Origens e influênciasNascido a 3 de janeiro de 1945 em Dallas, Texas, Stephen Stills teve uma infância marcada pela frequente mudança de residência devido a circunstâncias familiares. Cresceu em diversas regiões dos Estados Unidos – Texas, Kentucky, Louisiana, Flórida – e passou parte da adolescência na Costa Rica, Nicarágua e Panamá, tornando-se o espanhol na sua segunda língua. Se toda esta movimentação provocava uma grande instabilidade no rapaz, também lhe abriria os horizontes em termos sociais, culturais e, muito particularmente, musicais, como o próprio frequentemente recorda.Pelos 9 anos de idade foi-lhe diagnosticada uma acentuada surdez num dos ouvidos, a qual não o impediu de seguir uma extraordinária carreira musical, acabando mais tarde por livrá-lo da tropa. Devido à itinerância familiar, Stills frequentou uma diversidade de estabelecimentos de ensino, entre os quais um colégio católico – onde parece ter tido uma experiência gratificante como menino de coro – e uma academia militar que, reconhece, o obrigou a uma disciplina estruturante, inexistente em casa.O autor Peter Doggett (Crosby, Stills, Nash & Young, 2019) refere que aos 8 anos terá aprendido a tocar bateria, guitarra aos 10 e, por volta dos 12 anos, improvisava boogie-woogies no piano do colégio, certamente esquecido das aulas de piano clássico que detestara em criança. As primeiras experiências como músico foram na bateria, juntando-se a um grupo de rapazes mais velhos que, para poderem tocar com ele num bar, lhe pintavam um bigodinho na cara de modo a disfarçar a sua pequena estatura e aspeto infantil, altura em que também já se aventurava na guitarra elétrica..Buffalo Springfield .Com uma forte ligação aos blues e outros géneros tradicionais, começou a carreira a tocar e cantar música folk, como tantos da sua geração, na mítica Greenwich Village, Nova Iorque, onde ouviu músicos de todos os quadrantes, tudo absorvendo avidamente. Algum tempo depois rumou à Califórnia, na senda da nova via do folk-rock – nascido após o estrondoso impacto que os Beatles tinham provocado na América – que o seduzia particularmente.Fundou então os Buffalo Springfield, com mais quatro músicos, cujo single de maior sucesso foi um tema seu, For what it’s worth (1966), disco de ouro. A banda tinha qualidade e reconhecimento – chegou a ser considerada uma versão americana dos Beatles – mas em 1968, quando sai o seu terceiro e último álbum, já estava formalmente dissolvida, após uma digressão com os Beach Boys.Nesse mesmo ano Stills participa em álbuns de vários colegas, nomeadamente estrelas da música folk como a mundialmente famosa Joan Baez (Any day now) ou Judy Collins (Who knows where the time goes), mas também Al Cooper (Super Session), Cass Eliot, dos Mamas & Papas (Dream a little dream of me), Richie Havens, que abriria o Festival de Woodstock no ano seguinte (Richard P. Havens, 1983), The Monkees (Head), Jimi Hendrix (faixa My friend) e Joni Mitchell (Song to a Seagull), com quem voltaria a gravar nos anos seguintesCrosby, Stills & NashO imparável Stills rapidamente se aproxima de David Crosby, que admirava como membro dos Byrds, uma banda californiana de imenso sucesso que passava também por uma crise interna. Na verdade, Crosby acabaria por ser expulso dos Byrds mais ou menos no momento em que nascia o projeto, ainda indefinido, de fazer qualquer coisa juntamente com o talentoso ex-Springfield. A simbiose musical entre ambos pareciafuncionar, mas mais perfeita ficou quando, pouco depois, surge Graham Nash, membro fundador da muito bem-sucedida banda britânica The Hollies, onde já não se sentia bem.Nascia assim o designado supergrupo Crosby, Stills & Nash (CSN), que de um momento para o outro causou sensação no meio discográfico, com a sua distinta linguagem musical e som muito próprio, fruto das diversificadas influências e vivências musicais de cada um. No primeiro álbum – lançado em 1969 e logo premiado com um Grammy – Stills assegurou, além das habituais partes de voz e guitarra, também baixo, percussão e teclados, ganhando o estatuto de multi-instrumentista.Por esse motivo, tornava-se necessário alargar o elenco da banda para tocar ao vivo, pelo que convidaram Neil Young, também ex-Springfield, nascendo a variante Crosby, Stills, Nash & Young (CSNY). Mas se o trio funcionara na perfeição, já a entrada do quarto elemento viria a ter um forte impacto na vida do grupo. Por um lado alargava o leque de canções e de público – uma vez que Young é também um prolífico autor-cantor-instrumentista muito bem cotado – mas repetiam-se os problemas passados nos Buffalo Springfield, com as suas crises depressivas e desistências a meio de digressões e outros compromissos.Stephen Stills a solo e ManassasCansados de querelas, separaram-se após a saída do primeiro álbum em quarteto, Déjá vu (1970) – hoje considerado de platina X7 – e cada um se dedicou à sua própria carreira a solo, cada um publicando um LP entre 1970-71. Stills, que sempre tinha procurado aproximar-se de músicos que admirava, tinha conhecido e tocado ocasionalmente com os lendários Jimi Hendrix e Eric Clapton, com quem afirma ter aprendido imenso. Neste seu primeiro álbum – Stephen Stills (1970) – ambos os guitarristas participaram, bem como os amigos Mama Cass, Ringo Starr e outros. Deste disco sobressai a canção Love the one you’re with – um hino ao amor livre, em vigor na época – com a particularidade de incluir as vozes de Crosby e Nash, apesar das brigas.Na dúvida se os CSN/CSNY voltariam a existir ou não, Stills resolveu reunir outros músicos para um novo projeto – desta vez a sua própria banda, Manassas – efémero, é certo, mas deixando dois álbuns, dos quais o duplo Manassas (1972), disco de ouro.Sempre CSN/CSNYA partir dos anos 80, segundo David Roberts (Stephen Stills: Change Partners, 2016/2023), Stills participou em gravações e concertos de músicos tão diversos como as bandas Rolling Stones, Bee Gees, Greatful Dead e Jefferson Airplane, bem como Ringo Starr ou Jimmy Page (dos Led Zeppelin), Etta James (blues) ou Peter, Paul & Mary (folk), continuando a ter colaborações de amigos nos seus próprios discos, como por exemplo do famoso Art Garfunkel.Apesar dos altos e baixos ao longo do tempo, Stephen Stills está de acordo que teve uma carreira extraordinária, com discos e digressões com os colegas do trio ou quarteto, intermitentemente e intercalados com outros projetos. É hoje um músico retirado, embora continue a participar ocasionalmente em concertos para causas sociais ou homenagens. Deixa umas largas dezenas de canções, horas e horas de gravações que atestam bem a sua criatividade e percurso. Não põe de parte uma possível reunião CSNY mesmo sem Crosby, falecido em janeiro de 2023 (Ultimate Classic Rock, 31-10-2024, entrevista de Bryan Rolli), o que os seus admiradores não podem deixar de antecipar com grande expectativa, sobretudo tendo em conta as belas idades dos sobreviventes, todos no ativo: Young 79, Stills 80, Nash quase 83.Flautista, mestre em Musicologia Histórica