A adolescente que se transforma num gato

<em>Os Gatos Também Choram</em> é a nova animação da Netflix, em estreia nesta sexta-feira. Um conto japonês sobre o primeiro amor, com um toque de magia que cruza as vidas dos gatos e dos humanos.
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Em tempos de máscaras incómodas quase nos esquecemos de que estas também podem ser portais de passagem para "o outro lado" da realidade, ou da imaginação. No caso do anime Os Gatos Também Choram, um original Netflix que se junta ao catálogo da plataforma agora recheada de animações do Studio Ghibli, o segredo está numa máscara de gato: quando colocada no rosto de uma adolescente, esta transforma-se em felina e salta de telhado em telhado até à casa do rapaz da sua turma por quem está apaixonada. Ele abre-lhe a janela, faz-lhe festinhas, dá-lhe um nome e uma taça de comida, fala-lhe das preocupações e não desconfia que por detrás dos olhos de gato das botas com pêlo branquinho sedoso está a rapariga espalhafatosa que todos os dias o cumprimenta na escola de uma maneira que o embaraça perante os outros.

Ou seja: a vida é uma coisa, o mundo dos gatos é outra.

Mas e se de repente fossem um só? A não distinção dessa fronteira é o que vai causar problemas à protagonista, Miyo. A história desta jovem, acabamos por perceber, é mais complexa do que a paixoneta pelo colega. Ela quer tanto ser amada por alguém, que a máscara mágica (tal como a verde de Jim Carrey em The Mask, uma comparação simbólica inevitável) representa o único meio de, neste caso, conseguir despertar a atenção e o carinho dos outros. Em casa, não se sente à vontade com a madrasta, e no liceu o seu comportamento excêntrico não ajuda a fazer amigos. Converter-se de vez em gato pode ser a solução...

É aí que entra ao serviço a figura faustiana de um gato gordo, o vendedor das máscaras, a tentar seduzir Miyo para esse mundo oculto onde não existem apoquentações terrenas. Desta feita, não se vende a alma mas sim "esperança de vida". Basta um feitiço para sermos levados na aventura de uma realidade paralela, visualmente encantadora e povoada por gatos com postura de humanos: porque, de facto, já o foram.

Assinado por Tomotaka Shibayama e Junichi Satô (este último, realizador da série A Navegante da Lua) Os Gatos Também Choram é animação japonesa com aquele sabor a fantasia que baralha as regras do quotidiano. Um conto terno e universal sobre o primeiro amor e as dores de crescimento dos adolescentes, entre a simplicidade dos dias e a exuberância da fábula felina embutida no imaginário e cultura oriental.

As ilustres criaturas de garras e bigodes são, de resto, motivo recorrente na animação japonesa, desde o gato-autocarro de Totoro e o da feiticeira Kiki, ambas criações do mestre Miyazaki, ao filme a eles dedicado, O Reino dos Gatos (2002), de Hiroyuki Morita, com selo Ghibli. E, já agora, também o famoso gato preto de A Navegante da Lua.

*** Bom

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