ... desgraça. Curiosamente, na conferência de imprensa, Wes contou que as regras da covid durante a rodagem ajudaram a unir a sua "família" de atores e técnicos.

Recorde de acreditados no Mercado

Pelo Mercado, continuam a ser insistentes os rumores de que prosseguem negócios com vendedores russos em reuniões secretas. Rumores que já motivaram queixas dos ucranianos. De recordar que o Festival tem banido a inscrição de companhias russas neste Marché... Ao mesmo tempo, foram registados 13.500 inscrições, números recordes e que obrigaram a que a imprensa perdesse prioridade na entrada do Palais. A indústria a partir de agora entra primeiro e tem direito a bilhetes para as sessões de gala.

Mas numa altura em que a vila do mercado abranda o ritmo, chegam também notícias de que Hollywood vai cada vez mais apostar na Europa, sobretudo para contornar os efeitos da greve dos argumentistas dentro de portas. Podem ser boas novas para Portugal, que supostamente estará a ter um incremento de vontade de produtoras estrangeiras em apostar nas nossas "locations", isto se o cash rebate e a burocracia não travarem esses ímpetos.

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