Tirem-me desta animação!

Não precisávamos de uma sequela de Boss Baby. Mas como o cinema é um negócio, o segundo filme de animação deste bebé com pose de CEO chega aos cinemas com a fórmula saturada.

Quando Boss Baby se apresentou ao mundo, em 2017, a piada pegou porque o protagonista dava ares do então presidente dos Estados Unidos: um bebé de fato e gravata, com a sobrancelha levantada, a fazer do cartaz do filme toda uma promessa de diversão com piscadela de olho adulta. Um detalhe tornava-o ainda mais apelativo: na versão original tinha a voz de Alec Baldwin, o ator que dá vida à caricatura de Donald Trump no Saturday Night Live. E a verdade é que essa primeira animação provou ser capaz de mandar nas bilheteiras, valendo também à DreamWorks uma nomeação para Óscar, que só se justificaria pela popularidade da premissa esperta. O filme em si não acrescentava muito ao modelo de entretenimento baseado em cenas de ação estafadas, mas, por outro lado, não menosprezava a importância de um gatilho emocional, no caso, um menino a lidar com o pânico da chegada de um novo irmão.

Quatro anos volvidos, eis que somos "presenteados" com Boss Baby: Negócios de Família, a sequela assinada pelo mesmo realizador, Tom McGrath, na qual o menino, Tim, já é um homem crescido, com duas filhas e sem contacto com o irmão mais novo, Ted, que se tornou um empresário (ou boss man?) demasiado ocupado com os meandros do poder, esquecido dos acontecimentos que os ligaram no primeiro filme. De novo, as semelhanças com o magnata Trump estão lá, mas já não há qualquer efeito cómico. Mesmo tendo Baldwin de novo no comando, a dar voz à personagem.

Quatro anos volvidos, eis que somos "presenteados" com Boss Baby: Negócios de Família, assinado pelo mesmo realizador, Tom McGrath.

Desta vez, a boss baby que veste fato e gravata e fala como gente grande é a filha bebé de Tim (igualdade de género, check), que arranja um plano para juntar o pai e o tio, fazendo-os voltar ao tamanho que tinham no primeiro filme, para se infiltrarem numa escola dirigida por um excêntrico e maléfico pedagogo, que quer levar a cabo uma revolução de bebés com vista ao fim do "mandato" de todos os pais à face da Terra... Já vimos este conceito de vilão demasiadas vezes.

Mas o problema maior de Boss Baby: Negócios de Família nem é o cliché narrativo. Estamos perante uma animação cuja hiperatividade, sempre à caça de trejeitos para distrair o espetador pequeno e graúdo - se houver adultos que aguentem a estopada -, esgota tudo o que há para ver no ecrã. É ação frenética atrás de ação frenética, caos açucarado e barulhento, com duas ou três cenas que tentam estabelecer ligação com alguma verdade essencial sobre isto de se crescer mantendo viva a chama da infância. Seja como for, nunca resulta, e acaba mesmo por causar exasperação, pelo modo como se leva adiante uma fórmula alegremente vazia e sem um pingo da escrita genuína que sustenta animações com mensagem familiar.

Não é que se estivesse à espera de mais do que uma recauchutagem do modelo original, que já de si não era brilhante, mas Boss Baby: Negócios de Família consegue ir mais longe no fermentar de um sentimento de frustração ao não ter nada para oferecer. Um único momento que fique na memória. Quer dizer, talvez daqui a umas semanas ainda nos lembremos de dois bebés a torcer os mamilos um ao outro. É este o nível de imaginação.

dnot@dn.pt

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