Chegou aos cinemas no início do ano e já trazia a aura de “clássico instantâneo de Natal”. Fez renascer esse grande ator que é Paul Giamatti, e pouco depois valeu um Óscar à sua atriz secundária, Da’Vine Joy Randolph. De que filme falamos? The Holdovers, pois claro. Entre as melhores estreias de 2024, esta comédia nostálgica de Alexander Payne, por cá chamada Os Excluídos, é seguramente a sugestão que se impõe nestes dias frios, em que apetece rachar o cinismo e procurar algum consolo na atmosfera de outras décadas. No caso, Payne foi até 1970 – mais especificamente, ao Natal de 1970 – e presenteou-nos com o espírito de uma era americana marcada pela Guerra do Vietname, evocando-a, antes de mais, através de uma estética granulosa de cinema e de uma banda sonora que é puro artesanato sentimental..Eis o que acontece: num remoto colégio americano, um professor casca-grossa (Giamatti) fica responsável por um grupo de alunos deixados pelas famílias ao cuidado da instituição durante as férias. Um grupo a certa altura reduzido a um único adolescente, que passará do confronto direto com o professor a uma amizade progressiva, tendo na cozinheira da escola (Da’Vine, na pele de uma mulher de luto pelo filho), o terceiro elemento da “pequena família” formada pelas circunstâncias... Com humor sarcástico, inteligência emocional e delicadeza dramática, Os Excluídos encontra-se agora em duas plataformas (SkyShowtime e Prime Video) e é a melhor das produções recentes em linguagem de quadra..Modo familiar.Se a ideia for sessões temáticas com a pequenada, as opções oscilam entre o musical e a animação. Do primeiro, destaca-se, por exemplo, Jingle Jangle: Um Natal Mágico (Netflix), fantasia ternurenta à volta de um fabricante de brinquedos, ou, de 1992, O Conto de Natal dos Marretas (Disney+), colorida versão Muppets da história dickensiana sobre o velho Scrooge, numa bela interpretação de Michael Caine. Já em matéria de desenhos animados, não resistimos ao Grinch (SkyShowtime e Netflix) dos estúdios Illumination, com uma certa voz rabugenta a cargo de Benedict Cumberbatch; Klaus (Netflix), lindíssima exploração da lenda do Pai Natal; O Estranho Mundo de Jack (Disney+), eterna fábula burtoniana; e Polar Express (Max e Netflix), do mago dos efeitos visuais Robert Zemeckis, estreada há exatamente 20 anos..Cabaz para os adultos.Os mais crescidos, e com disposição para maratona, terão horas felizes pela frente se experimentarem Black Doves (Netflix), série com uma excelente Keira Knightley, e um tremendo Ben Wishaw, que se passa em plena época de Natal, apresentando o submundo londrino como uma promessa de ação sangrenta, amores e amizades – não tem os diálogos nem o calibre de um Tarantino, mas arranha a superfície do seu modus operandi. Um estilo diferente, mas ainda assim não muito distante, da invernosa última temporada de True Detective (Max), a série de antologia que conta nesses seis episódios com Jodie Foster à frente de um caso de “mistério gelado” no Alasca, onde a noite polar torna o cenário natalício mais arrepiante do que acolhedor..A proposta de riso vem, por sua vez, de A Orquestra (Filmin e RTP Play), uma brilhante série dinamarquesa, de episódios curtos, que faz a anatomia tragicómica dos bastidores da Orquestra Sinfónica de Copenhaga, sem medo do politicamente incorreto – ao nono episódio, o Natal traduz-se em surpresas para uns e presentes envenenados para outros..Já aos adultos cinéfilos basta lembrar: na Prime Video há um clássico de sempre e para sempre, Do Céu Caiu Uma Estrela (1946), de Frank Capra, e à Filmin acabou de chegar um magnífico documentário, Made in England, “narrado” por Scorsese. Uma autêntica viagem nobre, íntima e cativante, pelos filmes da dupla Michael Powell e Emeric Pressburger..Pequenas pérolas para aconchegar.Para quem aprecia o formato curto, no Disney+ há uma proeza de 20 minutos, assinada por David Lowery e produzida por Alfonso Cuarón, sobre a aventura nova-iorquina de uma coruja – intitula-se Uma História (Quase) de Natal. No domínio das pequenas obras-primas intemporais do desenho animado, chama-se ainda a atenção para A Charlie Brown Christmas (Apple TV+) e The Snowman (Filmin); este último um poema visual, suave e enternecedor, que permanece um título de culto da televisão britânica. E, acabado de sair do forno, Os Simpsons: Um Natal em Hipnose (Disney+) garante a diversão mais livre e absurda. Que é como quem diz: a Springfield, uma cidade vítima das “catástrofes climáticas, fascismos e filmes autofinanciados pela JLo”, chega o mentalista Derren Brown, que tenta resolver a lacuna do espírito natalício por meio de hipnose. Efeitos secundários imediatos? Homer Simpson convence-se de que é o Pai Natal...
