"Há críticas que só aceitamos quando são feitas pelos nossos. Há verdades que só os mais próximos nos podem dizer. Eça de Queiroz conquistou na cultura portuguesa esse estatuto", começou por dizer o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco.
"É, mais do que qualquer outro, o escritor que nos descobre os vícios, o que nos denuncia, o que brinca, mesmo à distância do tempo, com os nosso defeitos coletivos", afirmou Aguiar-Branco.
Para o presidente das Assembleia da República, Eça de Queiroz foi sobretudo um reformista com uma capacidade única de olhar o país, através de uma "escrita elegante e culta e de uma deliciosa ironia".
Eça de Queiroz "foi um escritor, um grande escritor, mas foi muito mais do que um escritor. Foi, numa palavra, um reformista. E, naqueles tempos, reformista era insulto. Hoje, para uns tantos, não será muito diferente", declarou o presidente do parlamento.
No seu discurso, José Pedro Aguiar-Branco começou por salientar a atualidade de Eça de Queiroz, assinalando que fala "de elites fascinadas com o estrangeiro e tantas vezes desligadas das vivências nacionais, de burgueses citadinos deslumbrados com o materialismo, de gente simples em serras abandonadas pelos círculos do poder, de jovens decididos a revolucionar o mundo que caem na resignação e no cinismo".
"Fala-nos de burocracias que desesperam até os mais pacientes, e de políticos -- imaginem - que lidam mal com as farpas da imprensa. Fala-nos de tudo isto e nós revemos tantas vezes na sua prosa os traços do nosso país, diferente em muitas coisas e parecido em tantas outras. Atrás de uma escrita elegante e culta e de uma deliciosa ironia, está uma capacidade única de olhar o país. Única e desapaixonada", sustentou o antigo ministro social-democrata.
DN/Lusa