Tom Barman: "Os festivais mudaram muito. É tudo muito mais corporativo e limpo"
É verdade que passa agora muito tempo na sua casa em Portugal?
Sim, cada vez mais. Antes estava em Portugal cerca de dois meses por ano, mas agora passou cá uns oito e o resto estou na Bélgica.
O concerto aqui no Kalorama será diferente do apresentado no Coliseu dos Recreios no ano passado?
Sim, completamente diferente. Só temos uma hora para tocar aqui, enfim é um festival sabemos disso. Mas é okay. Só queremos que as pessoas fiquem felizes com o nosso concerto. Vamos fazê-lo de forma muito intuitiva sem pensar muito do alinhamento musical [os dEUS não divulgaram o seu setlist antes da atuação no Kalorama]. Vai ser um mix de canções dos nossos vários álbuns e não tanto centrado no último trabalho [How To Replace It]. Já fizemos cerca de 60 concertos para a digressão do novo álbum. Mas sou daquelas pessoas que gosta de diferenciar e sinto-me bem com isso.
E gostam de tocar em festivais? Têm mudado um pouco desde o início da vossa carreira, em 1991.
Já tinha estado no Kalorama no ano passado como espetador, mas em geral concordo, os festivais mudaram muito. É tudo muito mais corporativo e limpo. Mas são as bandas que criam o mood dos festivais com as suas atuações, mas tenho que dizer que às vezes mais parece que estamos num encontro de companhias de seguros [risos] mas não estou a dizer nada que não se tenha já dito. No meu país, a Bélgica, é talvez o local da Europa com mais festivais por quilómetro quadrado e começaram nos anos 1970, 1980. Em termos de festivais os belgas têm muita sorte há festivais de todo o género e alguns muito bons mas também mudaram.
E em relação ao último álbum, como foi a recepção do público durante a digressão?
Estamos muito orgulhosos com o último álbum, tem sido fantástico. E já estamos a trabalhar no novo, e parte tem sido escrito aqui em Portugal.
Carlos Pimentel
E vai ter alguma influência portuguesa?
Penso que sim. Claro, não será um álbum de fado [risos] mas sim terá alguma influência. Passo cá vários meses, como já disse, tenho amigos portugueses e de outras nacionalidades que também vivem cá. E com as muitas viagens que faço em digressão, começa a ter a sensação, cada vez mais, que Portugal é a minha casa.
Ainda em relação ao novo trabalho, acha que “conquistou” novos públicos para além da base de fãs que vos acompanha há muito?
Os festivais são bons locais para perceber isso. Mas não pensamos nisso, não vamos para estudio a pensar que temos de conquistar novos públicos. Já fazemos isto há algum tempo para percebemos que os gostostêm com altos e baixos, por isso a única coisa que controlamos é a qualidade da nossa música e o facto de nos dar um grande gozo fazer o que fazemos. Não podemos, nem devemos, tentar agradar a todos.
Entre o último trabalho, editado o ano passado, e o anterior passou uma década. O que aconteceu nesse periodo de tempo e porque demoraram tanto tempo a gravar?
É uma péssima ideia fazer uma pausa de 10 anos. Apesar de ser uma boa ideia ter vida pessoal e fazer outras coisas, eu fiz três álbuns com Taxi Wars, escrevi meu segundo filme. Ou seja é bom a nivel individual mas não é bom para um banda. Não vamos repetir isto, e vamos trabalhar mais depressa no futuro.
Mas foi algo propositado ou simplemente aconteceu?
Aconteceu, não planeamos este hiato. De um momento para o outro passaram seis anos, desde o último trabalho, depois passam oito…e como se levou dois anos a fazer este último, passaram dez anos. E nós fomos das bandas que tivemos alguma “sorte” com a pandemia, se se pode dizer tal coisa com tantas pessoas que morreram. Mas o fato de estar tudo tão silencioso ajudou-nos. Mas foi terrivel para muitos amigos músicos, com os Tool ou a banda belga Millionaire que lançaram o seu album uma semana antes do primeiro confinamento.