Chegou aos cinemas no início do ano e já trazia a aura de “clássico instantâneo de Natal”. Fez renascer esse grande ator que é Paul Giamatti, e pouco depois valeu um Óscar à sua atriz secundária, Da’Vine Joy Randolph. De que filme falamos? The Holdovers, pois claro. Entre as melhores estreias de 2024, esta comédia nostálgica de Alexander Payne, por cá chamada Os Excluídos, é seguramente a sugestão que se impõe nestes dias frios, em que apetece rachar o cinismo e procurar algum consolo na atmosfera de outras décadas. No caso, Payne foi até 1970 – mais especificamente, ao Natal de 1970 – e presenteou-nos com o espírito de uma era americana marcada pela Guerra do Vietname, evocando-a, antes de mais, através de uma estética granulosa de cinema e de uma banda sonora que é puro artesanato sentimental..Eis o que acontece: num remoto colégio americano, um professor casca-grossa (Giamatti) fica responsável por um grupo de alunos deixados pelas famílias ao cuidado da instituição durante as férias. Um grupo a certa altura reduzido a um único adolescente, que passará do confronto direto com o professor a uma amizade progressiva, tendo na cozinheira da escola (Da’Vine, na pele de uma mulher de luto pelo filho), o terceiro elemento da “pequena família” formada pelas circunstâncias... Com humor sarcástico, inteligência emocional e delicadeza dramática, Os Excluídos encontra-se agora em duas plataformas (SkyShowtime e Prime Video) e é a melhor das produções recentes em linguagem de quadra..Modo familiar.Se a ideia for sessões temáticas com a pequenada, as opções oscilam entre o musical e a animação. Do primeiro, destaca-se, por exemplo, Jingle Jangle: Um Natal Mágico (Netflix), fantasia ternurenta à volta de um fabricante de brinquedos, ou, de 1992, O Conto de Natal dos Marretas (Disney+), colorida versão Muppets da história dickensiana sobre o velho Scrooge, numa bela interpretação de Michael Caine. Já em matéria de desenhos animados, não resistimos ao Grinch (SkyShowtime e Netflix) dos estúdios Illumination, com uma certa voz rabugenta a cargo de Benedict Cumberbatch; Klaus (Netflix), lindíssima exploração da lenda do Pai Natal; O Estranho Mundo de Jack (Disney+), eterna fábula burtoniana; e Polar Express (Max e Netflix), do mago dos efeitos visuais Robert Zemeckis, estreada há exatamente 20 anos..Cabaz para os adultos.Os mais crescidos, e com disposição para maratona, terão horas felizes pela frente se experimentarem Black Doves (Netflix), série com uma excelente Keira Knightley, e um tremendo Ben Wishaw, que se passa em plena época de Natal, apresentando o submundo londrino como uma promessa de ação sangrenta, amores e amizades – não tem os diálogos nem o calibre de um Tarantino, mas arranha a superfície do seu modus operandi. Um estilo diferente, mas ainda assim não muito distante, da invernosa última temporada de True Detective (Max), a série de antologia que conta nesses seis episódios com Jodie Foster à frente de um caso de “mistério gelado” no Alasca, onde a noite polar torna o cenário natalício mais arrepiante do que acolhedor..A proposta de riso vem, por sua vez, de A Orquestra (Filmin e RTP Play), uma brilhante série dinamarquesa, de episódios curtos, que faz a anatomia tragicómica dos bastidores da Orquestra Sinfónica de Copenhaga, sem medo do politicamente incorreto – ao nono episódio, o Natal traduz-se em surpresas para uns e presentes envenenados para outros..Já aos adultos cinéfilos basta lembrar: na Prime Video há um clássico de sempre e para sempre, Do Céu Caiu Uma Estrela (1946), de Frank Capra, e à Filmin acabou de chegar um magnífico documentário, Made in England, “narrado” por Scorsese. Uma autêntica viagem nobre, íntima e cativante, pelos filmes da dupla Michael Powell e Emeric Pressburger..Pequenas pérolas para aconchegar.Para quem aprecia o formato curto, no Disney+ há uma proeza de 20 minutos, assinada por David Lowery e produzida por Alfonso Cuarón, sobre a aventura nova-iorquina de uma coruja – intitula-se Uma História (Quase) de Natal. No domínio das pequenas obras-primas intemporais do desenho animado, chama-se ainda a atenção para A Charlie Brown Christmas (Apple TV+) e The Snowman (Filmin); este último um poema visual, suave e enternecedor, que permanece um título de culto da televisão britânica. E, acabado de sair do forno, Os Simpsons: Um Natal em Hipnose (Disney+) garante a diversão mais livre e absurda. Que é como quem diz: a Springfield, uma cidade vítima das “catástrofes climáticas, fascismos e filmes autofinanciados pela JLo”, chega o mentalista Derren Brown, que tenta resolver a lacuna do espírito natalício por meio de hipnose. Efeitos secundários imediatos? Homer Simpson convence-se de que é o Pai Natal...