Em pleno inverno, dentro de um auditório, numa pequena vila do interior e com duração de um mês: apresentado assim, poucos seriam os que augurariam um futuro auspicioso ao festival Sons de Vez, especialmente há vinte anos, quando surgiu, numa altura em que "a geografia, tanto física como mental, era outra", como sublinha Nuno Soares, o organizador do festival, já então diretor da Casa das Artes de Arcos de Valdevez. O tempo, no entanto, encarregou-se de provar o contrário e "o primeiro festival do ano", como foi batizado pelos media e adotado pelo público, tornou-se num marco do calendário da música ao vivo em Portugal, provando que a descentralização cultural é possível, mesmo com propostas por vezes consideradas arrojadas, e, com isso, criar novos públicos. "Parecia ter tudo contra, mas provou-se exatamente o contrário", realça Nuno, que, à época, tinha apenas dois objetivos: atrair público de fora ao concelho e, ao mesmo tempo, apresentar aos residentes alguns artistas que, de outra forma, nunca ali atuariam..Metas mais que atingidas, num festival que também acabou por mudar o paradigma da política cultural no interior, pois sempre tiveram por parte da Câmara Municipal, proprietária do espaço e principal financiadora do festival, "total liberdade" para programarem como bem entendiam, com propostas que vão do heavy-metal ao fado. Os números falam por si, em 20 anos de festival já passaram pela Casa das Artes quase 300 artistas e mais de 20 mil pessoas, apesar da lotação do espaço ser de apenas de 232 lugares. "Orgulho-me de ter ajudado a criar uma marca, Arcos de Valdevez, que hoje é conhecida em todo o país por causa do turismo de natureza, da gastronomia e do património, mas se calhar também um bocadinho devido a este festival. Há pessoas que fazem dezenas ou centenas de quilómetros só para virem aos concertos e depois ficam cá durante o resto do fim de semana", afirma o programador, para quem "o único momento mau" destas duas décadas foi mesmo "o cancelamento da edição do ano passado, devido à pandemia"..E isso torna esta edição ainda mais especial, em que a data muito simbólica dos 20 anos de festival "ganha a força adicional do regresso possível à normalidade", depois de um ano de paragem forçada para todos. "Permite um regresso em força porque toda a gente está com muita vontade de voltar, especialmente os artistas. E este é o local perfeito para isso, pois trata-se de um festival acolhedor, numa sala pequena, onde dá para limar algumas arestas, depois de tanto tempo de paragem", defende Nuno Soares, dando o exemplo dos Moonspell, que escolheram o Sons de Vez para iniciarem a The Greater Tour, a digressão internacional comemorativa do 30.º aniversário da banda. Como já é da tradição o cartaz é "o mais eclético possível", mas, como assinala Nuno, também "sempre feito de forma muito emocional". No fim de semana seguinte aos Moonspell (também eles um regresso, pois já aqui tinham atuado em 2007), a 12, chegam os Club Makumba, a nova banda de Tó Trips, também ele presença habitual no festival. "Temos uma ligação muito forte desde 2006, quando os Dead Combo cá vieram pela primeira vez e foi também aqui que deram um dos seus últimos concertos, em 2020", recorda Nuno. O festival prolonga-se depois até 26 de março (ver caixa), sempre ao sábado, com a presença de propostas tão diversas como Dino D"Santiago,.Kiko & The Blues Refugees, Fingertips, The Happy Mess, Tarantula ou PAUS. Além dos concertos, este ano haverá ainda uma exposição fotográfica, no Foyer do Auditório da Casa das Artes, com alguns dos momentos de referência destes 20 anos do festival, que Nuno descreve como uma espécie de "enciclopédia visual" da melhor música nacional; E em parceria com o Cineclube de Arcos de Valdevez serão exibidos quatro documentários nacionais sobre música e músicos portugueses. Em andamento está também outro projeto, a produção de uma compilação, em vinil, com temas dos artistas e das bandas que nestes vinte anos passaram pelo Sons de Vez..Casa das Artes de Arcos de Valdevez, de 5 fevereiro a 26 de março, 23h.Moonspell, 5 de Fevereiro, 15€ The Twist Connection + Club Makumba, 12 de Fevereiro, 6€ Dino D"Santiago, 19 de Fevereiro, 15€ Kiko & The Blues Refugees feat. BJ Cole + Rui Fernandes 4TT, 26 de Fevereiro, 6€ Noble + Fingertips, 05 de Março, 8€ Plastica + The Happy Mess, 12 de Março, 6€ Tarantula + Nó Cego, 19 de Março, 6€ PAUS, 26 de Março, 6€.dnot@dn.pt