Sophia Estudante - 10 anos a descobrir cineastas
Ontem em Albufeira o cinema português júnior teve mais uma página de ouro. Os dez anos dos Prémios Sophia Estudante culminaram na atribuição dos troféus que premeiam as curtas-metragens feitas em contexto escolar. Uma festa levou ao auditório da cidade algarvia estudantes de cinema de todo o país numa atmosfera de grande emoção num evento promovido pela Academia Portuguesa de Cinema.
Mais do que a competição de um festival, os Sophia Estudante são já um momento anual relevante para as escolas de cinema e audiovisual. Oportunidade também para todos os cinéfilos verem de forma gratuita curtas-metragens de animação, experimentais, documentais e de ficção. Foram quatro dias que também incluíram exposições de cartazes, debates e masterclasses.
A Universidade Lusófona venceu o Sophia mais esperado, o de melhor filme de ficção para uma comédia de João Ferreira, O Incidente da Galinha, uma história de uma galinha de ovos de ouro. Esta curta-metragem tem a presença do conceituado ator Nuno Nolasco. Nessa competição, o júri terá ignorado O Sorteio, de Lucas Torres e Lourenço Barjona, uma exaltante distopia de um futuro onde a falta de sustentabilidade climática faz com que em Portugal se tomem medidas drásticas quanto ao excesso de população. Na competição dos melhores filmes de mestrado, a Lusófona também triunfou com Uma Mãe vai à Praia, de Pedro Hasrouny, um dos títulos com maior aceitação entre o público estudante. 52 Hz, de Diana Rodrigues, venceu o prémio de melhor animação. De recordar que João Gonzalez, em 2016 venceu o mesmo Sophia com Nestor, muito antes das andanças nos Óscares.
Íntimo e bem sentido é o vencedor do melhor documentário, Défilement, de Francisca Miranda, cineasta que narra as vivências da sua família através de filmagens de home-movies e fotografias de família. Mas o melhor filme visto nesta safra de obras feitas o ano passado terá sido Seres Vivos, de Margarida Fonseca, feita em contexto de filme de fim de curso na ArCo. Uma história sobre três irmãs que flutuam num mar mágico algures entre Cascais e o Guincho, na Poça. O filme venceu na categoria experimental. “É uma obra com ressonâncias biográficas e trabalha a memória, a relação com a natureza e a maneira como nos relacionamos com os entes mais queridos. Foi filmado num sítio lindo e só foi possível filmar quando a maré estava vazia, caso contrário seria perigoso, daí um dos temas ser sobre saber flutuar”, contou a realizadora momentos a seguir a ter recebido o prémio.
Para a direção da Academia, esta edição foi a mais bem sucedida de sempre: “para os alunos isto é muito importante, sobretudo aqui no Algarve, onde ficam todos juntos. E com os debates e os workshops recebem muita informação. Mas não são os únicos a aprender, nós também aprendemos com os filmes deles. Com este contacto com os estudantes, nós da Academia, os cineastas convidados e os atores, percebem o que eles querem, o que eles sugerem...É um incentivo para fazer mais e melhor. Para o ano aqui em Albufeira vamos fazer mais e melhor e talvez surja um novo prémio, para os trailers...é mais um passo”, revela o presidente Paulo Trancoso. Tony Costa, o diretor de fotografia que coordena os Sophia Estudante, fala da importância da masterclasse dos atores e criador de Rabo de Peixe, Augusto Fraga: “Ele falou dessa importância de se pensar a ficção televisiva como cinema, falou muito dessa ideia de se filmar com uma só câmara. É importante os alunos terem em mente que para televisão ou plataformas a abordagem não pode ser de encher chouriços para que possam surgir muitos episódios. É fundamental a intuição artística. O Augusto Fraga salientou que a primazia é filmar com qualidade e exigência”.
Curiosamente, na sua masterclasse, o açoriano Augusto Fraga confessou estar arrependido de não ter inicialmente acreditado na qualidade das empresas portuguesas de efeitos visuais, tendo inclusive referido que a imposição do recurso nacional foi da Netflix. Outro dos arrependimentos do showrunner foi ter morto demasiadas personagens “Agora que vamos fazer mais uma temporada claro que alguns vão fazer falta, mas estou mesmo mais motivado para fazer esta nova temporada do que quando comecei a primeira...”, referiu numa sessão que quase esgotou o auditório. Os alunos das diversas escolas puderam também fazer perguntas a atores da série como Adriano Carvalho, José Condessa ou Helena Caldeira.
Outras das estrelas desta 10ª edição dos Sophia Estudante foi Ricardo Pereira. O ator apresentou a cerimónia final ao lado da colega Teresa Tavares e mostrou-se impressionado com a qualidade do cinema que viu: “saí daqui renovado! Renovado, esperançado e orgulhoso com todas estas novas ideias. Vi muitos filmes bons. Tenho muita esperança no futuro do cinema português. É super importante a Academia ter esta aposta nos jovens e agora, dez anos depois, tem ainda de ser aumentada e melhorada, sobretudo para dar melhores condições aos futuros cineastas”.